‘Spider-Man: Homecoming’, uma tentativa falhada de ‘Deadpool’
O grande franchise de super-heróis da Marvel lança mais uma das suas componentes que se diz reboot do mais famoso dos super heróis, o Homem-Aranha, mas que não é mais do que uma das muitas peças de algo maior chamado Vingadores e os seus inúmeros protagonistas. Se fosse um reboot, pelo menos Spider-Man teria espaço para ser protagonista auto-suficiente do seu próprio filme.
Então, com tanta multiculturalidade e democratização no elenco, este “regresso a casa” acaba por ter um protagonista masculino e um love interest sexualizado e objectificado, para não falar da nova tia May “boazona” interpretada por Marisa Tomei? No fundo é a isto que apetece reduzir a nova sequela/reboot/spin-off/”enchimento de chouriço” de super herói da Marvel, Spider-Man: Homecoming, um filme com um rumo e missão bem definidos que nunca vão além do serviço para os fãs (a máquina está oleada e a funcionar na bilheteira, para quê alterá-la?) e de uma pequena ramificação de uma árvore de super-heróis que se quer bem alta e robusta e cujo tronco é Avengers e a sua sequela (e outras que certamente se seguirão). No início alguns super heróis da Marvel tinham os seus filmes. Depois falou-se do grande plano de no final os juntar a todos num grande filme de Vingadores. Finalmente fez-se esse derradeiro filme. Depois fez-se a sequela e as sequelas dos filmes individuais. E agora há que fazer mais e mais e expandir a árvore até a fórmula estar totalmente esgotada e não convença sequer os fãs hardcore.
Por muito engraçado que seja, Spider-Man: Homecoming está à nascença algemado a esta limitação; de ser um peão num jogo de xadrez, uma peça da qual um franchise se serve e alimenta de forma canibal e cínica. O realizador Jon Watts, da nova Hollywood faz apenas aquilo que a máquina lhe manda, de forma anónima e eficaz, sem deixar no filme qualquer traço identitário. Em nenhum momento do filme este excelente super-herói, e porque não dizer que sempre foi visto como o mais importante e popular de eles todos, tem realmente espaço para brilhar à vontade no seu próprio filme que está mais preocupado em inseri-lo num outro do que em assumir uma identidade autónoma, e isso não só é injusto como é desnecessário. A lembrá-lo estão as constantes interrupções de Robert Downey Jr. e o seu Iron Man e as referências a outros vingadores, os “a sério”, não vá Tom Holland e o seu principiante (?!) homem-aranha ser insuficiente para transportar o filme. E realmente acaba por ser, mas apenas e só por sua própria e errada decisão. Depois temos todo o contexto polido e de boas maneiras que é agora lei de Hollywood, a tal multiculturalidade que falávamos ao início cujo tiro sai violentamente pela culatra, seguido do sempre repetido reverso da medalha que já deixou de ser “diferente” em que nem o vilão pode ser vilão à vontade estando também ele amarrado a dilemas morais que não farão mais do que alimentar de forma redundante um pensamento crítico que já existe na geração que é público alvo do filme.
O ponto mais interessante de Homecoming seria talvez a nova personalidade deste Spider-Man, um verdadeiro adolescente engraçado que não tinha sido realmente adaptado ao cinema (Tobey Maguire e Andrew Garfield estavam longe de ser assim), mas que na realidade não passa de uma fraca imitação de Deadpool versão Disney. O único bom momento do filme coloca o herói e o vilão, interpretado por Michael Keaton, em recíproco momento de revelação. Este último é um passarão grande que voa. Até a referência a Birdman podia ter tido melhor gosto…
Porque é bom: A personalidade do novo homem-aranha tem valor, entretém e serve para soltar sorrisos de Verão ou fim de semana.
Porque é mau: O filme está algemado de início pelas regras de uma teia de super heróis maior onde se insere, e o homem-aranha nunca consegue brilhar pelo seu próprio valor nem tem espaço para isso, sendo apenas um peão do qual o franchise se alimenta, uma sombra de algo maior que está constantemente a interromper a sua pequena história; democratização forçada e contraditória na forma como apresenta o seu elenco; imitação de Deadpool versão Disney; mais um filme de um franchise reciclado e sem fim à vista.Crítica também publicada em The Fading Cam
(artigo editado às 11horas)