Sol da Caparica: Carlão pergunta pelo Entretenimento, Mariza traz o Melhor de si
A data d’O Sol da Caparica tem algo de engraçado. O festival coincide exatamente com os dias em que decorreu o festival de música Woodstock, nos Estados Unidos: 15 a 18 de agosto. Este ano seria a 50ª edição, mas o Woodstock – que nem se realizou em Woodstock – foi cancelado. O Sol da Caparica – que é mesmo na Caparica – já vai no segundo dia e recebe de novo mais de 20 mil pessoas para ver e ouvir Carlão (com quem a CCA falou), Mariza, Diogo Batáguas e muitos mais artistas e humoristas.
Pela primeira vez, o Sol da Caparica criou um espaço para a comédia. No segundo dia de festival, Diogo Batáguas foi quem mais encheu o anfiteatro ao ar livre. O humorista da Margem Sul falou sobre os processos que tem contra si em tribunal – nomeadamente o de David Carreira, que atuou no dia anterior no palco principal do Sol. O comediante acabou a sua tour “Quero lá saber” há uns meses e aproveitou para mostrar ao público algumas das melhores piadas desse espetáculo.
Quem vem pela música está à espera de ver e ouvir Luísa Sobral a abrir as festividades. Por detrás do palco, Luísa está pronta para começar por tocar “Nádia”, do novo álbum “Rosa”, que não será o único exibido. No fundo do palco há cinco faixas de pano com as imagens de um bolbo e onde o tempo faz germinar nada mais nada menos que uma rosa: é a capa do álbum que homenageia a filha, Rosa.
Luísa, que nos diz estar bem tanto na pele de compositora como na de intérprete das suas canções, encantou com doçura e emoção. Mostrou que uma rosa pode não ter espinhos e continuar a ser real. Canta e toca guitarra clássica e é acompanhada por cinco músicos, entre eles Sérgio Charrinho, no fliscorne; Gil Gonçalves, na tuba, e Ângelo Caldeira, na trompa. Miguel Rocha encarregou-se da guitarra elétrica, do cavaquinho e cantou com Luísa a música “Só um beijo”, substituindo desta vez Salvador Sobral, irmão de Luísa.
O alinhamento de Luísa incluiu também “Benjamim”, nome que teria dado ao filho se tivesse tido um menino; “Maria do Mar”, música que cantou na Final do Festival da Canção 2018 e que deixa transparecer a afinidade que tem para com os Açores; “Dois namorados”, uma história de amor verdadeira entre Maria e Armando que se conheceram em crianças e quase 70 anos depois se reencontraram. Do álbum “The Cherry on my Cake”, ouvimos uma divertida versão de “Engraxador” e “Xico”; do seu álbum homónimo, ouvimos a “Para ti” e tivemos direito a uma visita de “Cupido”. Quase no fim, “Blues do Gil”, um jazz que faz parte da escola de Luísa.
Luísa despede-se: “Que belo público!”. Luís Represas entra em palco: “Vocês não sabem o gozo que me dá estar aqui”. Naquela que diz ser a “melhor praia com o melhor público do mundo”, o artista toca “Feiticeira”, em português e espanhol. Enquanto atuava Luís, aparece o primeiro-ministro, António Costa. Depois de parar para algumas fotos com os portugueses, encontra um espacinho para assistir ao concerto com a mulher. Luís canta o poema de Florbela Espanca “Ser Poeta”, o público declama com ele “Perdidamente”. Depois, chega “A Hora do Lobo”, em que canta “Se estamos juntos não somos demais”.
Uma frase começa a fazer-se ouvir: “E salta Luís! E salta Luís! Allez, allez”. Entre músicas, Luís diz que o Sol da Caparica é um festival único no país, que junta a lusofonia e que “é extraordinário ver passar carrinhos bebé, neste sítio abençoado pelo mar.” Não foi a primeira vez que toca no Sol e nada diz que será a última.
Chega a hora de Carlão, que anuncia a sua chegada com: “Família! Como é, Caparica? Estamos bem?” Os Porbatuka, uma associação sem fins lucrativos de Almada, também subiu a palco para cantar “Viver Pra Sempre”, um “tema com uma vibração muito positiva”, conta Carlão à CCA. Acompanhado de dez crianças dos 9 aos 12 anos, que conheceu num concerto em Cacilhas, no ano passado, deu um espetáculo muito bom. Mas não saiu do palco sem um gosto especial. O Sol da Caparica cantou “Dialectos da Ternura” e ouviu o novo single, “Bandida”. Este novo single vem de uma mudança de paradigma: “Acho que estamos numa altura quase a voltar aos anos 60, em que os singles tinham muito mais preponderância. O que acontece comigo e com outros artistas, principalmente os de gerações mais novas, é lançar um álbum e no mês seguinte estarem a perguntar «Então e coisas novas?»”
Carlão conta-nos que a rapidez com que as coisas novas surgem, as pessoas não dedicam tanta atenção a um álbum inteiro. “Já percebi que é mais prático até ires largando músicas. Até porque consegues comunicar melhor. Num álbum, se for preciso, as pessoas não ouvem as músicas todas e depois «queimas» temas que até são porreiros – e se fossem singles se calhar davam atenção.”
E novo álbum? “Não sei, quer dizer… é muito lixado quando lanças um álbum e ele não dura três meses.” Carlão diz à CCA que sentiu que isso aconteceu com o álbum “Entretenimento?”, no entanto, diz que vai fazer mais um single ou dois. “Mas depois vou ter de fazer um álbum. Para mim é muito difícil não lançar álbuns.”, conta o artista, rindo-se.
Depois de algumas propostas para o regresso dos Da Weasel, soube-se que a banda vai regressar na próxima edição do NOS Alive. Aquele que é um dos vocalistas do grupo contou que esse festival foi o que mais se adequou à visão da banda.
Mas não só Carlão fica bem na fotografia (#demasia). Quem o acompanha ao microfone é Nuno Ribeiro, “estrela da companhia, o menino com a voz de ouro”, orgulha-se Carlão. Na música “Margem”, essa voz de ouro fez-se notar muito.
No Sol, antes da foto da praxe e da vénia de despedida com os Porbatuka, Carlão vai até ao público dar algum amor. Na música “Hardcore”, Carlão canta “Vamos partir a casa toda” e Mariza, que sobe agora a palco, concorda: “Depois do grande espetáculo do Carlão, de quem sou eternamente fã, nem sei o que vos vou cantar”, brinca Mariza.
A fadista faz-se acompanhar de José Manuel Neto na guitarra portuguesa, mais guitarras e um acordeão. Não se toca fado sem eles e é com esse instrumental que a fadista entra em palco, vestida de preto, divertida, a puxar pelo público. Um “M” gigante decora o fundo do palco, um fundo coberto das mesmas rosas que leva tatuadas no braço com que segura o microfone.
“É Mentira” entretém desde logo o público e convida todos a dançar. Os festivaleiros aceitaram o convite. Quando chega o momento da “Quem me dera”, os telemóveis do público saem todos do bolso para captar o momento. “O meu coração é vosso!”, grita Mariza.
“Rosa Branca” não é só cantada pela fadista. O público acompanha com a força de milhares de vozes. Depois de um encore, vem a “Chuva” e Mariza termina em grande com aquele que já é um clássico: “Ó gente da minha terra”, chamava a fadista, enquanto percorria o corredor entre o público, entre a gente.
Depois de Mariza, chega a vez de Seu Jorge: “Caparica, que beleza”, grita ao entrar em palco. Finalizada a atuação, os festivaleiros ficaram com muito funk, confetis e diversão.