Super Bock Super Rock 2018: as nossas sugestões
O Super Bock Super Rock regressa ao Parque das Nações para mais uma edição, com um cartaz que tem vindo ao longo dos últimos anos a reposicionar a sua identidade. Hoje, o SBSR é o festival que dedica praticamente metade do seu alinhamento ao hip hop, e que chama ao palco a art pop nas suas múltiplas expressões; o rock propriamente dito está representado, mas não em lugar de destaque. Embora isso possa parecer estranho – tendo em conta o nome do festival – não é de todo uma má notícia: não precisaríamos de um Alive 2. O Super Bock Super Rock afirma-se como uma alternativa consistente e complementar ao panorama dos festivais lisboetas.
Partilhamos convosco algumas sugestões de entre os concertos que ocorrerão ao longo dos três dias desta festa. Mas para além dessas, outros concertos se afiguram como apostas certeiras, num cartaz sólido, principalmente ao nível da presença portuguesa. Neste artigo não pudemos destacar todos, mas importa referi-los: o génio Slow J a abrir o palco principal no segundo dia, Luís Severo ao pôr-do-sol no palco LG, Filipe Sambado & Os Acompanhantes de Luxo no dia anterior, ou os Pop Dell’Arte na última noite do festival. Portugal está bem representando, com um conjunto de boas bandas de estilos bem diversos. Valerá a pena aproveitar a oportunidade para também se descobrir o que de melhor anda a acontecer na música portuguesa.
THE xx (19 Julho, 23h15 [Horário actualizado pelo festival], Palco Super Bock)
Os The xx são os cabeça de cartaz para o primeiro dia do Super Bock Super Rock e nós agradecemos. Há muito que existe uma bela história entre os The xx e o público português, tendo Lisboa sido a capital escolhida para o Festival Night+Day, organizado pelos próprios. Não têm álbum novo, mas têm os sons que se cristalizaram nas nossas memórias desde o primeiro álbum. Podem não ter novidades, mas Oliver, Romy e Jamie criam e recriam ambientes com a sua pop electrónica e encantam o público com sons etéreos.
JUSTICE (19 Julho, 01h10 ]Horário Actualizado pelo Festival], Palco Super Bock)
Para encerrar o palco Super Bock no primeiro dia quem melhor que Justice? Um ano depois de um concerto impossível de ver parado no NOS Primavera Sound 2017, o duo francês está de volta a terras lusas. Na capital espera-se o mesmo, um espectáculo irrequieto, com a habitual mestria de Justice em misturar os êxitos da sua carreira entre si, numa mistura entre DJ set e música ao vivo, que contará com os baixos ribombantes e distorcidos que caracterizam a música deste grupo e a estética rock que permeia o seu visual e as suas construções musicais. Mas apesar da sua estética distinta, no final culmina todo para o mesmo: “D.A.N.C.E.” sem “Stress”.
PRINCESS NOKIA (20 de Julho, 21h10, Palco EDP)
No dia hip-hop do festival, Destiny Frasqueri vai estrear-se em Portugal trazendo de Nova Iorque toda a sua pujança de jovem que veio deixar a sua marca no mundo. A artista mais conhecida como Princess Nokia traz consigo o seu álbum de estreia 1992 Deluxe, uma versão mais composta da sua mixtape de estreia, 1992. A grande virtude de Frasqueri é a confiança e carisma que exubera na sua música e certamente também ao vivo, e esperam-se decibéis carregados de braggadocio e uma pujança que fará os ouvintes de Luís Severo (à mesma hora no palco LG) questionarem-se de onde vem toda aquela barulheira.
ANDERSON .PAAK (20 Julho, 22h00, Palco Super Bock)
Anderson .Paak é um daqueles artistas no limbo entre uma série de géneros musicais diferentes. Não se contentando em actualizar a expressão da soul e do R&B – e até aqui não se distanciaria de um Frank Ocean – ainda cruza tudo isto com o hip hop e o jazz, injectando positividade e boas energias, usando ritmos contagiantes. E fá-lo com um virtuosismo invulgar, muita sensibilidade, quer na voz quer na bateria – como o último álbum, Malibu, editado em 2016, comprova do início ao fim. Como se não bastasse, a presença de .Paak vai ser complementada pela sua grandiosa banda, os The Free Nationals, que garantirão acompanhamentos inspirados e cheios, como é hábito. Tendo já atingido um nível de consagração que o coloca em horário nobre no palco principal, é ao mesmo tempo um artista ainda na eminência de ser catapultado para uma muito maior escala. Esperamos dançar na neo-soul alternativa do artista, e celebrar este segredo mal guardado – mais adiante em 2018 irá lançar um novo álbum, e estamos em crer que será ouvido em rotação nos quatro cantos do mundo.
TOM MISCH (20 Julho, 22h50, Palco EDP)
É talvez o conflito horário mais estranho desta edição do Super Bock Super Rock: Tom Misch vai iniciar o concerto no Palco EDP ainda com o de Anderson .Paak a decorrer no palco principal. Para dois artistas de géneros musicais próximos, nos campos da neo-soul e do R&B experimental mais voltado para o jazz, é uma escolha infeliz criar tal sobreposição parcial. Mas, quer o público escolha sair mais cedo do concerto de .Paak, quer decida chegar atrasado a Misch, estará a fazer uma escolha legítima. É que a criatividade de Misch, artista emergente que angariou nos serviços de streaming legiões imensas de ouvintes, é bem-estar injectado na alma. Estes ritmos quentes, que não perdem o fio condutor da jazz mesmo quando se aventurando na electrónica downtempo, são banda sonora de dias e noites de verão. O último álbum convenceu. Prevê-se que venha a ser um dos momentos mais comfy do festival. Lá estaremos para captar toda a luz dos loops coloridos de Misch.
ERMO (20 Julho, 22h50, Palco LG)
Já entre Misch e esta banda portuguesa, a sobreposição será total. Os Ermo foram os escolhidos para fechar o modesto palco LG mas a sua estreia no festival lisboeta merecia um destaque maior. O seu segundo álbum Lo-Fi Moda arrebatou a crítica e os fãs e mostra uma sonoridade estranha com um encanto muito próprio deste duo bracarense (com quem estivemos à conversa), uma força mística que certamente transparecerá na atuação de Sexta-Feira. É a estreia da banda neste festival mas certamente que depois deste concerto ficará provado que merecem voltar. Ainda que o som do seu mais recente trabalho seja distinto, há uma estética pop clara que agradará a fãs dos mais variados géneros, num espectáculo rápido, arrebatador, repleto de batidas metodicamente desenhadas para invadirem as pistas de dança.
TRAVI$ SCOTT (20 Julho, 23h50, Palco Super Bock)
Travi$ Scott vai encerrar o palco Super Bock no segundo dia do festival, naquele que é um dos concertos mais antecipados desta edição do festival e que se espera ser um dos melhores do ano. O americano é conhecido por dar espectáculos verdadeiramente avassaladores, sem um momento de descanso, alimentados pelo seu trap digital e que tem conquistado fãs desde 2012. Portanto, a estreia de La Flame em Portugal tem tudo para ser um dos grandes concertos de 2018 e uma redenção digna do trap americano depois da actuação insossa de Future na edição do ano passado do SBSR.
Stormzy (21 Julho, 20h00, Palco Super Bock)
Depois de no ano passado Skepta ter trazido toda a pujança do grime para uma actuação fervorosa no NOS Primavera Sound, Stormzy vem mostrar que não está nada atrás do rapper e produtor que volta a actuar este ano em Portugal. Ao contrário dos artistas deste género que o precederam, Stormzy apresenta uma mistura mais orgânica entre grime e hip hop, com uma abordagem moderna a um género que já faz as delícias dos ouvintes britânicos mas que ainda não deu o salto definitivo para resto do mundo. Traz consigo o seu álbum de estreia nomeado para o prémio Mercury Gang Signs & Prayer, aclamado pela crítica e pelo público. Munido de barras inteligentes e bem construídas e instrumentais digitais com um twist, é garantido que o espectáculo de Stormzy mostrará porque é que é o momento certo para o grime atravessar fronteiras.
SEVDALIZA (21 Julho, 20h40, Palco EDP)
Enquanto Stormzy estiver a deixar a MEO Arena aos saltos, Sevdaliza oferece uma alternativa mais calma: através do seu R&B alternativo com influências de trip hop, a cantora iraniana criada na Holanda promete uma actuação atmosférica com especial atenção a cada um dos detalhes sonoros, todos alojados num mundo só seu, para o qual Sevda Alizadeh abre as portas nas actuações. Traz consigo ISON, o seu álbum de estreia lançado o ano passado, cujo nome referencia o de um cometa: uma analogia para Sevdaliza e a sua música – um ponto luminoso na noite de dia 21.
BENJAMIN CLEMENTINE (21 Julho, 21h40, Palco Super Bock)
É uma história de amor já conhecida de todos: Benjamin Clementine apaixonou-se por Portugal, e Portugal por ele. O artista londrino faz parte daquele lote restrito de casos em que a recepção junto do público português se torna desproporcionalmente boa – no lado de lá do Atlântico, por exemplo, Clementine viu-se há pouco tempo obrigado a cancelar uma digressão pela insuficiente venda de bilhetes. Na Europa tem sido diferente – a pop artística do músico, repleta de teatralidade e emoção crua, tem impactado as salas por onde o músico tem passado. Vai ser o décimo quarto concerto do músico em Portugal em apenas quatro anos. Mas ainda estamos sedentos do piano tocado com a alma, da voz crua de emoções despidas, da composição ousada e da performance avant-garde que a acompanha. Se tivéssemos de apostar no momento mais emotivo desta edição, diríamos que ocorrerá neste concerto.
JULIAN CASABLANCAS & THE VOIDZ (21 Julho, 00h00, Palco Super Bock)
O único festival português que teve a honra de ser anfitreão de um concerto dos The Strokes foi o Super Bock Super Rock, em 2011 (num cartaz que, arriscamos dizer, é uma das melhores curadorias desta década, no panorama dos festivais portugueses). Entretanto a banda entrou numa espécie de hiato, e não é provável que os voltamos a ver em cima dos palcos nos próximos tempos. Mas felizmente este sábado à noite poderemos ao menos ouvir o novo projecto de Julian Casablancas, sob o invólucro da sua nova banda, os The Voidz. Com dois álbuns editados nos últimos quatro anos, o som dos The Voidz cruza o rock alternativo dos The Strokes com uma vertente de música mais electrónica e psicadélica, adicionando sintetizadores e não se poupando ao vocoder (quando é caso disso). Há irreverência, atitude, e vontade de arriscar. Sentimos no colectivo uma banda motivada. São uma das maiores confirmações desta edição do SBSR. Esperamos intensidade e risco – e ser contagiados pelas ideias estimulantes do colectivo nova-iorquino. Se tivermos a sorte de ouvir “Human Sadness”, já terá valido a pena a presença neste dia do festival. Os The Strokes podem esperar; não temos pressa.
Artigo redigido por Miguel Santos, Tiago Mendes e Linda Formiga