Tresor&Bosxh: ‘Barcelos sempre foi marcada pelo rock de guitarras em punho. As manifestações viradas para um lado mais experimental eram quase marginais’

por Comunidade Cultura e Arte,    22 Março, 2018
Tresor&Bosxh: ‘Barcelos sempre foi marcada pelo rock de guitarras em punho. As manifestações viradas para um lado mais experimental eram quase marginais’
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São apenas 17 minutos, mas toda a gente ‘teve 17 minutos incríveis algures na vida. E a vida que os Tresor&Bosxh escolheram levou-os a criar os 17 minutos que mais repetimos este ano com “Grocery”, EP do duo formado por Tiago Rosendo e Ricardino Lomba, e que conta com a participação de Pedro Oliveira (Dear Telephone, Peixe:Avião) naquele que já é um dos discos do ano. Um kraut-rock meio mestiço, que bebe de todas as fontes para resultar no projeto mais dançante a sair de Barcelos (a capital do rock, diz a lenda).. Fomos inspecionar o que lhes vai na cabeça, desconfiando que coisa boa não seria, de certeza.

Desde que saiu o “Grocery” temos repetido os 17 min. que compõem o EP vezes sem conta. Que discos andaram a repetir em casa que vos fez chegar a este banquete de electrónica?

Tiago Rosendo – Bem, eu ando numa deriva entre o Eddy Tussa, dono dumas boas sembas angolanas, e os Cigarrettes After Sex. Acho que é assim que quero que a minha música soe, uma mescla. Para mim é o caminho que se percorre para chegar de um lado ao outro.
Ricardino Lomba – Neste momento o que mais me apraz ouvir são mesmo as dezenas de horas de ensaios/devaneios dos Tresor&Bosxh. Um dia lançamos isso tudo. Alterno também entre coisas gravadas em ‘happenings’, ensaios ou concertos de música experimental ou exploratória. Dos discos que ouço repetidamente, e que de alguma forma gosto de pensar que me vão influenciando, gosto dos últimos de Nico Niquo, Arve Henriksen e Tim Hecker. Nos Tresor&Bosxh gosto da intenção de criar uns fantasmas electrónicos para as “Sembas After Sex” do Tiago.

O Pedro Oliveira já costumava tocar convosco em alguns concertos, mas aqui tem participação perpétua na gravação do EP. De que modo esta participação acabou por definir o processo de composição. Ele fez parte deste mesmo processo, ou teve apenas que ouvir a vossa música, pegar nas baquetas e fazer a magia que sabe?

Para o Pedro, pegar nas baquetas e fazer magia já era suficiente para nós. Mas não foi o caso. O Pedro participou no processo de produção de dois temas, ‘Almost There’ e ‘Hiccough’. Foram temas criados com inputs dos três. O terceiro tema do EP o “Grocery”, era um tema já existente, nunca editado mas que já tocávamos ao vivo. O Pedro deu-lhe um toque mais singular.

Barcelos, tida por alguns como a capital do rock, não brota uma geração tão inclinada p’rás guitarradas como há um par de anos. Concordam com isso, vocês que são um dos exemplos ao optarem por uma vertente mais electrónica e experimental?

Sim, Barcelos sempre foi marcada pelo rock de guitarras em punho. As manifestações mais viradas para um lado mais electrónico ou experimental eram quase marginais, comparativamente com o rock, e não abdicaram das guitarras (Biarooz ou La la la Ressonance). Na verdade achamos que em Barcelos, de alguma forma, se estão a perder esses anos áureos dos “putos fixes do rock”. Isto porque achamos que são estes mesmos que continuam a fazer música, e alguns num registo bem diferente do que faziam há uma boa dezena de anos. São necessários putos novos; estes estão a entrar na adolescência.
Virmos parar a este lado mais electrónico acabou por ser um acaso. Não tínhamos uma intenção clara de tentar criar um projecto com esta sonoridade. O que aconteceu foi uma experiência entre dois comparsas que, quando se deram conta, tinham vindo aqui parar.

Agora com o disco (e que disco) não faltarão concertos onde possam mostrar esse ‘kraut-rock’ meio mestiço.

Vamos ao GrETUA em Aveiro na Sexta, 23 de Março, para a semana, 31 de março, estamos no Club em Vila Real, em Abril vamos a Fafe no dia 7, dose dupla com os irmãos RATERE, dia 13 em Monção e dia 24 no Maus Hábitos no Porto. Estas são as datas mais próximas.

Se encontrassem a Fatima Lopes, por alguma razão, e ela pedisse a cada um de vós p’ra dançar com ela, qual era a música que cada um escolhia.

Tiago Rosendo – A minha escolha é “Dancing Queen” dos ABBA, obviamente.
Ricardino Lomba – Talvez arriscasse o “Cé La Vida” do Boy G Mendes e Manu Lima.

Entrevista por Luis Dixe Masquete

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