‘Somersault’, dos Beach Fossils, é um hino ao sonho e à melancolia
O lirismo sai à rua com os Beach Fossils, que nos presenteiam com o seu novo LP, ‘Somersault’, um álbum já bastante aguardado pelo público, produzido por Bayonet Records. Regressam assim, quatro anos após terem lançado o inspirador ‘Clash the Truth’ em 2013.
Artistas norte-americanos, vindos de Brooklyn, conhecida pelo seu indie rock; são eles Dustin Payseur, Jack Smith e Tommy Davidson. ‘Somersault’, à semelhança de ‘Clash the Truth’, tem uma vertente bastante temperamental, atmosférica, que conta uma viagem anti-homérica pela vida.
Introduzem-nos a novas melodias; compõem novos sentimentos, entre a vulnerabilidade e a delicadeza; por fim, entrelaçam-nos na suave voz de Dustin. Permanecemos nesta linha ténue que separa o sonho e as verdadeiras nuances da vida. São estes pequenos pormenores que fazem toda a diferença, no sentir e no pensar, também a partir da música dos Beach Fossils.
Há uma comunhão binária entre a letras e as notas do álbum, que soam tão bem juntas. A música é bastante descontraída, jovial, a composição instrumental é também ela muito entusiasta e popular, típica do dream-pop . Já as letras de Payseur caiem sempre numa melancolia eterna, meio disfarçada. O sonho fica no ritmo, a esperança fica na letra, tudo se encaixa perfeitamente, como se a solidão fosse mais um grão de areia na praia.
O som da guitarra cintilante repete-se inúmeras vezes, transporta-nos para batalhas celestiais entre a vida e a vontade de viver, reflexo da transição sentimental e amadurecimento de Dustin. É também graças a este crescimento emocional que Payseur se encontra no auge da sua carreira, quer ao nível musical, quer nas letras.
Somersaut, 36 minutos de música, composto por 11 faixas, começa com “This Year” e acaba com “That’s All for Now”. Nada poderia ser mais lógico. ‘This Year’ acentua o típico melodramatismo com uma produção mais calorosa, explorando uma composição muito mais polida e clara que no álbum anterior, mais ruidoso e suavemente agressivo. Esta primeira canção é um hino à criatividade; mesmo que incitando a tristeza, continua a ter a uma brisa sonante.
“Be Nothing” é a penúltima música do álbum – e provavelmente uma das melhores. Deixa uma nostalgia idílica no ar; o som da guitarra leva-nos para um futuro esperançoso e para um passado imaginado. É um sopro para a fantasia, uma ponte para a criatividade e guarda uma sensação de ligeireza feliz que guardamos para o resto do dia.
Ouvir Beach Fossils é como estar num quarto, ainda como adolescente, a ouvir os dramatismos de uma cabeça desmotivada e do desejo flutuante de uma vida idílica. Lá fora chove, mas aqui dentro a música parece paisagem, flui e voa, transporta o ouvido e o pensamento para um mundo inexistente.
Há uma complexa fusão sentimental e intelectual quando a música é bem produzida; e, neste caso, percebe-se claramente que a fusão tem por origem um sentimento verdadeiro de expansão de uma mensagem, que vai muito além da letra e das notas da música, permanecendo nas entrelinhas do ouvido e da significância. Também a adição de novos instrumentos aumenta esta paleta sonora; a banda conseguiu, dessa forma, tecer novas melodias, que se ouvem e se sentem muito bem.
A música é uma linguagem que mostra aquilo que existe para além daquilo que vemos. Muitas coisas que escondemos, ou que não sabemos superar, é na arte (e, neste caso, na música em particular) que são reveladas, partilhadas com o intuito de um dia serem perceptíveis.
Beach Fossils conseguem reconfortar-nos, e viver num tempo que provavelmente já não existe. A nostalgia retorna, a melancolia permanece, e assim se despedem com “That’s All for Now”.