Tiago Rodrigues, o encenador
Sabem quem é este homem?
(sabem onde vive?)
Tiago Rodrigues encenará Saramago na mítica Royal Shakespeare Company, em Londres. A peça chamar-se-á Blindness and Seeing e será uma adaptação de Ensaio sobre a Cegueira e Ensaio sobre a Lucidez. Entre agosto e final de setembro de 2020, o diretor do Teatro Nacional Dona Maria II, o mais internacional de todos os artistas portugueses (com Joana Vasconcelos), chegará ao seu olimpo. Depois de ter recebido, em São Petersburgo, o Prémio Europeu do Teatro. Depois do estrondoso sucesso de o Sopro (considerado o melhor espetáculo do Festival de Avignon e escolhido pelo Le Monde como um dos acontecimentos culturais em França nesse ano). Depois dos aplausos generalizados de Tristeza e Alegria na Vida das Girafas, agora adaptado para o cinema por Tiago Guedes. Depois de tudo isto, Tiago Rodrigues, apenas com 40 anos, chega ao cume da montanha artística.
E mesmo assim há pessoas que dizem mal do Tiago. Há pessoas que no teatro acham que a grande virtude dele é “mexer-se bem” entre os poderes. É ser bem-falante, montar ilusões e ter bons contactos internacionais. Não há meio como o dos artistas – como são absolutos também o são na mediocridade. Quando os amamos temos de os amar assim, generosos até à quinta casa, pulhas até aos quintos dos infernos.
Existem milhares e milhares de portugueses que não o conhecem. Que não fazem ideia de quem é Tiago Rodrigues. Que não lhes passa pela cabeça que encenou peças em quase todos os continentes, que tem convites para estar, ser e fazer em dezenas de países.
Ele é o artista português mais completo. O que mais se aproxima do que valorizávamos em Orson Welles – uma interrogação permanente, uma voragem criativa, uma fortíssima pulsão ideológica, uma necessidade de inovar.
Tiago, nascido na Amadora, filho do grande jornalista que foi Rogério Rodrigues e da médica Arlete, casado com Magda Bizarro, pai de Beatriz e habitante de um país de gigantes. Sobre a felicidade, na conversa que teve comigo em “30 portugueses, 1 País” disse esta maravilha: “ “Mas é possível que esta meta, que às vezes são os sonhos, não seja necessariamente a felicidade. É possível que a felicidade esteja apenas no quilómetro vinte e que, mesmo que continuemos a correr, tenhamos sempre esse quilómetro vinte onde podemos voltar, que é este momento do final do dia, antes do jantar, em que nos juntamos todos na cozinha a cortar os legumes e a beber um copo de branco, a falar do que é que foi o dia. Amanhã voltamos sempre a correr”