Stop reabriu mas músicos do Porto temem futuro e divisões na comunidade
O presidente da associação Alma Stop, Bruno Costa, disse hoje, no regresso dos músicos e lojistas ao Centro Comercial Stop, no Porto, temer uma divisão na comunidade musical caso esta se reparta entre o Stop e a escola Pires de Lima.
“Sim, nós tememos isso, é geral. A verdade é que eu não conheço nenhum músico que queira ir para a escola Pires de Lima ou que queira estar noutro sítio que não aqui”, disse hoje aos jornalistas o presidente de uma das associações de músicos do centro comercial portuense.
Os portões do Centro Comercial Stop, que funciona há mais de 20 anos como espaço cultural e diversas frações dos seus pisos são usadas como salas de ensaio ou estúdios por vários artistas, reabriu hoje às 10:59, depois de a maioria das lojas ter sido selada em 18 de julho.
No local está em permanência um corpo do Regimento de Sapadores Bombeiros do Porto, com um carro à porta, tendo os cinco elementos efetuado uma vistoria de reconhecimento ao espaço.
Para Bruno Costa, o regresso e manutenção dos músicos no Stop “não é uma questão de preciosismo, é uma questão de comunidade”.
“Isso, para nós, é incrivelmente importante. Temos uma comunidade aqui com centenas de músicos, que trabalham uns com os outros, formam laços de amizade, laços profissionais, e nós queremos manter as pessoas todas juntas”, disse aos jornalistas.
Na quarta-feira, a Câmara do Porto manteve a possibilidade de músicos do Stop se mudarem “defintiva ou temporariamente” para a escola Pires de Lima, antecipando o presidente da autarquia que a estrutura esteja parcialmente pronta até ao final do ano.
“Queremos evitar isso [mudar para a Pires de Lima]. (…) Se houver uma qualquer forma que exista de evitar isso, nós vamos tomá-la”, garantiu Bruno Costa.
O presidente da Alma Stop assinalou que, para o regresso ao Stop se deu “um compromisso entre todas as partes” envolvidas, mas ainda é necessário “encontrar soluções a longo prazo”, nomeadamente sobre as cargas e descargas e a utilização noturna do espaço.
“Nós não queremos, de forma alguma, comprometer pessoas que precisam de fazer este trabalho durante a noite, já para não falar do investimento que foi feito nessas salas e que seria deitado fora se não pudessem ser usadas depois das 11 da noite”, frisou.
O músico lamentou ainda as mais de duas semanas em que a maioria das salas do Stop estiveram fechadas, falando num impacto “absolutamente enorme e irrecuperável”, já que “a maioria de pessoas que ficou sem sala não tem uma alternativa onde ensaiar ou onde gravar”.
Para já, Bruno Costa não soube estimar qual a validade da solução temporária encontrada para o regresso ao Stop, mas calculou que possa estar ligada a um processo de licenciamento “que está a decorrer na câmara para o Stop, que termina a 08 de setembro”.
A longo prazo, manifestou-se preocupado acerca do projeto turístico e imobiliário Quarteirão da Oficina do Ferro, já tornado público para as traseiras do Stop, mas recusou “tecer juízos” sobre um dossiê que não conhece a 100%.
“Mas é uma preocupação, claro que é uma preocupação. Infelizmente sempre será, tendo em conta o ambiente económico da cidade, atualmente”, frisou.
Já o músico Miguel Paiva, associado da Associação Cultural de Músicos do Stop, considerou, a título pessoal, que o Stop “continua em risco”.
“Não sabemos ao certo quais é que serão os planos para o futuro por parte de pessoas que têm poder e possivelmente interesses, então é importante assinalar que temos de continuar a lutar não só pelo espaço em si, mas também pela cidade, porque as pessoas estão fartas de perder a cidade”, disse à Lusa.
Também presente esta manhã no Centro Comercial Stop “para recolher documentação” esteve o historiador José Pacheco Pereira, coordenador do projeto Ephemera, biblioteca e arquivo do próprio.
“A nossa obrigação no arquivo Ephemera é exatamente garantir que a memória de tudo o que é conflito social, cultural, económico e político fica registado, é isso que eu estou aqui a fazer”, disse à Lusa.
O historiador salientou que espaços como o Stop “ficam na história musical da cidade, mas há outros que também já acabaram”, estando o Porto cheio “de locais póstumos, de onde se fazia música, onde se publicavam revistas, jornais”.
Pacheco Pereira anteviu que sítios como o Stop, que disse estar “num estado grande de degradação”, “mais cedo ou mais tarde, fecham”.
“Se isto acabar e fechar, temos aqui um prédio”, vaticinou.