“Space Force” aponta às estrelas, mas não chega a descolar
Quando uma pessoa ouve falar de uma série que volta a reunir Greg Daniels e Steve Carell, depois da adaptação americana de The Office, é normal que fiquemos entusiasmados. Mais ainda quando Space Force adiciona a este duo o colosso John Malkovich como co-protagonista e quando começamos o primeiro episódio da série com o poder estelar de um elenco com nomes como Lisa Kudrow, Jane Lynch, Diedrich Bader, Noah Emmerich, Dan Bakkedahl e o recentemente falecido Fred Willard, muitos deles estandartes de algumas das melhores séries de comédia recentes. No entanto, as suas passagens são fugazes e um claro desperdício de talento, contribuindo quase apenas com um nome cativante para os créditos finais.
A premissa da série baseia-se na recente formação da Força Espacial dos EUA como a sexta organização independente das Forças Armadas do país, encabeçada pelo General Mark Naird (Carell). Space Force junta-se à opinião pública geral e posiciona-se com desdém relativamente à decisão política de criar esta organização, ridicularizando repetidamente os gastos absurdos da mesma e algumas decisões ou fraseamentos do Presidente — nunca directamente mencionado, mas fiel à realidade actual — e da própria equipa. Ao mesmo tempo, a série humaniza os trabalhadores honestos que tentam fazer o melhor que podem, envolvendo-os em pequenas micro-narrativas inócuas, que acabam por ser mais eficazes que a componente cómica ou satírica da série.
Não é bom sinal quando os momentos dignos de gargalhar são menos que o número de episódios da série. Fora os meltdowns do Dr. Adrian Mallory (Malkovich) ou a primeira frase da primeira mulher negra a pisar a Lua, poucas são as coisas que inspiram mais do que um leve sorriso. Adicionalmente, o programa é só uma sátira no que toca ao género, porque a execução fica bastante aquém de, por exemplo, um dos maiores exemplos da comédia política em tempos recentes, Veep. Space Force parece ter receio de realmente meter o dedo na ferida, com um argumento bastante comedido. As curtas reuniões de comités, referências a mensagens do Presidente ou da Primeira-Dama, ou a incompetência de alguns dos membros que vão aparecendo acabam por ser demasiado ridículas ou indiferentes para realmente causar uma impressão. Esses lamirés para a esfera política acabam por ser apenas um veículo para Steve Carell fazer o que faz melhor — reacções com expressões faciais fabulosas.
Aliás, é a personagem verdadeiramente afável de Naird que acaba por cativar, com o good guy de Hollywood a replicar os melhores traços do chefe Michael Scott para este papel. O elenco orbita à volta dele e são as suas interacções com os demais elementos que nos permitem ligar-nos ao que vai acontecendo. A química entre Carell e Malkovich é enternecedora, assim como a honestidade na relação de Mark com a sua esposa Maggie, representada por Lisa Kudrow.
No decurso de 10 episódios, o fio condutor é muito vago e nunca se percebe realmente em que direcção a história está a caminhar, perdendo a série mais tempo com desvios narrativos — como a pouco interessante visita à base da Força Espacial por uma magnata da tecnologia, personagem que não permite a Kaitlin Olson brilhar — do que com o desenvolvimento ou potenciação de um clímax narrativo (atabalhoadamente encafuado nos últimos dois episódios da temporada). Se a intenção é realmente demonstrar o caos das agências governamentais dos EUA, então isso passa ao lado pela falta de piada da série.
Space Force acaba por ser realmente uma oportunidade perdida. Custa a crer que o talento de todos os envolvidos não tenha resultado em algo maior que as suas partes. Pelo menos a aposta no talento dramático foi ganha, assim como os valores de produção dignos de um grande filme de Hollywood, que pelo menos tornam o aborrecimento e falta de foco em algo visualmente impressionante.