Tolentino Mendonça leva Vaticano à Bienal de Veneza com instalação de Álvaro Siza
O cardeal Tolentino de Mendonça é o comissário do pavilhão do Vaticano na Bienal de Arquitetura de Veneza, a decorrer de 20 de maio a 26 de novembro, que contará uma instalação do arquiteto Álvaro Siza, anunciou o Vaticano.
A exposição, com o título “Amizade Social: Encontro no Jardim”, a cargo do Dicastério para a Cultura e a Educação, “será montada nos edifícios do Mosteiro Beneditino e nos jardins da Abadia de San Giorgio Maggiore”, na cidade italiana, integrando-se no tema da mostra “O Laboratório do Futuro”, com “a instalação ‘O Encontro’ de Álvaro Siza”, num percurso concebido pelo arquiteto Roberto Cremascoli.
“Esta presença pretende ser uma declaração do desejo da Igreja de estar próxima não apenas do mundo da arquitetura, mas das artes em geral […], para desenvolver um diálogo mais rico e um crescimento na compreensão mútua” com as artes e os artistas, afirmou Tolentino Mendonça, citado hoje pelo jornal Vatican News.
Nomeado prefeito do Dicastério do Vaticano para a Cultura e a Educação no outono passado, o cardeal português espera igualmente “que esta iniciativa leve as igrejas locais a envolverem-se em manifestações a nível regional”, associando-se ao convite feito aos visitantes da mostra: “Cuidar do planeta como cuidamos de nós mesmos e celebrar a cultura do encontro”.
Tolentino Mendonça especificou ao Vatican News que o tema “Amizade Social”, escolhido para o pavilhão, “é particularmente caro ao Papa Francisco” e assinala igualmente os dez anos do seu pontificado.
O pavilhão, além dos arquitetos Álvaro Siza e Roberto Cremascoli, conta ainda, na sua conceção, com o coletivo italiano de arquitetura Studio Albori.
O objetivo é responder ao tema desta edição da bienal, “O Laboratório do Futuro”, proposto pela sua curadora, a arquiteta de origem ganesa, nascida na Escócia, Lesley Lokko.
“A exposição desenvolve-se no interior da Abadia Beneditina, desde as salas de entrada, com vista para o Canal Giudecca, passando pela galeria e pelas áreas que se abrem para o jardim”, descreve o Vaticano.
“A instalação ‘O Encontro’ de Álvaro Siza acolhe e conduz o visitante, num diálogo com as peças desenhadas pelo mestre”, num percurso até ao jardim projetado pelo Studio Albori. Este espaço, reservado à comunidade beneditina, estará aberto ao público durante a Bienal.
“O novo traçado entre as hortas, o galinheiro e as zonas de descanso acentua a partilha e a contemplação, que estão no centro do quotidiano da abadia, e cria a possibilidade de diálogo entre os residentes e os visitantes”, conclui o Vaticano.
O Vaticano já tinha participado na Bienal de Arquitetura de 2018, com as capelas instaladas nos jardins da ilha de San Giorgio Maggiore, com um projeto de Eduardo Souto de Moura.
A 18.ª Exposição Internacional de Arquitetura – Bienal de Veneza, apresentada na terça-feira, conta com representações oficiais de 63 países, sendo Portugal e Brasil os únicos lusófonos presentes.
As exposições e projetos especiais dedicados ao “Laboratório do Futuro”, tema da mostra, contam ainda com 89 arquitetos e gabinetes de arquitetura, na maioria de África e da diáspora africana, entre os quais o Banga Colectivo, gabinete de arquitetura de Luanda e Lisboa, e o ateliê brasileiro Cartografia Negra.
“Esta será a primeira [edição] a experimentar um caminho para alcançar a neutralidade carbónica, ao ponto de a exposição se estruturar nos temas da descolonização e descarbonização”, disse o presidente da Bienal, Roberto Cicutto, na abertura da apresentação da mostra, que decorreu na terça-feira, em Veneza.
A curadora Lesley Lokko reforçou, na altura, a amplitude de temas a serem abordados numa edição com o continente africano como “protagonista”, porque, “se há um lugar neste planeta onde todas as questões de equidade, raça, esperança e medo convergem e se juntam, é África”.
“Costuma dizer-se que a cultura é a soma total das histórias que contamos a nós mesmos, sobre nós mesmos. Embora seja verdade, o que falta na declaração é qualquer reconhecimento” de que “o alcance e poder” da “voz dominante […] ignoram grandes áreas da humanidade, a nível financeiro, coletivo e conceptual”, afirmou Lokko, para sublinhar que “é neste contexto que as exposições [da Bienal] importam”.
Para Lokko, o objetivo é que esta edição não traduza uma história única e se revele “um caleidoscópio deslumbrante e conflituoso de ideias, contextos, aspirações e significados”.