Tame Impala: E assim (re)nasceu o rock psicadélico
Foi em 2007, há cerca de uma década, que a banda Tame Impala foi formada na cidade de Perth, na costa oeste da Austrália. A banda actualmente composta pelos músicos Kevin Parker, Dominic Simper, Jay Watson, Cam Avery e Julien Barbagall, é hoje uma referência do rock contemporâneo, especialmente no modo como conseguiram renascer e actualizar o rock psicadélico que fora desenvolvido na década de 60 e 70 do século passado. Três álbuns de estúdio, cada um com o seu sucesso característico; dois álbuns ao vivo; e a presença assídua em diversos festivais de verão, passando cinco vezes em Portugal (Super Bock Super Rock em 2011 e 2013, Paredes de Coura em 2015, Alive em 2013 e 2016), torna o percurso dos Tame Impala num exemplo de sucesso, estando associado ao melhor que se produz na música nos dias de hoje. Dez anos depois da sua formação o balanço é bastante positivo, sendo esta uma das bandas rock mais influentes do momento. Contudo, como diria Albert Einstein, “O único sítio do mundo onde o Sucesso vem antes do Trabalho é no Dicionário” e o caso dos Tame Impala não foge à regra. Foi necessário um trabalho de equipa exímio para que os patamares de hoje fossem atingidos, e tudo muito graças ao mentor e líder da banda: Kevin Parker.
Foi em 2007 que a banda deu então os seus primeiros passos com base nos trabalhos feitos ainda à escala laboratorial por Kevin Parker, que já tinha passado por diversas bandas e que na altura tinha a seu lado o seu companheiro Dominic Simpson. Os seus trabalhos chegaram a ser expostos na rede social Myspace, numa altura em que o Facebook estava ainda em crescimento e o Spotify ainda era uma miragem. Sem meios para tocar ao vivo, pois não tinha qualquer banda definida na altura e era apenas e só mais um músico de garagem, Parker convidou Jay Watson para baixista para o acompanhar nas suas performances ao vivo juntamente com Dominic Simpson na bateria. Foi então que a banda ganhava pernas para andar, envolvendo-se em novos caminhos, criando o tal rock psicadélico de uma nova era que tende a ser inspirado nos trabalhos primordiais de Jimi Hendrix, Pink Floyd, Cream, King Crimson e de outras bandas e intérpretes que surgiram durante as década de 60 e 70. Todo o percurso dos Tame Impala foi baseado neste estilo de rock que envolve toda uma sinfonia de sintetizadores e de teclas, misturadas com as guitarras e a precursão em rimos bastante acelerados, onde registos graves e agudos combinam entre si de uma maneira absolutamente fascinante.
O sucesso dos Tame Impala tinha então começado, e o trabalho inicialmente feito em tubo de ensaio passaria a ser desenvolvido tal como um trabalho de campo que atingiria proporções de grande escala. O primeiro EP, intitulado com o próprio nome da banda, fora lançado alguns meses depois após serem contactados pela Modular Records. Depois desta editora ter ouvido algumas das suas músicas na sua página do MySpace, foram lhes enviadas mais 20 canções exclusivas, o que levou a novos pedidos e ofertas por parte de outras que também demonstraram igual interesse pelo trabalho preliminar da banda. No entanto, a Modular Records ficara com o rótulo daquela que foi a primeira a demonstrar interesse e o acordo de exclusividade com a banda seria assinado em 2008. Foi graças a esta editora e às constantes actuações ao vivo, que os Tame Impala ganharam o impulso necessário para seguirem voos mais altos, ficando mais perto do sonho que qualquer banda em fase de afirmação tem quando surge uma editora que aposta fortemente no seu sucesso: o caminho para o lançamento do primeiro álbum começava agora.
Lançado no ano de 2010, InnerSpeaker de seu nome, o primeiro álbum dava sinais de que o sucesso da banda tinha tudo para continuar. A capa apresenta uma paisagem em padrões que se repetem, exibindo um “Efeito Droste” à semelhança de álbuns de rock psicadélico como o caso de Ummagumma dos Pink Floyd, um conteúdo psicadélico visível na capa que é igualmente audível no álbum. Músicas como Why Won’t You Make Up Your Mind?, Solitude is Bliss, It is Not Mean to Be, Alter Ego, são exemplos de canções que lançariam os Tame Impala para ribalta tendo um impacto inicial impressionante e uma aclamação unânime por parte da crítica. O site Pitchfork intitulou-o como “o melhor exemplo da nova música”, estando presente no top 100 dos melhores álbuns da década de acordo com os critérios utilizados por esta organização. O trabalho árduo seria ainda galardoado pela ARIA Music Awards com 4 prémios: “Álbum do Ano” e “Melhor Álbum de Rock” , “Melhor Grupo” e também “Breakthrough Artist“. InnerSpeaker era então o nome do primeiro degrau de uma escadaria de sucessos que viria a ser feita de álbuns de originais, concertos, e de toda uma reinvenção do rock psicadélico.
O sucesso permitiu que avançassem para um trabalho com características semelhantes às do primeiro, embora mais alternativo mas igualmente apelativo, Lonerism, lançado dois anos mais tarde, em 2012. Este foi muito provavelmente o trabalho que comprovou que o sucesso do rock dos Tame Impala estava mesmo para ficar. Canções como Apocalypse Dreams, Elephant, Mind Mischief ou Feels Like We Only Go Backwards, são exemplos de melodias que dão uma identidade única aos Tame Impala tudo graças ao rock psicadélico com um toque de pop electrónico adicional. A capa, que exibe os portões do Jardim de Luxemburgo, em Paris, pode até mesmo retratar um improvável concerto da banda neste espaço inspirador. Galardoado mais uma vez pela ARIA Awards para melhor álbum rock do ano e nomeado para 56.ª edição do Annual Grammy Awards como melhor álbum de música alternativa, Lonerism era mais um exemplo de um excelente trabalho agora incorporado com novas tendências. Foi na tour realizada em torno deste álbum que se juntaram mais dois elementos à banda que já trabalhavam como ajudantes nos seus concertos. O Trio desfazia-se adicionando mais dois músicos de qualidade, Cam Avery e Julien Barbagallo tocariam baixo e bateria respectivamente, enquanto que Dominic Simper poderia dedicar-se à guitarra de acompanhamento e aos sintetizadores assim como Jay Watson.
Em 2013 o tal pop electrónico adicionado em Lonerism mostrava-se mais intenso, juntando-se ao R&B e ao Disco que dominariam parte das suas canções. O terceiro álbum de estúdio, Currents, possui uma capa com uma esfera sobre um padrão que se difunde, dando novamente a sensação de algo psicótico. Let It Happen, Nangs, Eventually, The Less I Know the Better, Cause I’m A Man, são faixas que exibem bem um novo estilo de rock psicadélico-electrónico implementado pela banda. Mais uma vez, galardoado como melhor álbum rock pela ARIA Music Awards e nomeado para melhor álbum da 58º edição dos Annual Grammy Awards, Currents é quase como a cereja no topo do enorme bolo psicadélico desenvolvido pelos próprios Tame Impala e que tende a ganhar novas tendências sempre que surge um novo trabalho. Os concertos enchiam-se cada vez mais de cores e de efeitos fluorescentes, aumentando assim a adesão do público aos festivais por onde passavam. O talento que se junta ao modo caloroso como interagem com a plateia, torna esta, numa das bandas mais afáveis e interactivas do presente e cujo seu trabalho é reconhecido mundialmente.
De momento os Tame Impala encontram-se pela primeira vez, e passados dez anos desde a sua formação, num momento de hiato indeterminado, o que leva alguns fans a esperar que o seu regresso possa significar um novo trabalho com novos concertos cheios de luz e de cores que se propagam com as suas melodias. O dom de fazer renascer o rock psicadélico, trazendo-o dos anos 60 e 70 para o mundo actual e adaptando-o às novas tendências, faz dos Tame Impala uma das bandas com maior influência do presente. Em apenas dez anos de actividade, os Tame Impala conseguiram ganhar uma influência sob o público gigantesca, tornando-se assim numa presença quase que obrigatória nos grandes festivais de música. Criar um novo estilo de rock, como o psicadélico, nos anos 60 e 70 foi algo que exigiu grande trabalho por parte dos músicos que o tentavam afirmar, numa altura em que o rock começava a subdividir-se em diversos géneros. Igual trabalho tiveram os Tame Impala, bem como outras tantas bandas, em renasce-lo como se fosse a primeira vez. Das garagens para os palcos, do laboratório musical para a alta escala orquestral, a arte que se tornou mais do que uma ciência, uma obra de engenharia, faz com que esta continue a ser uma das maiores bandas de renome do momento, já com uma marca muito significativa no rock do novo século.