Uma estreia de luxo de NEEV com “Philosotry”
O primeiro disco de NEEV, Philosotry, viu finalmente a luz do dia depois de alguns anos de procura, de altos e baixos e de viagens. Com a primeira “grande” colaboração com os noruegueses Seeb, no tema “Breathe” que conta com 28 milhões de visualizações no YouTube, NEEV apresenta neste seu Philosotry a sua voz, a sua própria viagem interior, sem que o assuma como autobiográfico. E esta identidade assume contornos que vão beber à tradição norte-americana de songwriting (com um toque sueco do Tallest Man on Earth), mas também passa para um imaginário mais etéreo e mais majestoso.
Produzido por Larry Klein – que trabalhou com Joni Mitchell, Herbie Hancock e muitos outros – Philosotry é um trabalho coeso, bem estruturado, com alguns resvalos que nos retiram de uma constância irrequieta. O tema que abre o disco é reflexo disso mesmo – “Calling out” é marcado por elevações algo triunfantes que vão sendo acompanhadas nos temas que seguem e que incluem um dos singles de apresentação “Lie you love it”, para depois sermos “incomodados” pela introdução de “Loot” (o quarto tema), que não percebemos muito bem de onde vem, mas que imprime umas tonalidades bluesy que queríamos ver mais exploradas. O percurso mais etéreo percorrido até aqui parece descer à terra, para sonoridades mais folk, mais orgânicas, com os temas “World of my own” ou “Ann Marie”.
Já na recta final, NEEV apresenta-nos “Come on people”, um tema majestoso, triunfante, algo antagónico com a introspecção que percorre o álbum. Não é o tema mais fácil de assimilar por parecer estar em desalinho com as restantes, pelo menos em termos de sonoridade, mas é o tema que mais nos remete para uma vivência física, para um organismo colectivo. NEEV termina Philosotry com “Não sei de mim”, o segundo momento na língua portuguesa no álbum e assinala um belíssimo momento tanto ao nível lírico, tanto ao nível da melodia.
Além da sonoridade ecléctica de Philosotry, a voz de NEEV tem uma versatilidade invulgar e rica, que cativa a cada audição e que também se dá a redescobrir em todos os momentos. O mesmo sucede com as letras dos temas, onde não descobrimos clichés ou rimas fáceis, mesmo no ponto onde se sente menos à vontade, como é exemplo o tema em português que já mencionámos. No seu conjunto, são estes factores que colocam Philosotry como um excelente ponto de partida para um percurso que se vê bastante promissor. Se por um lado temos uma identidade bastante definida, por outro conseguimos facilmente juntar NEEV a nomes como RY X, Gallant, Tallest Man on Earth ou Angelo de Augustine. E não é de admirar que grande parte destes nomes seja imediatamente associada a Sufjan Stevens ou a Bon Iver, já que são nomes de referência para NEEV ao nível do processo criativo. O que também não nos admirará muito é se NEEV quiser, à semelhança de Sufjan Stevens ou de Justin Vernon, abraçar um caminho mais experimentalista, de uma sonoridade (ainda) mais profunda, pois em alguns momentos de Philosotry parece ser esse o caminho que NEEV quer seguir e o caminho que queremos que NEEV siga.
Qualquer que seja o rumo, Philosotry é um excelente registo e sê-lo-á em qualquer altura das nossas vidas.
Philosotry está disponível em todas as plataformas de streaming desde o dia 24 de Julho. O formato físico só está disponível em França, mas chegará a Portugal em Setembro.