“Sobreviventes” estreia hoje em mais de 20 salas de cinema. Filme junta José Eduardo Agualusa e José Barahona na escrita
A co-produção entre Portugal e o Brasil, que juntou José Eduardo Agualusa e José Barahona na escrita de um argumento que desafia a olhar a escravatura, será exibida em mais de 20 salas de todo o país.
Investindo na sua missão na promoção da pluralidade cultural e no compromisso em tornar o cinema acessível ao grande público, a Zero em Comportamento, em parceria com a David & Golias e a Refinaria Filmes, prepara-se para levar o mais recente filme de José Barahona a 15 cidades de norte a sul do país, já a partir do dia 3 de outubro.
“Sobreviventes” dá vida à história do naufrágio de um navio negreiro entre Angola e o Brasil em meados do século XIX, numa altura em que o tráfico de pessoas escravizadas apesar de ilícito em Portugal continuava a ser praticado, num argumento escrito em conjunto por José Barahona e pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa com a participação de Milton Nascimento na banda sonora.
Filmado a preto e branco, remetendo para o livro “Nação Crioula” de Agualusa e a personagem fictícia Fradique Mendes, criada por Eça de Queiroz, o filme que chega às salas de cinema a 3 de outubro retrata as tensões que se criam entre os sobreviventes, senhores e pessoas escravizadas, brancos e negros. Rodado em 2022 na costa portuguesa, a segunda longa-metragem de ficção do realizador conta com interpretações de Anabela Moreira, Zia Soares, Ângelo Torres e Miguel Damião e, ainda, com a participação de Milton Nascimento na banda sonora.
José Barahona completou os seus estudos em Cuba e em Nova York e tem trabalhado em cinema, tanto em Portugal como no Brasil. Entre outras obras, é o autor de “Nheengatu – A Língua da Amazónia”, que também aborda questões relacionadas com o colonialismo, e “Estive em Lisboa e lembrei de você”, ambas apresentadas em diversos festivais nacionais e internacionais. Neste seu mais recente filme, o realizador desafia os espetadores a entrarem numa viagem marcada pela luta pela sobrevivência e pelo poder, mas também pela inversão dos valores morais e sociais da época.
Por altura da sua estreia no Festival IndieLisboa, em 2023, Barahona partilhou com a imprensa que este é um filme que vem “levantar esse véu de uma coisa que nós aqui [em Portugal] costumamos varrer para debaixo do tapete; esse crime enorme que os portugueses cometeram que foi o tráfico de pessoas escravizadas e que continuou depois da independência do Brasil. (…) As comunidades negras, quer no Brasil quer em Portugal, estão a querer que todos nós olhemos para esse período da história de outra maneira”, sublinhou.
Luís Castro Mendes, acrescenta a esta ideia, num artigo escrito para o Diário de Notícias que “o filme de José Barahona (…) é, para além de um belo filme, ritmado pelo rumor das ondas do mar, uma obra que se inscreve, com plena oportunidade e sem sombra de oportunismo, no debate entre nós necessário sobre o colonialismo e a escravidão.”
Um filme que cruza a perspetiva colonial portuguesa com a dos angolanos, retirados à força de Angola e escravizados no Brasil, numa criação cinematográfica que questiona como encontrar uma forma de viver em harmonia face a um isolamento que se vai revelando entre as ondas que enchem as marés.
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