Temos de funcionar como comunidade. Nunca isto fez tanto sentido
Há milhares de anos, quando nenhum de nós era sequer sonhado, as pessoas trabalhavam em pequenos grupos para um bem comum. Zelavam pelo bem dos indivíduos que os acompanhavam e tinham diferentes funções para assegurar a sobrevivência de todos.
Hoje não somos pequenos grupos, mas sim milhares de milhões de pessoas mais desenvolvidas e com outra capacidade de raciocínio. Contudo, o individualismo também cresceu de forma exponencial, e o nosso umbigo é, na maioria das vezes, o único ao qual damos importância.
Face à atual situação mundial, urge a necessidade de todos, sem exceção, compreendermos um ponto fulcral para o combate a este vírus que se propaga a olhos vistos: temos de funcionar como comunidade. Não vale a pena estarmos a tomar precauções, lavarmos regularmente as mãos, cumprimentarmos os nossos amigos com o cotovelo, se não tomarmos todos as devidas medidas; e neste momento é o que está a acontecer. A responsabilidade de uns desvanece-se face à irresponsabilidade de outros, devido à falta de consciência que também se propaga por algumas mentes iluminadas.
Curiosamente, a irresponsabilidade de alguns indivíduos contrasta também com o histerismo de outras fações da população, que receiam realizar qualquer ação do quotidiano, mesmo as mais indispensáveis. Como se diz na gíria popular, nem oito nem oitenta.
Nos dias que correm, importa sim ter consciência do momento que atravessamos. Ter noção de que o COVID-19 tem facilidade em espalhar-se, de que há países em estado mais grave – como a Itália -, de que vemos o número de mortos aumentar a cada dia, de que há alguns casos de sucesso, mas, acima de tudo, de que todas as medidas de precaução não darão em nada se não remarmos para o mesmo lado.
Outro fator que tenho vindo a verificar é que as pessoas continuam a fiar-se totalmente no que leem nas redes sociais. Caros leitores, ainda não consegui compreender bem o motivo, mas o ser humano é perito em criar histórias mirabolantes e teorias da conspiração sem grande fundamento em situações de crise. Sinceramente, não compreendo por que motivo se gosta de causar o pânico nos outros. Será que quando a pessoa está a redigir as mentiras que escreve, não pensa que está a ser um grande palerma?
Por outro lado, venho aqui salutar também o trabalho do jornal Público, cuja qualidade é para mim inegável, não só em termos de cronistas como também de informação fornecida. A atitude de abrir o conteúdo online para todos os utilizadores é de aplaudir. Num mundo onde é cada vez mais fácil optar pelo populismo e pelo sensacionalismo, o Público escolheu a verdade e a qualidade do produto que oferece.
Por último, falar da questão social. Na minha opinião, todos os esforços devem ser canalizados para a Saúde neste momento, mas importa não esquecer o futuro e a questão económica que nos próximos tempos irá com certeza marcar o nosso país. Amplas áreas da nossa sociedade, como restaurantes, empresas, comércio e turismo estão a sofrer graves consequências negativas que fazem do apoio do Estado um pilar fundamental para a subsequente recuperação dos mais variados setores. Por exemplo, eu soube de um caso, numa clínica, em que o patrão despediu todas as pessoas que estavam a recibos verdes e fechou-a por tempo indeterminado. Atos como este, de grande insensibilidade pelo próximo, são profundamente condenáveis e necessitam de intervenção estatal.
Volto apenas a referir o que para mim é importante: temos de funcionar como comunidade. É preciso ter consciência de que estamos perante uma situação nova para todos e que todo o cuidado é pouco. Aproveitem para ler, ver séries ou passar tempo de qualidade em casa com os vossos filhos. O meu avô sempre disse uma frase que levei para a vida: pensamos que as coisas só acontecem aos outros, mas nós somos os outros dos outros. Nunca isto fez tanto sentido.