Taxistas e Uber: O mundo mudou e tu já mudaste?
Ponto prévio: os taxistas são neste momento os piores inimigos da sua própria imagem. Entre insultos e tentativas frustradas de agredir um motorista da Uber que se viu obrigado a “barricar” dentro de uma bomba de gasolina, ouve-se um “estamos aqui pacificamente”. Os modos com que demonstraram esse pacifismo não foram os melhores… Mais à frente na mesma peça jornalística um outro taxista diz orgulhosamente e prontamente apoiado pelos seus pares, que trabalhou toda a noite no Porto e de seguida conduziu em excesso de velocidade (!) para chegar a tempo da manifestação.
Entre outras (ainda mais) infelizes declarações que entretanto ficaram virais na Internet (gerando, obviamente, uma onda de indignação), confrontos com a policia e ataques a carros da Uber, os taxistas e os seus representantes esqueceram-se daquele que deveria ser o seu objetivo primordial: convencer a opinião publica (presumíveis clientes!) a juntaram-se à sua causa, ou, quanto muito, a entendê-la. Não podia ter sido mais ao lado o resultado, tendo conseguido apenas “incendiar” a ordem publica e criado inimizade em quem não se revê no tipo de comportamentos demonstrados (basicamente qualquer pessoa civilizada). Os taxistas foram quem mais perderam com a sua incapacidade para ter razão. Os comportamentos foram desumanos em muitas das ocasiões e isso só os afastou (ainda mais) de um possível apoio que era já muito difícil à data.
No entanto, por ninguém deve ser ignorado a grande questão em tudo isto. Deve ser exigido à Uber e Cabify regras iguais para serviços iguais ao dos taxistas. Entre elas estão, entre outras, taxas de licenciamento e seguros, a CAP, assim como exigências para transporte de passageiros pelas quais os motoristas destes serviços não têm de prestar. Vicissitudes de um vazio legislativo próprio de uma inovação disruptiva que soube colocar-se habilmente no mercado. O que necessitamos é pois então de medidas capazes de regular esse vazio aproveitado pelos serviços em causa.
Se por um lado a concorrência é de salutar, devem as partes estar em pé de igualdade. Tal não acontece no atual paradigma.
Há dias vindo da inauguração do MAAT apanhei um táxi que por lá perto passava chamando-o com um acenar (sempre fui de tradicionalismos). Rompendo prontamente com uma conversa que se adivinhava meramente de ocasião (nunca fui adepto nem tenho muito jeito, confesso), sem pensar muito nas consequências e porque o taxista em questão me parecia uma pessoa simpática e acessível perguntei pela atual posição dos taxistas em relação à Uber e serviços semelhantes. A conversa até à estação foi rica para ambas as partes (mais para mim, de certeza) e as razões do seu lado foram claramente expostas ainda que por vezes viessem com uma militância normal de quem as sente na pele. No final da conversa houve de parte a parte (creio) uma satisfação recíproca por quem de um lado tinha feito valer os seus argumentos, e de outra (a minha) de quem os queria ouvir na primeira pessoa, e por quem sabia o que defendia. Na despedida houve ainda espaço para duas conclusões: a primeira de que a concorrência é necessária para quem quer oferecer o melhor possível aos seus clientes provocando assim uma elevação e evolução necessária nos seus serviços e atendimento; a segunda conclusão é a de que há maus profissionais (e pessoas) em todo o lado, assim como há horríveis representantes de uma classe de trabalhadores e que em nada os dignificam. Mas isso são idealismos. Porventura tive sorte mas os taxistas não serão só os péssimos exemplos de representantes que apareceram na TV nas últimas horas.
Imagem de João Porfírio para o jornal i.