“Trending”, novo EP de Duarte Azevedo, convida-nos a dançar no espaço
Duarte Azevedo pode ainda ser um nome desconhecido do panorama musical nacional, mas o multifacetado músico tem já vários anos de bagagem, tanto a solo como noutros projectos.
Cantautor, compositor, guitarrista, baixista, por vezes vocalista, Duarte tem uma grande afinidade com vários segmentos da música, tanto em instrumentos como em estilos, já que fez parte de bandas de rock, pop, bossa nova e música tradicional, num espectro que passa também por bandas sonoras e música electrónica. Este caldeirão de talentos e influências permite-lhe chegar a 2019 e construir um projecto bastante sólido, na verdade o seu segundo EP a solo, “Trending”.
“Trending” começa com uma belíssima melodia que rapidamente se transfigura numa frenética combinação dançante-electronica, um pouco ao estilo de uns Kraftwerk iniciais. Pode ser apenas coincidência, mas Duarte vive neste momento em Berlim, uma cidade conhecida pela música electrónica, synth-pop, art pop, etc, tudo estilos que conseguimos encontrar nesta primeira faixa, “Space Disco”, e naturalmente ao longo do EP. “Space Disco” remete-nos para um universo sci-fi, algo entre exploração espacial e uma qualquer pista de dança em Neptuno, mas o que mais impressiona é a sua coesão, pois embora reuna em si diversos estilos, o resultado final é bastante orgânico, podendo bem fazer parte do universo de René Laloux.
“É Preciso Mudar” é a segunda faixa do EP e introduz-nos à voz de Duarte Azevedo e a um ambiente mais pop, por vezes fazendo-nos lembrar D’Alva. A mistura indie, electrónica e espacial resulta de forma perfeita, assim como a voz de Duarte, que bem ao estilo de Alex D’Alva Teixeira a sabe usar de forma inteligente. Aqui a voz não é um elemento principal, é mais um instrumento que apoia toda a música. Embora do ponto de vista de ambiente/temática esta música seja diferente da primeira faixa, consegue mesmo assim incluir-se no contexto do EP.
“Hotel Lisboa” introduz-nos um beat funk, sempre misturado com música electrónica, remetendo-nos para um Martim Moniz num panorama futurístico, principalmente graças à letra e ao refrão, embora o verdadeiro Hotel Lisboa fique na Avenida da Liberdade. Melhor do que a faixa anterior a todos os níveis, “Hotel Lisboa” é um single por si só, fácil de escutar, complexo o suficiente para agradar a várias pessoas, mas super coeso.
“Ostalgia” é o regresso ao ambiente da primeira faixa, uma música puramente electrónica, uma nova viagem pelo espaço, sem dúvida o ponto forte de Duarte, esta incrível capacidade em criar elementos visuais com tanta facilidade e compor músicas complexas, com diferentes elementos. Não é aleatório que Duarte componha também bandas sonoras, é fácil ver que esse é um dos seus pontos fortes.
A penúltima faixa do EP remete-nos para uma qualquer cave underground em Berlim, para um universo alternativo. Embora a voz de Duarte regresse à música, esta é apenas usada como suporte, quase como se estivéssemos a ouvir um anúncio. Se há algo de negativo a apontar neste EP (o que é dificil) é que esta música parece um pouco fora de todas as outras, talvez pelo beat ser mais repetitivo, ou pela voz não acrescentar realmente muito, mas mesmo assim é uma óptima faixa.
Duarte Azevedo sabe perfeitamente como terminar o seu EP, “Influencer” é a combinação de tudo o que ouvimos anteriormente, clubbing, música electrónica espacial e indie-pop. Não é que Duarte tenha criado o disco mais fresco dos últimos anos, mas este “Trending” sabe realmente bem, faz-nos sentir interessados ao longo de todo o EP, tem um ritmo excelente a nível de progressão entre faixas e é cativante o necessário para que a nossa cabeça começar a abanar e as nossas ancas peçam por mais movimentos dançantes.
“Trending” é um EP bastante coeso, claramente criado por alguém que sabe de música. Seja numa festa, no carro ou em casa, este é um EP que irá sempre animar o vosso dia e deixar-vos a sonhar por aventuras no espaço.