Teatro Nacional São João organiza mostra de espetáculos internacionais para se “pensar a catástrofe, hoje”

por Lusa,    3 Janeiro, 2023
Teatro Nacional São João organiza mostra de espetáculos internacionais para se “pensar a catástrofe, hoje”
Prometheus ’22 / Fotografia de István Biró
PUB

Cinco espetáculos construídos sobre “a matriz” da tragédia grega, desenvolvidos em conjunto por dez teatros nacionais europeus vão subir aos palcos do Teatro Nacional S. João, de 27 de janeiro a 25 de fevereiro, começando com “Iphigénie”, de Tiago Rodrigues.

A abordagem desta tragédia de Eurípides pelo dramaturgo e encenador português abriu a edição de 2022 do Festival de Avignon, em França, festival de artes de palco que Tiago Rodrigues passou a dirigir, e abre caminho a quatro outras produções do projeto “Finisterra”, elaborado no interior da União dos Teatros da Europa, de que o S. João faz parte desde 2003.

“Pensar a catástrofe, hoje” é o mote de “Finisterra”, “o novo gesto internacional do Teatro Nacional S. João” (TNSJ), é o corolário de um projeto desenvolvido em conjunto por teatros nacionais de Espanha, França, Luxemburgo, Roménia, República Checa, Eslováquia, Bulgária, Eslovénia, Sérvia e Grécia.

Iokasté / Fotografia de Patrik Borecký

Em “Finisterra” cada produção resulta da parceria de dois teatros nacionais, circula depois pelos restantes e, no Porto, os espetáculos serão representados sequencialmente, a partir do próximo dia 27, depois de estreados nos países de origem, ocupando cerca de um mês de programação, segundo o comunicado do TNSJ.

“Iphigénie”, “Decalogue of Anxiety”, “Prometheus ’22”, “Focs/Vatre” e “Iokasté” são os títulos das peças a serem apresentadas nos palcos dos teatros S. João e Carlos Alberto.

A partir da matriz clássica da tragédia grega, as peças procuraram refletir sobre a experiência da catástrofe, questionando o impacto da pandemia e o recrudescimento dos nacionalismos no continente europeu.

“Iphigénie”, uma produção do Théâtre National de Strasbourg, com participação do TNSJ, estará em cena neste teatro em 27 e 28 de janeiro.

Com texto de Tiago Rodrigues e encenação de Anne Théron, “Iphigénie”, que revisita a personagem de Eurípides, também tratada por Racine, põe em cena o destino de Ifigénia e, segundo a apresentação da obra, como este seria se “os homens que decidem a sua sorte não se submetessem à autoridade dos deuses”.

Uma abordagem ao livre-arbítrio que seduziu a encenadora francesa, que explora com frequência o grito interior das mulheres nas suas encenações”, explica o TNSJ. Falado em francês, “Iphigénie” conta com interpretação dos atores portugueses Carolina Amaral e João Cravo Cardoso, nos papéis de Ifigénia e Aquiles, aos quais se juntam Fanny Avram, Alez Descas e Vincent Dissez, entre outros, e chega ao Porto depois de uma digressão por França, iniciada na abertura do Festival d’Avignon, no passado mês de julho.

Iphigénie / Fotografia de Jean Louis Fernandez

“Decalogue of Anxiety”, uma coprodução búlgaro-luxemburguesa com dramaturgia de Florian Hirsch, do Théâtre National du Luxembourg, e direção artística de Margarita Mladenova e Ivan Dobchev, do Theatre Laboratory Sfumato, é o segundo espetáculo do ciclo, que estará no Teatro Carlos Alberto nos dias 03 e 04 de fevereiro, uma semana depois de se estrear no Luxemburgo.

A partir de “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury, “o espetáculo imagina um grupo de dissidentes que procura salvar a literatura mundial das chamas, memorizando alguns dos grandes textos da humanidade, de Platão a Dostoiévski e de Tchékhov a Heiner Müller e à sua Máquina-Hamlet”, indica o S. João.

Falado em língua portuguesa, inglesa, alemã, francesa, castelhana, grega e búlgara, “Decalogue of Anxiety” é “uma esquizofrenia idiomática protagonizada por dez jovens atores e atrizes, entre os quais o português Daniel Pinto”, segundo a programação do S. João.

A 10 e 11 de fevereiro, este teatro apresenta “Prometheus’22”, num regresso do encenador romeno-húngaro Gábor Tompa a esta sala do Porto, onde dirigiu a recente produção do TNSJ “À Espera de Godot”, de Beckett.

Acompanhado por Ágnes Kali, “Prometheus ’22” é uma coprodução dos romenos Hungarian Theatre of Cluj e Constanţa State Theatre e do teatro esloveno SNT Drama Ljubljana. 

A peça parte de “Prometeu Agrilhoado”, de Ésquilo, e estabelece um “elo paradoxal entre os intelectuais – cientistas, médicos, artistas – do século XXI e o titã da mitologia grega”.

Decalogue of Anxiety / DR

Para o encenador Gábor Tompa, o espetáculo “aborda o mito de Prometeu a partir uma perspetiva irónica, explorando a sua relevância no mundo contemporâneo”. Falado em esloveno, romeno, húngaro e inglês, “Prometheus´22″ é uma homenagem ao dramaturgo Samuel Beckett.

Nos dias 17 e 18 de fevereiro, também no S. João, é a vez de “Focs/Vatre”, uma encenação de Carme Portaceli, diretora do Teatre Nacional de Catalunya, instituição produtora do espetáculo, em parceria com o sérvio Yugoslav Drama Theatre. 

“Focs/Vatre“, termos catalão e sérvio para fogos, baseia-se em “Feux”, da escritora belga Marguerite Yourcenar. 

Publicada em 1936, a obra é uma sequência de textos sobre o conceito de amor que tem por base as figuras da mitologia grega. Falada em sérvio e catalão, a peça estreia-se na Sérvia, a 02 de fevereiro.

A fechar o “Finisterra”, no Teatro Carlos Alberto, estará, nos dias 24 e 25 de fevereiro, a peça “Iokasté”, uma coprodução checo-eslovaca, falada em ambas as línguas, com texto e encenação do encenador eslovaco Lukáš Brutovský.

A peça chega ao Porto depois de estreada nos teatros produtores, o Prague City e o Slovak Chamber – SKD Martin, e centra-se na figura da mitologia grega Jocasta, a mãe de Édipo, “dando-lhe a centralidade e a voz que nunca teve, para investigar as raízes da misoginia, do antifeminismo e da masculinidade tóxica”, acrescenta o comunicado do S. João.

Os espetáculos do “Finisterra” decorrem à sexta-feira, às 21:00, e ao sábado, às 19:00, e têm legendagem em português. 

Além de ingressos individuais para cada espetáculo, o TNSJ disponibiliza a possibilidade de aquisição de uma assinatura para todo o ciclo.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.