Smartphones no cinema, uma oportunidade perdida?
Em 2015, um estudo conduzido pelo Pew Research Center concluiu que dois em cada três adultos (norte-americanos) são donos de um smartphone. Se os telefonistas do Pew tivessem ligado exclusivamente para números começados por 555 as respostas de Hollywood seriam muito diferentes.
No cinema, como na televisão, são raros os casos em que esta dependência tecnológica é representada e os que o fazem colocam essa representação ao centro, construindo todo o argumento em seu torno. A maior parte, no entanto, prefere representar uma comunicação ancorada no século XX.
A razão é bipartida. Por um lado, não há nada de visualmente interessante num ecrã de um smartphone. É um desperdício de tela no cinema e, na televisão, é uma matrioska deslavada de ecrã dentro de ecrã. Séries como Sherlock ou House of Cards resolveram esse problema com a integração elegante de smartphones, ao colocarem o texto no ecrã. Mas esta estética nem sempre resulta.
O segundo problema é narrativo. Interações através de texto sempre foram algo a evitar no cinema, da alergia de Buster Keaton a legendas às tentativas centenárias de integrar a leitura de cartas no cinema. Em 2016, mais do que nos anos 30, 60 ou 90, esse problema é agravado. Agora, enquanto a tinta de um “Excelentíssimo Senhor” secaria, são trocadas centenas de mensagens pela internet.
Por enquanto, reina ainda um contrato entre cineasta e espectador, em que todos aceitam implicitamente que a realidade representada existe num passado recente ou numa realidade ligeiramente alternativa. Uma realidade com menos smartphones, que são menos usados. Se o Frodo se perdesse em 2016, poucos iriam sugerir que ele usasse o Google Maps para chegar a Mordor.
Ao longo destes 8 minutos ponderei estas questões, referidas anteriormente, e analisei uma cena que, de forma exímia, quebra este contrato, fiz três piadas, uma pergunta e acabei a implorar descaradamente por contribuições financeiras num site de crowdfunding.