Tremor mais próximo da forma final: mais dez nomes para ver nos Açores

por Comunidade Cultura e Arte,    31 Janeiro, 2019
Tremor mais próximo da forma final: mais dez nomes para ver nos Açores
Teto Preto
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São dez os novos nomes que hoje se juntam ao cartaz do festival açoriano: da contemporaneidade transgressora brasileira da música-festa dos Teto Preto e da pop confessional de Maria Beraldo à polirritmia catalã dos ZA!, passando pelos cruzamentos de metal e tropicália dos Chupame El Dedo e as novidades Free Love e Vive la Void. Há ainda mais quatro nomes para anotar nas criações especiais, com a dupla apresentação do compositor Lieven Martens (ex-Dolphins Into The Future), o trabalho de Rafael Carvalho e FliP em torno da viola da terra e a proposta de Natalie Sharp para o Tremor Todo-o-Terreno.

“Música menos comportada”, é assim que os Teto Preto, banda nascida no seio da festa Mamba Negra, que reinventou a cena electrónica de São Paulo, baptizam aquilo que fazem. Em Pedra Pedra, segundo tomo no universo inclusivo, feminista e hedonista de um colectivo que, antes de ser banda, era comunidade, voltam a experimentar em torno das influências assumidas na música disco brasileira dos anos 70, no jazz, techno e house e em tudo mais que faz vibrar o corpo. Adicionam-lhe a dose certa de dança contemporânea, performance e as letras declaradamente provocatórias para, com tudo isso, segurarem um lugar na luta pela sobrevivência da cultura electrónica de vanguarda no Brasil.

É neste mesmo Brasil, que tem na música foco incontornável de resistência social e política, que nomes como Maria Beraldo travam, ao lado de outros como Aíla, Márcia Castro ou Linn da Quebrada, guerras abertas contra o conservadorismo. Clarinetista e claronista da banda de Arrigo Barnabé e membro das históricas Quartabê e Bolerinho, Maria fez-se, em Cavala, compositora a solo. O disco, declaradamente radiográfico, lista as dores e as delícias da cantautora, num conjunto de canções de afirmação lésbica que actualizam o repertório brasileiro e voltam a trazer para o olhar atento dos media a necessidade de repensar a heteronormatividade dos corpos e da sexualidade.

Já os havíamos anunciado como um dos colectivos em residência nos Açores, faltava agora avisar que, já que lá andam, vamos querer tê-los a tocar em nome próprio. Duo criativo composto por Papadupau e Spazzfrica Ehd, os ZA! têm mais de dez anos na mistura de géneros e no encontro com outros artistas, contam mais de meio milhar de concertos ao vivo em cinco continentes e seis discos que nos explicam, detalhadamente, as múltiplas possibilidades da polirritmia. O mais recente, Pachinko Plex, fá-lo sem se tornar excessivamente analítico, resumindo influências globais e tendo a técnica como norte no caos que só eles sabem construir.

Conhecemo-los como Happy Meals, nome que era uma espécie de sátira ao consumismo que os rodeava, mas será talvez sob o nome Free Love que Suzanne Roden e Lewis Cook melhor conseguem agasalhar a sua identidade utópica. Depois de terem cruzado a Europa, a abrir para nomes como Liars ou Flaming Lips, passam pelos Açores para provar por que a fama lhes atribui o título de uma das mais sensuais e interessantes novas bandas de 2018.

Chupame El Dedo são Eblis Álvarez (Meridian Brothers) e Pedro Ojeda (Romperayo, Los Pirañas, Ondatrópica) juntos pelo desafio de Detlef Diederichsen (director do festival berlinense Evil Music). A encomenda era simples: criar uma banda de death metal com influências na música tropical. Daqui será fácil imaginar o que vamos encontrar dentro do disco homónimo de estreia: todos os chavões do grindcore, speed e black metal a casar (ou colidir) com a salsa, rumba, currulao e reggaeton. Loucura tropical e deslocamento artístico prometidos, podem pedir já um mojito para acompanhar o headbangingnos Açores.

Será uma das descobertas mais interessantes do cartaz deste ano. Lieven Martens (ex-Dolphins Into The Future) passou várias temporadas nos Açores mas nunca lá tocou. Ao longo dos anos, fez imensas recolhas sonoras no terreno, com as quais viria a editar discos como Canto Arquipélago, um poema sonoro sobre a diversidade açoriana. A convite do Tremor, Lieven regressa aos Açores para uma residência artística de recriação da obra The Cow Herder, uma sonata que faz o retrato sonoro da vida de um guardador de vacas da Ilha do Corvo. A apresentação será dupla, em sala, e num ponto exterior da ilha a revelar, como é hábito, durante o decorrer do festival, e serão complementadas por vídeos e textos da sua autoria.

Por Ponta Delgada, passarão ainda o krautrock de Vive la Void, projecto de Sanae Yamada a teclista dos Moon Duo, a nova proposta de encontro entre Rafael Carvalho e FLiP na redescoberta de novos espaços para a viola da terra (instrumento típico do arquipélago) e a encomenda site-specific da compositora, cantora e performer Natalie Sharp para o Tremor Todo-o-Terreno, espaço do festival onde a música é ligada a trilhos pela natureza dos Açores.

Os novos nomes juntam-se aos já anunciados concertos de Bulimundo, Colin Stetson, Moon Duo, Jacco Gardner, Pop Dell’Arte, Grails, Lula Pena, Haley Heynderickx, Lafawndah, Cave, CZN, The Sunflowers, Trans Van Santos; e às residências artísticas e colaborações de Ondamarela + Escola de Música de Rabo de Peixe + ASISM; ZA! + Despensas de Rabo de Peixe + Rubén Monfort; Diogo Lima + LBC; dB + Balada Brassado; Pedro Lucas + WE SEA; e Cristóvão Ferreira + Tupperwear.

O Tremor, festival que pretende fazer dos Açores ponto de excelência para uma nova forma de experimentar a música, está de regresso ao arquipélago entre os dias 9 e 13 de Abril. Os bilhetes podem ser adquiridos a preço especial early-bird (40€) na Bilheteira Online, FNAC, Worten, CTT e restantes pontos aderentes, e em Ponta Delgada, na La Bamba Bazar Store.

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