Uma pequena história da música electrónica de dança em Portugal (parte II)

por Gabriel de Oliveira Feitor,    8 Junho, 2021
Uma pequena história da música electrónica de dança em Portugal (parte II)
MC Man Parris e DJs Luís Leite e Vibe, Feira Virtual, Castelo de Santa Maria da Feira, 1994. © Sílvia Inácio.

O estranho caso da “música das bolinhas”. (podes ler aqui também a parte I deste artigo)

Na década de 80, o rock e a pop, sobretudo o primeiro, predominavam nas discotecas portuguesas. A vaga era tão forte que até existiam noites dedicadas apenas ao rock, como as das terças no Kremlin. É verdade que já se ouvia em algumas casas música electrónica e coisas mais “fora da caixa” nos últimos minutos da noite, mas o modelo, à excepção dos bares mais alternativos tipo Frágil, continuava a ser as aberturas estrondosas, a música mais comercial e o período dos slows. Na rádio também já se ouvia disco e as primeiras produções de hip hop no programa “Discoteca”, na Rádio Comercial, de Adelino Gonçalves e João Vaz, DJ do Trumps, uma influência para Tó Pereira e Rui Vargas. Vaz tocava muito disco e funk no Trumps e tinha acesso aos discos americanos através de amigos, raridades no mercado português de então.

Por essa altura, a importação de discos de editoras independentes para um mercado tão reduzido como o português era difícil. Mesmo quando se dava o caso de algum disco ser licenciado para as major labels, demorava sempre algum tempo – quase um ano – até ser prensado em Portugal. Dos depoimentos e relatos dos DJs portugueses da época, é consensual a importância da rádio, com os tops e charts americanos e ingleses, e dos jornais estrangeiros, como o New Musical Express e o Melody Maker, na introdução e divulgação das novidades da electrónica estrangeira em Portugal.[1]

Neste quadro, aquilo que começou a surgir em Chicago, a house music, foi chegando a Portugal a conta-gotas. Discos em quantidades reduzidas e todos praticamente com destinatários. O primeiro contacto com o estilo tomou-se de diversas formas, fosse através do amigo que trazia um disco depois de uma viagem a Londres, fosse por empréstimo de uma cassete pirata. Por exemplo, Zé Pedro Moura, DJ do Frágil e guitarrista dos Pop Dell’Arte, lembra-se que o primeiro single de house que ouviu, Love Can’t Turn Around, de Farley “Jackmaster” Funk e Jesse Saunders, foi pela mão do seu amigo João Peste,[2] e Rui Vargas, seu colega no Frágil desde 1988, ouviu um dos primeiros temas de Marshall Jefferson – não tem a certeza se foi The Jungle[3] ou Open Our Eyes[4] – numa cassete com o programa de rádio de Jazzie B, dos Soul II Soul.[5] Existia maior facilidade em obter informação do que os próprios discos.

Seja como for, só quando o acid explodiu no Reino Unido, em 1988, é que os portugueses começaram a ter um contacto mais directo com o que se estava a passar na música electrónica de dança. Conforme relembra Luís Leite, a influência do Reino Unido nos círculos musicais portugueses sempre foi superior à americana – ao contrário do que irá acontecer mais tarde no house luso – e isso contribuiu para que o estilo surgisse em Portugal através do contexto britânico.[6] Tó Pereira estava nesse momento em Londres com Tó Ricciardi a fazer compras para a abertura do Alcântara-Mar e deparou-se com o frenesim do yellow smiley, das roupas fluorescentes, das raves e, sobretudo, da música que o provocara. Tó, trouxe vários discos de acid house para Lisboa e foi introduzindo-os aos poucos nos últimos minutos dos seus sets. As primeiras reacções não foram positivas. Há um choque inicial inerente a uma sociedade ainda conservadora como era a portuguesa. Aliás, os assíduos do Alcântara irão alcunhar Tó Pereira o “gajo dos martelos”, que tocava “música das bolinhas”.[7]

Curiosamente, em Portugal, no caso do acid, não se assistiu a um delay da sua chegada em relação a outros países da Europa. Por exemplo, em comparação com a Alemanha Ocidental, principalmente em Frankfurt, ainda muito embrenhada na cena EBM – Electronic Body Music – e industrial de bandas como Nitzer Ebb ou Front 242, em Portugal, o acid chegou simultaneamente na mesma altura, por volta de 1988. O atraso foi outro. O que se passou de modo diferente foi a reacção a essa chegada. Enquanto em Berlim a recepção foi motivo de festa durante dois anos consecutivos, em Portugal a música foi sendo introduzida muito timidamente. No entanto, no concurso nacional de DJs desse ano, promovido pelo Disco Mix Club (DMC), já foi possível ouvir dois finalistas a tocar discos de Chicago e acid house. Jack Your Body, de Steve “Silk” Hurley, House Nation, de The House Master Boyz And The Rude Boy Of House, ou Pump Up The Volume, dos M|A|R|R|S, foram alguns dos temas.[8] Não é de admirar. As major labels, particularmente a divisão portuguesa da PolyGram (Polygram Discos) e a Vidisco, começaram a testar alguns sucessos de house no país com a prensagem nacional de máxis e megamixes. Foram os casos de Love Can’t Turn Around (1986), de Farley “Jackmaster” Funk & Jessie Saunders, o primeiro; o já referido Pump Up The Volume (1987); House Arrest (1987), dos Krush, em 7”; The Real Wild House (1988), do espanhol Raul Orellana; e os megamixes Jack Mix 88 – The Best Of Mirage – 88 Non Stop Hits (1987), Royal Mix ’89 e House Attack (1989), dos Mirage, ou, ainda, The Greatest Hits Of House Dance (1989).

Não obstante, na capital, no final da década de 80, surgiram alguns espaços comerciais que progressivamente se especializaram no que se ia fazendo no campo da electrónica de dança. É verdade que, como já foi referido, a quantidade de importações era reduzida, mas com os primeiros sucessos daquilo a que se convencionou chamar em Portugal de dance music – um rótulo muito heterodoxo que abarcava diferentes estilos – as lojas de discos, as “discotecas”, principalmente a Bimotor, a Contraverso e a Hippodrome, investiram numa maior oferta face ao progressivo aumento da procura. Nos primeiros dias de 1990, a Hippodrome, com lojas nos centros comerciais São João de Deus e Lumiar, e na Avenida António José de Almeida, anunciava nas páginas do Blitz as suas “importações directas”, com “envios à cobrança”, destacando-se da listagem de novidades Salsa House, de Richie Rich; Shame, de Nitzer Ebb; Pump Up The Jam, dos Technotronic; Forever, de CeCe Rogers; Whatcha Gonna Do With My Lovin’, dos Inner City; Italo House Mix, um megamix de Rococo; Magic Atto II, de DJ Lelewell; Move Your Body, de Tyree; It’s Over Now, de Ultra Naté; Back To Life e Get A Life, dos Soul II Soul; Loco Mia, dos Loco Mia; ou I Called U (But You Weren’t There)/Blackout, de Lil Louis & The World. Era já uma real, extensa e diversificada oferta musical entre o Chicago e hip house, acid, EBM, new beat e o então emergente euro house.[9]

No mesmo número, a Bimotor, com lojas nos Restauradores, Porto e Portimão, divulgava os discos “para começar 1990 da melhor maneira”, entre eles, Get Up, dos Technotronic; Most Wanted, de Fast Eddie; ou o álbum From The Mind Of Lil Louis, de Lil Louis & The World.[10] No top nacional, aliás, o house havia chegado ao 9.º lugar dos singles, com French Kiss, de Lil Louis.[11] Outrossim, em Maio de 1990, o DMC abrira a sua primeira loja em Portugal, nas Olaias, dedicada à venda de material para DJ (mesas de mistura, pratos, slipmats, caixas, etc.) e merchandise do grupo (t-shirts, VHS dos concursos de DJ, entre outros), que já contava com 35 membros portugueses.[12] 

Nos media, as novidades da electrónica de dança também começaram a ter especial atenção. Rui Monteiro, director do Blitz, fundado em 1984, percebeu as mudanças que estavam a acontecer no panorama musical e, sobretudo, na cultura juvenil. Foi um período de transição, que já não se circunscrevia à pop e ao rock. Miguel Francisco Cadete foi o jornalista incumbido de fazer a crítica às novidades mais frescas da electrónica de dança e de escrever sobre a nascente movida portuguesa. Outros lhe seguiram nos primórdios dos 90’s, como Miguel Santos ou Nuno Galopim. E na rádio, no dealbar de 1990, Tó Pereira era o responsável pelos 15 minutos de mistura de música de dança no programa “Central Park”, aos sábados à tarde, depois “4º Bairro”, diariamente, na Rádio Comercial. Em 1991, por conselho de Rui da Silva a Emídio Rangel, Tó Pereira transferiu-se para a Rádio NRJ – Energia, fundada nesse ano, com um programa semanal em formato DJ mix, aos sábados.[13]

DJs Luís Leite e Tó Pereira nos estúdios da Rádio Energia, 1994. DR.

A par destas dinâmicas, a abertura do Kremlin foi uma pedrada no charco e mais um ponto de uma rede ainda incipiente que se começava a tecer, quer pela arquitectura do espaço, um antigo convento, quer pela música, com a residência de Tó Pereira, quer, ainda, pela programação temática. Foi neste espaço que aconteceram as primeiras noites onde só se ouvia música de dança electrónica. Tó, que começara no Bataclan e passara pelo Beat Club, Skylab, Plateau, Swing (Porto) e Alcântara-Mar, depois de uma rápida e caricata passagem por Ibiza, em meados de 1989, acompanhou um amigo a uma entrevista de trabalho no Kremlin. Desempregado, foi também convidado a ficar, como DJ. Aceitou. Aí foi acompanhado por Mário Roque, light jockey e segundo DJ, chegado de umas experiências em discotecas da linha de Cascais.[14] As noites de sexta e sábado eram passadas até de manhã ao som de muito new beat, house, algum hip hop e do techno que chegava da Europa. Havia, pois, um movimento que, a pouco e pouco, começava a despontar. Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

 “Os putos não vão querer parar”

Não era apenas em Lisboa que se tecia a rede da dance scene portuguesa. É verdade que a esmagadora maioria do panorama nacional de diversão nocturna parecia estático, sobretudo na província, onde as discotecas continuavam com um modelo herdado dos 80’s: o clássico set das estrondosas aberturas, do rock, do pop, dos slows e dos DJs de microfone, cenário que só se alteraria em meados da década de 90. Mas foi em cidades maiores ou em lugares turísticos de veraneio no litoral que foram chegando ecos das mudanças que se verificam neste período. No Porto, no fim da década de 80, no bar No Sense já se ouviam os primeiros discos de Chicago house e a discoteca Amnésia, em Francelos, inspirada nas casas de Ibiza, com uma decoração crua de cimento e peças da indústria pesada (escapes, panelas, roldanas, entre outros), fora a primeira na região a dedicar-se apenas ao house e acid.[15] Nas proximidades, em Matosinhos, a discoteca Cais 447, inaugurada em Dezembro de 1988, começou a trabalhar igualmente nesse sentido.[16] E em Troia, na discoteca Oásis, também já se ouvia acid.

Discoteca Amnésia, Francelos, final da década de 80. DR.

O figurino do DJ começou progressivamente a transformar-se. De pessoa sem importância passou a estar no centro das atenções. Refinou os sets, quer na qualidade da música, quer na técnica, passando de uma amálgama de estilos entre fade in e fade out a uma composição musical coerente trabalhada na mistura. O microfone foi ficando para trás, existindo já, em meados dos anos 90, DJs que tocavam noites inteiras sem ter de recorrer a ele. A vinda de bandas e DJs internacionais de música de dança electrónica a Portugal, como Black Box (1990 na discoteca Mare Nostrum, na Póvoa de Varzim, na Kadoc e na danceteria Lido)[17], Snap! (1991 no Coliseu do Porto e na Kadoc)[18], Happy Mondays (1991 no Estádio José de Alvalade)[19], De La Soul (1991 na discoteca Fábrica, em Setúbal)[20] ou Ricky Morrison e Sven Väth (1990 e 1993, respectivamente, no Kremlin), foi igualmente um contributo para a mudança. Mas aquilo que marcou mais essa transformação foi o DJ sair da sua residência para tocar noutras casas, precursor do chamado freelancer. DJ Vibe marcou o início desse processo. Em 1992, sai do Kremlin por uma noite para tocar na festa organizada pela Kaos na discoteca Estação da Luz, em Aveiro, onde partilhou a cabine com os DJs Luís Leite e João Daniel. Poderá ter sido o momento mais simbólico dos primórdios dessa prática, contudo, não fora a primeira vez. Já no início de 1990, Tó Pereira havia tocado na discoteca Coconuts, em Cascais, e pouco tempo depois outros DJs reuniam-se para passar música nas primeiras festas que tentavam captar o espírito rave britânico organizadas em Portugal.

Flyer da festa na discoteca Coconuts, 1990.

Por cá, as novidades do summer of love britânico chegavam a tempo e horas. Além dos media internacionais, havia sempre alguém conhecido a trabalhar ou a estudar lá fora que dava conta do que se passava. É o caso de João Peste, vocalista dos Pop Dell’Arte, que, no dealbar de 1990, fez uma pausa na carreira e mudou-se para Londres, onde tomou contacto com a agitação raver e sobre a qual escreveu nas colunas do Blitz. Num dos artigos, intitulado “A repressão continua”, narra a repressão do governo de Thatcher sobre o movimento, concluindo que “os putos não vão querer parar”.[21] E foi verdade. Quer no Reino Unido quer em Portugal, o movimento não parou, mas nem por isso se deixou de verificar em Portugal o crónico delay quanto ao aparecimento das primeiras festas “congéneres”.

Se, em 1988, o Reino Unido já se encontrava mergulhado na acid wave, as primeiras festas que tentaram replicar esse espírito em Portugal só ocorreram em 1991. No ano anterior, já se anunciava que estava para breve a actuação de Adamski em Portugal, para Agosto,[22] mas, na verdade, só em Fevereiro seguinte se concretizou. Anunciava o cartaz a “primeira “house party” em Portugal” com as actuações de Adamski, Paul Oakenfold e Tó Pereira, em duas datas: dia 27, no Pavilhão dos Desportos e, no dia seguinte, na discoteca Cais 447, em Matosinhos.[23] Miguel Francisco Cadete esteve presente no evento de Lisboa e narrou a experiência nas colunas do Blitz, à qual lhe chamou “simulacros”. Segundo Cadete, foram pouco mais de 500 as pessoas presentes naquela noite de quarta-feira, a maior parte sentada nas bancadas do pavilhão. Os dançarinos “espalhafatosos” contrastavam com a reserva dos “defensores da causa das seis cordas electrificadas […] ou os “habitués” das matinés das discotecas de periferia”.[24] Da actuação dos DJs, Tó Pereira não se afastou muito da música que tocava no Kremlin, “house da mais depurada e dura, com grande economia de melodias”, e Paul Oakenfold, num registo mais discreto, revelou-se uma desilusão para o público português. Valeu o live act de Adamski, acompanhado do rapper Ricky Lyte, que quebrou o gelo. Parece que o que falhara foi o espaço, demasiado grande para uma primeira festa deste tipo e atendendo a um público ainda em formação. Estava tudo no início…

Cartaz das festas com Adamski e Paul Oakenfold, 1991.

Seguiram-se as conhecidas e misteriosas “raves” de Xabregas. Tudo aconteceu por ocasião da primeira Moda Lisboa, em Abril de 1991, cuja organização se deveu ao fotógrafo João Silveira Ramos. O armazém, alugado para o efeito, tinha um mezanino de madeira muito antigo onde foi instalada a cabine do DJ; a iluminação resumia-se a um único projector branco imóvel e a escassas luzes negras; o bar era numa sala à parte, improvisado entre madeiras e barricas; o piso térreo contrastava com as paredes sujas e esburacadas, num cenário industrial muito rudimentar. Nessa primeira festa, onde tocaram os DJs dos bares do Bairro Alto e também Rui Pregal da Cunha, esteve cerca de meia centena de pessoas. A estratégia publicitária foi o passa-palavra e a distribuição de flyers nas ruas do Bairro Alto. [25] O ambiente era de festa, pessoas muito diferentes, um “Bairro Alto em ponto maior”, nas palavras de DJ Al. Ainda se organizaram, durante 1991 e 1992, algumas festas “Xabregas 61” – 61 indicava o número de polícia do armazém –, mas, em 1993, já com outra equipa, registou-se uma “profissionalização” na sua organização, da responsabilidade de Paulo Nery, nas quais tocaram Tó Pereira, Rui Vargas, Tó Ricciardi e Belita.

Flyer de uma das festas “Xabregas 61”, 1993.

Foi neste armazém, aliás, que os LX-90, banda formada em 1991 pelos ex-Heróis do Mar Rui Pregal da Cunha e Paulo Gonçalves, e por Nini Garcia, Tó Pereira e Nuno Miguel, gravaram o seu primeiro teledisco, também o primeiro português a entrar no modelo MTV (MTV Brasil), com a música Da/Wah. Realizado por José Pinheiro, o vídeo fora inspirado numa daquelas “raves”, entre cenários xamânicos e formas de estar na noite – algumas personagens encenam (?) tomar ecstasy –, no qual participaram, além dos elementos da banda, General D, Patrícia Bull, Ana Marta, Júlia Schönberg, Nelson, Miguel Manaças, DJ Johnny, Alcântara Dancers e os alunos da escola de circo do Chapitô.[26] A formação dos LX-90 é sintomática da influência da electrónica britânica e da sua progressiva generalização. Muito inspirada na cena madchester dos Happy Mondays, a banda portuguesa tentou imprimir uma roupagem mais dançante à cena rock nacional, já com um intuito de internacionalização que a própria editora, a BMG, promoveu. Não foi por acaso que Tó Pereira integrou a banda, ficando responsável pelas teclas e samples. Antes de chegarem aos britânicos Sam Bergliter e Danny Steggel, produtores do primeiro álbum, que conheceram através de Tony, organizador da vinda de Adamski a Portugal, os LX-90 encetaram contactos com Paul Oakenfold com o intuito deste produzir o álbum, porém, revelaram-se infrutíferos.[27]

As festas de Xabregas não surgiram apenas pela vontade de replicar o que se fazia lá fora. Foram também uma reacção às medidas dos então secretários de Estado do Ambiente e da Cultura do governo de Cavaco Silva, Macário Correia e Santana Lopes, que levaram ao encerramento de vários espaços nocturnos no verão de 1990. Falta de licenças e violação do regulamento do ruído foram os argumentos usados pelo governo. O Kremlin encerrara por violação dos níveis de ruído e das horas de fecho e o Frágil por falta de licença para dançar.[28] Estes episódios irão gerar controvérsia no meio da noite, ocorrendo trocas de acusações entre as partes e muita sátira à volta do assunto nos media – “antes uma cárie que o Macário.”[29] Em protesto, Manuel Reis encheu a pista do Frágil com bancos.

Curiosamente, foi graças a esta situação que surgiram os after hours no Kremlin. Num episódio caricato e bem demonstrativo da capacidade particular portuguesa de dar a volta aos problemas, os irmãos Rocha conseguiram, da Câmara Municipal de Lisboa, um dos focos de resistência ao “cavaquismo”, então presidida por Jorge Sampaio, uma licença de indústria pasteleira, o que permitia abrir o Kremlin às 6h da manhã. Muitas foram as noites que o Kremlin fechava às 4h da manhã e reabria às 6h, com alguns empregados na pista de dança a servir bandejas de pastéis de nata caso alguém duvidasse da veracidade da activdade,[30] e vários foram os noctívagos que, nessas duas horas, iam até ao Tamariz, na linha, e voltavam para o after. Aí, ouvia-se Tó Pereira a tocar o techno europeu (alemão, belga e holandês), mais “duro”, com o pitch acelerado, e o emergente trance, próprio do avançar das horas.

Os bares do Bairro Alto igualmente contribuíram para esta dinâmica. O Frágil, desde a memorável festa do seu 10.º aniversário na antiga Tabaqueira, em Cabo Ruivo, para a qual foram distribuídos cerca de 3.000 convites, considerada pelos media da época, em 1992, a festa do ano,[31] e outras que lhe seguiram da sua responsabilidade, depois da parceria com o Porto de Lisboa. E o Bar Nova, de Tiago Vaz, organizara, a partir de 1994, algumas festas na Quinta do Relógio, em Sintra, que ficaram conhecidas pelas “noites das arábias”, ideia que depois viria a ser aproveitada pela rádio XFM.

Na produção musical também se começaram a dar os primeiros passos. Tó Pereira já fazia umas brincadeiras no Kremlin com um sintetizador que os irmãos Rocha lhe tinham comprado. Numa noite, Tó atreveu-se a fazer um live mashup de O Pastor, dos Madredeus, com um disco de beats, dos Soul II Soul. Pedro Aires de Magalhães estava nessa noite no Kremlin e, num episódio caricato, assim que ouviu a “brincadeira”, foi directo à cabine desancar em Tó Pereira. Estreou-se na edição discográfica em 1991, com a “Mundo Remix” para o tema Mundo de Aventuras, dos Ban.

O seu amigo Rui da Silva, um assíduo das noites do Kremlin, então técnico de som na TSF, também já se aventurava nas máquinas que ia adquirindo. A primeira experiência foi realizada também em 1991, com o regresso dos Pop Dell’ Arte, no máxi 2002/Mc Holly (1992). João Peste havia tido contacto com a cena rave em Londres e desejou introduzir na banda a frescura da electrónica, ideia à qual Zé Pedro Moura, DJ no Frágil e guitarrista da banda, certamente não foi indiferente. Rui da Silva esteve na produção dos temas e inseriu novos elementos na cena alternativa da banda: a música electrónica de dança, com a samplagem do disco de techno Kokko (1991), do italiano Digital Boy, no tema Mc Holly, e o hip-hop, pela voz de General D.

Os primeiros tempos da década de 90 são fecundos. Rui da Silva continuou a produzir. O seu primeiro disco foi um acetato cortado numa loja nas Janelas Verdes, em Lisboa, só de um lado, do qual apenas se fizeram três cópias, e o segundo disco, já com uma considerável prensagem em edição independente – Rui alcunhara a sua editora fictícia “Virtual Records” –, Dream Frequency (1992), fora produzido em Londres e cortado em Portugal.[32] Esta edição, que pode ser considerado o primeiro disco português de música electrónica de dança (house/techno), foi alvo de uma crítica positiva nas páginas do Blitz. Com quatro versões (“Techno Mix, No Voice Mix, Rave Mix e Club Mix”), Dream Frequency, “depois de umas tentativas mais ou menos mal-amanhadas”, foi o disco que inaugurou a discografia portuguesa de música de dança, segundo o crítico, “capaz de ombrear com o grosso da produção internacional média do género”, ofertando-lhe três estrelas na classificação. Concluiu: um disco “para dançar com o volume bem alto”.[33] Que o digam os noctívagos do Kremlin…

  • GET UP

Rave On

Em 1992, António Cunha, um DJ natural de Coimbra, e Rui da Silva fundaram a Kaos, produtora de festas e editora discográfica. A ideia de reunir sinergias entre a organização de festas, o djing e a produção musical, um pouco à semelhança daquilo que já se fazia lá fora, partiu de Cunha. Também pela mesma altura, os DJs João Daniel, Tó Pereira, Luís Leite (todos empregados na loja Bimotor) e Tó Ricciardi, e ainda Paula Fox e Paulo Nery, criaram a promotora Happy Zone, de existência efémera. Segundo declarações de João Daniel ao Blitz, “houve pessoas que começaram a ser individualistas” e, por isso, ele e Tó Pereira decidiram acabar com a organização e seguir caminhos distintos: o primeiro fundou com Paula Fox, sua namorada, em 1993, a Question of Time, também promotora de festas e editora discográfica; o segundo foi para Kaos – estava de saída dos LX-90 aquando da gravação do segundo álbum da banda e já conhecia Cunha e Rui da Silva do circuito Kremlin-Bimotor.

Seja como for, os dois grupos (Kaos e Happy Zone/Question of Time) organizaram em conjunto os quatro momentos que se podem considerar fulcrais no decisivo arranque e implantação da dance scene portuguesa: um conjunto de festas que ficaram gravadas na memória dos seus actores e que, ainda hoje, dão aso a muitas confusões na hora de contar a história. É necessário salientar, contudo, que, apesar de intitularem estes eventos como raves, não se pode considerar que eles o tenham sido efectivamente. Na verdade, se atentarmos ao modelo britânico, praticamente não houve raves em Portugal por esta altura. Pelo contrário, o que aconteceu foram festas minimamente organizadas. Todas eram legais e contavam com o apoio das autoridades políticas e de segurança, sendo patrocinadas por marcas comerciais reconhecidas. A única semelhança que, porventura, se identifica com as raves britânicas é a luta pelo direito de dançar até mais tarde, algo que, apesar do delay entre os dois casos, foi decisivo no período inicial no Reino Unido e nesta altura em Portugal com a controvérsia Macário Correia.

Em Aveiro, na danceteria Estação da Luz, aconteceu a primeira festa, a 7 de Dezembro de 1992. Tocaram Tó Pereira, Luís Leite e João Daniel – a notícia do Blitz anunciava ainda a possível presença do MC Walter, de Ibiza.[34] Cerca de 2800 pessoas marcaram presença naquela noite[35], uma surpresa para a organização. Rui da Silva conseguiu que o seu colega Paulo Bastos, jornalista na RTP, fizesse uma reportagem sobre o evento, acompanhando a excursão de ravers desde Lisboa até Aveiro.[36] A reportagem, além das honras de horário nobre no Telejornal do dia seguinte, foi anunciada uma série de vezes devido aos problemas técnicos da ligação com Artur Albarran, então na Somália a acompanhar a missão “Restaurar a Esperança”. Essa publicidade deu uma projecção à festa que doutra forma era quase impossível. Todo o país ficou a saber que o frenesim britânico chegara a Portugal.

Em Fevereiro de 1993, aconteceu a segunda festa, num lugar completamente inusitado, o Convento de São Francisco, em Coimbra. Segundo Luís Leite, a festa no Convento era para ter acontecido no ano anterior, mas conclui-se ser um passo arriscado, quer por motivos financeiros, quer pela incerta adesão. Tocaram os DJs nacionais João Daniel, Tó Pereira, Tó Ricciardi, Luís Leite e Belita. O programa “Portugal Radical” da novel SIC esteve presente e registou o momento. Nada de anormal, mas Tó Pereira garante que vários noctívagos se abençoaram antes de entrar na festa…[37]

Próximo do verão, em Julho de 1993, a incursão pelos espaços religiosos continuou, agora no Convento do Beato, em Lisboa, com os mesmos DJs portugueses que já haviam actuado em Coimbra, o MC Darin Pappas e, novidade, um convidado internacional, Joey Negro. É notório nesta festa um crescimento da dimensão técnica, anunciando-se 20.000 watts de som e 250.000 de luz, o que também se reflectia no preço das entradas. Se, em Coimbra, os preços dos bilhetes rondavam os 1.000$ e 1.500$, nesta festa foram 1.500$ e 1.800$, venda antecipada e venda no dia, respectivamente, em ambos os casos.[38]

DJ Tó Pereira, “Rave On”, Convento de São Francisco, Coimbra, 1993. DR.

A festa seguinte foi, sem dúvida, a que mais se destacou de todas até então realizadas. Marcou, sobretudo, uma subida de patamar na organização de “raves” em Portugal. A “Medieval Groove”, “mãe de todas as raves”, como a SIC lhe chamou, aconteceu no castelo de Montemor-o-Velho, por ocasião da CITEMOR’93, em Agosto. Organizada em parceria com o Drum Club de Londres, o evento decorreu num ambiente bastante intenso, de novidade: 30.000 watts de som, 250.000 de luz e “laser argon 3D”. As estrelas da noite foram os DJs do clube londrino Charly Hall e Ian James, o DJ norte-americano Derrick May e MC Kinky, dos E-Zee Possee. As honras da casa foram feitas pelos DJs João Daniel, Tó Pereira, Jiggy, Mário Roque, Luís Leite e o live act dos Infrarave. A par da música ainda aconteceu a anunciada apresentação, pela primeira vez em Portugal, das peças da estilista japonesa Michiko Koshino, numa inesperada passagem de modelos às 4h da manhã.[39]

1993 foi, de facto, o “ano das raves”, como afirmou o Blitz. A Kaos, depois da “Medieval Groove”, continuou o seu períplo raver pelo país (Viseu, Leiria, etc.) com a etiqueta “Rave On”, a mesma que havia usado nas festas de Coimbra e do Convento do Beato. Outros grupos, nacionais e estrangeiros, apareceram a organizar raves, como o português “Total Ecstasy”, na discoteca Fábrica, em Setúbal, no início daquele ano, com os DJs Mário Roque, Jiggy e Zé Americano;[40] a inglesa de hardcore London Beats, em Abril, no Armazém do Monte, na cidade de Vila do Conde;[41] ou a Love Movida, um conjunto de três festas (Cais 447, Foz Porto e um local anunciado surpresa) no Norte, por ocasião do Festival Europeu de Multimédia, em Agosto.[42] E até mesmo autarquias, como foi o caso da festa organizada pelo Município da Moita, no Museu da Cortiça, em Março, integrada na semana da juventude, com o macabro nome “Noite do Holocausto – A maior rave em Portugal”, na qual tocaram os DJs Ricardo (Alcântara-Mar), Mário Roque e Jiggy. O underground começou a resvalar para o mainstream, uma espécie de nova moda hedonista da qual a juventude parecia não querer ficar de fora.

Ouvia-se techno e early trance. Um dos discos mais rodados no circuito português nos anos 1992 e 1993 foi a remix dos The Jam & Spoon (Watch Out For Stella Club Mix) para o tema The Age Of Love, um bom exemplo das sonoridades mais trancey então emergentes. A mudança nas tendências da música de dança, que irá moldar o “som português”, ocorreu por aquela altura e à volta de um dos protagonistas principais desta história, Tó Pereira AKA DJ Vibe.

Em 1992, o DJ esteve uma semana em Nova Iorque, em representação da Bimotor, para uma reunião em Long Island com uma empresa de importação de música, ficando hospedado em casa de uns familiares do seu amigo e então gerente do Kremlin, Luís Amaral, promovido, depois do sucesso de So Get Up, a seu manager, o primeiro de DJs em Portugal. Era uma oportunidade única para conhecer a noite norte-americana e Tó Pereira e os amigos não a desperdiçaram. Foram à festa de aniversário de Frankie Knuckles, no Roxy, e acabaram a noite, já em modo after hours, no Sound Factory, ao som do conhecido DJ Junior Vasquez. Tó Pereira ficou surpreendido com a atmosfera do espaço, desde o sistema de som, passando pelos dançarinos, até à técnica e música desconhecida que Junior passava. Esta experiência influenciou, decisivamente, a carreira de DJ Vibe, mas, sobretudo, o que se passou a partir daí na dance scene portuguesa.

A partir de 1993, o som de Vibe alterou-se profundamente. Nos seus sets, é notória a transição das cenas techno e trancey para um house nova-iorquino mais garage e, particularmente, tribal, Manhattan style. Discos de editoras como a Nervous, Strictly Rhythm, Emotive, Eightball, Murk ou Tribal America começaram a rodar nos pratos do Kremlin e das festas onde Tó Pereira actuava, iniciando-se, assim, por muitos anos, uma tendência importante na música de dança portuguesa. Tó é o próprio a afirmar prontamente quando a entrevistadora da Red Bull lhe pergunta qual é o elemento crucial no som português: drums![43] De facto, a ligação de Vibe aos Estados Unidos é fundamental para se compreender como é que o house tribal americano se enraizou ao invés de outros estilos, como o techno da Europa central, contudo, não se deve descurar outras hipóteses, como o passado colonial português e as suas influências, dinâmicas e intercâmbios socioculturais na aceitação daquelas sonoridades, uma questão certamente a tratar noutra abordagem.

Seja como for, muito do que está nas faixas Get Up e Dance With Me dos Underground Sound Of Lisbon (USL) é resultado da noite de Tó Pereira no Sound Factory. O “espírito” da cena de Manhattan está inscrito no disco e não foi por acaso que Junior Vasquez colocou Get Up em sétimo lugar num top ten dos temas indispensáveis nos seus sets naquela discoteca, publicado pela revista iD, em 1994. Quando Tó Pereira regressou, já com mais disponibilidade após a saída dos LX-90, decidiu aceitar o desafio que Rui da Silva lhe vinha fazendo há meses para fazerem música. Ambos tinham nessa altura, em meados de 1993, discos a sair. Em Abril, foram editados os remixes (“Tó Club Mix”, “Dance Mix” e “Diz Pára Mix”) de Tó Pereira para Diz Quem Diz, dos Rádio Macau[44], e Rui da Silva, sob o pseudónimo Doctor J, estreou o catálogo da Kaos, em Agosto – a promo já circulava no ano anterior –, com o disco Não, um cruzamento experimental de house com samples do tema Não Sou o Único (1991), dos Resistência[45], o qual Tim, vocalista da banda, detestou.[46]

A dupla foi para o estúdio de Rui da Silva, na casa dos seus pais, em Queijas, e da maratona com um Atari Commodore, as TB, os sintetizadores e um sampler Akai S1000, de Tó, resultou os dois temas que compõem o segundo disco da Kaos, Chapter One: Dance With Me e Get Up. Nasce, assim, a dupla USL. A mistura das faixas foi feita no estúdio dos Delfins, Um Só Céu Studios, por Sinewave (Paula Margarida), então namorada de Rui da Silva e engenheira de som. Esse trabalho durou, segundo Rui da Silva, vinte e tal horas devido a um bug no software de produção (Cubase) relacionado com a sincronização quando se gravava em fita. Não é por acaso que em Get Up a secção rítmica, elaborada numa TR-808, entra por fade in.[47]

Rui da Silva e Tó Pereira AKA Underground Sound Of Lisbon, 1994. DR.

A letra e voz de Get Up é da autoria do californiano Ithaka Darin Pappas, identificado no disco como Korvowrong, que na altura se encontrava a viver em Lisboa e escrevia e vocalizava alguns poemas no programa “Quarto Bairro”, da Rádio Comercial. Tó Pereira passava música nesse programa e foi aí que travou conhecimento com Ithaka, convidando-o para fazer de MC nas festas da Kaos. Numa das festas em que Ithaka actuou, o seu improviso vocal no momento em que Tó tocara a versão instrumental da faixa que se viria a intitular Get Up – no DAT, o nome inicial, certamente provisório, era 303, devido ao baixo – convenceu, desde logo, os USL de que era aquilo que precisavam para fechar o disco. Ithaka entregou vários poemas a Rui da Silva, e Get Up, devido à sua abordagem “apocalíptica” – estava próximo o “derradeiro” ano 2000! –  foi o escolhido. Voltaram aos estúdios dos Delfins, desta vez para adaptar a letra e gravar a voz de Ithaka na faixa, no entanto, em Dezembro de 1992 o poema já havia sido gravado numa emissão do “Quarto Bairro” e tivera, em Março seguinte, uma versão electrónica feita por um estudante de engenharia de som de Manchester.[48]

Curiosamente, Get Up foi prensada no lado B – quando o disco saiu em Portugal apenas Luís Leite a tocava no Alcântara – enquanto Dance With Me granjeou o lado principal. Quanto a esta, uma faixa de crescendo hipnótico e bem demonstrativa da transição musical que se operava na cena electrónica portuguesa, entre as influências europeias e norte-americanas, tem a particularidade de juntar samples vocais tão distintos, desde Grace Jones (Slave To The Rhythm), passando por Age Of Love (The Age Of Love), até Moby (Go). Em suma, Chapter One fez pontuação dobrada: um excelente disco de prenuncio para a internacionalização. E, de facto, foi-o.

Antes de o disco sair, Tó Pereira enviou uma promo a um dos amigos que conheceu em Nova Iorque, um português que costumava passar música numas festas de emigrantes lusos. Numa noite, o português decidiu ir ao Sound Factory e entregou o disco a Junior Vasquez, o tal white label, identificado no sticker apenas com os contactos e o nome dos autores. Quando Paulo se dirigiu ao bengaleiro, Junior parou a música repentinamente e colocou a tocar Get Up. Foi a loucura espontânea do público quando se ouviram os primeiros versos do poema, tanto que Junior tocou a música um punhado de vezes na mesma noite: “The end of the earth is upon us/ Pretty soon it’ll all turn to dust/ So get up/ Forget the past/ Go outside and have a blast”.

A vantagem de ter o disco quase um ano sem que ninguém em Nova Iorque soubesse do que se tratava deu a Júnior a honrosa tarefa de criar o buzz à volta da faixa. Quando o disco saiu em Portugal, Tó Pereira, que, entretanto, mudara o nickname para DJ Vibe (graças a Ricky Morrison, que lhe havia dito no Kremlin: “you got the vibe man!”), enviou mais umas cópias ao amigo, o qual deu um exemplar ao DJ Casanova, residente da discoteca Palladium. A partir daqui, existem versões diferentes sobre o que aconteceu. Segundo Tó Pereira, assim que Junior soube que a sua secret weapon, afinal, já não era assim tão secreta, o DJ do Sound Factory fez chegar o contacto dos USL aos A&R de duas editoras nova-iorquinas, a Rob Di Stefano, da Tribal América, e a Kevin Williams, da Eightball Records, mas conforme as versões de Rui da Silva e Rob Di Stefano, para o primeiro, foi Junior quem pediu os contactos dos USL ao amigo emigrante de Tó Pereira e os deu aos A&R, e para o segundo, o contacto que Junior tinha era o do amigo, que posteriormente os fez chegar à dupla. No entanto, estas duas últimas versões coincidem no momento seguinte: os telefonemas foram atendidos por Rui da Silva na Bimotor, que por essa altura, em Abril de 1994, estava fora a organizar uma festa da Kaos, muito provavelmente a “Epicentro 94”, na Estação da Luz.[49]

Os USL receberam propostas das duas editoras, via fax, para a Kaos licenciar o disco. A escolha recaiu na Tribal América, cujo catálogo já gozava de considerável aceitação no circuito de DJs portugueses. Era, como Zé Pedro Moura afirma, malha atrás de malha: X e Get Your Hands Off My Man, de Junior Vasquez; Reach For Me, dos Funky Green Dogs; If You Really Love Someone, dos Liberty City; In The Presence Of Angels, dos Spiritual Experience; Y, dos Kiwi Dreams; High Frequency, dos Deep Dish; Are You Satisfied, dos Daou; entre outros. O som português encontrara um lugar para se lançar planetariamente pela mão dos embaixadores USL, mas, apesar de a proximidade do anunciado “fim do Mundo” em 2000, os DJs e produtores portugueses ainda tinham muito para fazer.

“A Paradise called Portugal”

Os USL fecharam o contracto com a Tribal na primavera de 1994. Uma das exigências impostas pela dupla portuguesa a Rob Di Stefano foi um remix de Junior Vasquez para a faixa Get Up, redenominada nessa edição So Get Up. Rob tentou demover os USL dessa ideia devido ao custo monetário, mas acabou por aceitar com a condição de um artista seu fazer uma remistura para o tema. O DJ e produtor que Rob se referia era o ainda desconhecido dos portugueses Danny Tenaglia. O lançamento foi agendado para o verão daquele ano numa edição duplo LP 12”, com os originais So Get Up e Dance With Me, a acapella, dois remixes de Vasquez (“Junior’s Factory Mix” e “Factory Dub”) e três remisturas de Tenaglia (“Danny’s “In The Light We Sleep” Mix”, “Get-Upella” e The “It’s 4 P.M. Danny, Get Up!” Dub”) de So Get Up.

Em Agosto, Rob e Danny fizeram uma tour de duas semanas pelo Reino Unido para promover um disco da editora. Aproveitando esse facto, Rui da Silva convidou-os a virem a Portugal para a grande festa que a Kaos estava a organizar para esse mês, no castelo de Santa Maria da Feira, a Feira Virtual. A equipa da Tribal estava muito cansada da digressão e com pouca vontade de continuar o périplo, mas acabou por vir a Portugal fazer mais uma data integrada na tour: “chegámos a Portugal, saímos do avião, pus os pés em Portugal e senti uma ligação automaticamente. Não queria acreditar. Tinha 27 anos e nunca tinha estado num país de língua estrangeira mas apaixonei-me assim que saí do avião”, afirma Rob Di Stefano.[50] A festa contou com os cabeças de cartaz Rob Di Stefano, Danny Tenaglia e Richard Breeden (manager da subsidiária Tribal United Kingdom) – que antes tocaram no Kremlin – e ainda o autor de Plastic Dreams, Jaydee, e o MC Man Parrish, a que se juntaram os portugueses Vibe, Doctor J, Luís Leite, Tó Ricciardi, Rui Vargas, Ruizinho, Belita e o live act da banda The Ozone.

Parece que Portugal havia encontrado o seu lugar no mundo. Os americanos e ingleses estavam fascinados com o país e tudo o que este tinha para oferecer (as praias, o sol, a gastronomia) combinado com o empolgante ambiente da emergente dance scene: as autoridades colaboravam na organização das festas, vendiam-se bebidas alcoólicas nas áreas de serviço das auto-estradas, era permitido beber a noite inteira e fumar em quase todos os locais, as drogas eram praticamente livres, enfim, o inverso daquilo que acontecia no Reino Unido. Gostaram tanto que Rob voltou, em Dezembro de 1994, para umas férias, em Fevereiro seguinte para uma festa de carnaval no Kremlin, com DJ Pierre, Richard Breeden e a cantora Joi Cardwell, e em Maio, para a Queima das Fitas em Coimbra, com Angel Moraes, Kiwi Dreams e MC Darrell Martin.[51] A curiosidade levou a equipa da novel revista Muzik, coordenada pelo jornalista britânico Ben Turner, a passar uns dias em Lisboa.  Foram ao Frágil, ao Kremlin, ao Alcântara-Mar e ao Climacz. A reacção foi tão positiva que mereceu a publicação de um artigo/guia no primeiro número que incentivava os jovens ingleses a passarem as duas semanas de férias de verão na “nova Ibiza”. Onde quer que se ia, o house sensual ao estilo de Penetrate Deeper dos Deep Dish girava nos pratos dos DJs. As lojas de discos, como a Discomundo, estavam repletas de importações norte-americanas e o merchandiset-shirts e dog tags de editoras, como a Emotive, a Eightball ou a Tribal – era uma moda entre os assíduos da noite. A complementar o artigo foi elaborado um rol de informações sobre os restaurantes, bares, discotecas, DJs, lojas de discos, programas de rádio e até um preçário de drogas: ecstasy £20 na discoteca e £15 no bar; cocaína £40 por grama ou £30 se se tivesse algum connect; haxixe £4 por grama. Lisboa era, oficialmente, a “Tribal city” para onde Rob dizia constantemente que queria mudar de armas e bagagens. “A paradise called Portugal”, foi assim que Ben Turner concluiu para descrever o ambiente de então.[52]

Luís Leite, Vibe, Rui da Silva e Rob Di Stefano, Alcântara-Mar, 1996. DR.

Toda a dinâmica descrita pela Muzik não foi obra apenas da Kaos ou de DJ Vibe. Desde 1993, e isso ficou claro nos dois anos seguintes, que começou a surgir uma proto-indústria ligada à música de dança electrónica. Além dos espaços de divertimento nocturno, começaram a aparecer mais lojas de discos especializadas (a World Music, em Braga e no Porto; e a Question Of Time e a Discomundo, em Lisboa), produtoras de eventos (a Universal Produções, de Paulo Nery, em 1993, e o X-Club, em 1995), editoras (a Warning Inc., subsidiária da Simbiose, em 1993; a World Music Records, da mesma propriedade da loja de discos, também em 1993; a Question Of Time, igualmente da propriedade da loja, em 1995), produtores e DJs (The Ozone, OLN, Kult Of Krameria, Urban Dreams, A. Paul, Model 9000), discotecas (Kadoc, no Algarve; Pacha, em Ofir; Rocks, em Gaia; Enseada, na Póvoa de Varzim; ou o Vaticano, em Barcelos), espaços de conceito after hours (Radical Foz, no Porto; Climacz, em 1994, no Jardim Constantino; as festas do Teatro A Lanterna Mágica, organizadas pelo X-Club; e a discoteca Alcatraz, em Cantanhede, gerida, no início, pela Kaos, em 1997), programas de rádio (Dance Floor, com DJ Vibe, na Antena 3, a partir de 1994) e até imprensa especializada (Dance Club, da responsabilidade de Nuno Rodrigues, primeiro, em fanzine distribuída nas lojas, em 1994; depois, revista a cores, em 1996). É possível, aliás, mapear, entre 1993 e 1996, as dinâmicas que estão subjacentes já a grupos e sonoridades que se distinguem e estabelecem, inicialmente, uma competição saudável entre si. A Kaos, muito ligada ao som americano, com DJ Vibe, Doctor J, António Cunha ou Luís Leite, mas não só, tendo, no seu naipe de produção e festas, pessoas ligadas a sonoridades mais trance, como a banda The Ozone ou o produtor leiriense Urban Dreams AKA DJ Alex S; a Question Of Time, de João Daniel, com discos deste, de A. Paul e Model 9000, de influências europeias, mais techno e trancey, com ligações à editora inglesa Bush, cujo som se podia ouvir nos after hours do Climacz, bem underground, diga-se; e o X-Club, produtora de festas techno, com os DJs Mário Roque (mais tarde X-Man), Óscar Baía, Michael Ângelo e outros DJs que tocavam em festas das restantes produtoras, como Luís Leite, Jiggy, Luís XL Garcia ou A. Paul. 

Climacz, Jardim Constantino, Lisboa, 1994. DR.

É indiscutível, porém, o papel de So Get Up e a sua projecção lá fora, que ajudou definitivamente ao burburinho criado à volta de Portugal. A edição da Kaos alcançou o 1.º lugar da chart americana do DMC (Update USA Chart), um novo recorde nacional em vésperas da edição americana e inglesa da Tribal. E, em Inglaterra, alcançou o 5º lugar da Coldcut Chart, o 4.º lugar do DMC Update UK e os lugares 90.º e 83.º, respectivamente nas semanas de 10 e 17 de Setembro de 1994, do top 100 da chart oficial do Reino Unido.[53]

O passo seguinte seria o da internacionalização nas cabines, o que aconteceu em Março de 1995. A Tribal América, por ocasião da Winter Music Conference, organizou uma tour pelos EUA, com uma representação portuguesa composta por DJ Vibe e a sua mulher, Rui da Silva e a sua namorada, Sinewave, e dois elementos do grupo The Ozone. Voaram de Lisboa para Nova Iorque e aí alugaram um minibus para iniciar a digressão. Foram a Washington, onde os USL fizeram um disco com os Deep Dish, até hoje inédito, e seguiram para uma rave em Carolina do Norte, nowhere. Regressaram a Nova Iorque e, daí, voaram para Orlando, de onde partiram para Miami.[54] Mas os esforços de internacionalização não se ficaram por este episódio. Ainda no verão daquele ano, DJ Vibe tocou na Love Parade, em Berlim, e em 1996, na festa de lançamento de Get Fired Up, dos Funky Green Dogs, alcançara, finalmente, a cabine do Sound Factory.

Naqueles anos de 1994-96, o entusiasmo e as expectativas foram as mais altas. Isso é bem visível e audível nos quatro CD’s que DJ Vibe misturou: Total Kaos, de edição conjunta Kaos/Tribal, em 1995; Tottaly Mix, gravado no Kremlin e editado pela Kaos, posteriormente licenciado para a Tribal America e UK, também em 1995; This Is Tribal, um CD duplo de tributo a Rob Di Stefano aquando o anunciado fim da editora, com dois sets dedicados exclusivamente ao catálogo Tribal; e Magic Sessions, em 1997, com a chancela da Kaos, um rol de house entre o garage e o tribal norte-americano. A relação entre Portugal e a Tribal foi tão forte que Rob fundou uma subsidiária apenas destinada ao som português, a Tribal Portugal, em 1995, de existência efémera e com um catálogo de apenas três discos, todos eles editados primeiramente pela Kaos e licenciados à Tribal: Unreleased Project, de DJ Vibe; Don’t Wait For Me, de Tó Ricciardi; e Oporto Deep Cuts, dos OLN.

Outros produtores portugueses também começaram a ver o seu trabalho reconhecido lá fora. É o caso de João Daniel, que conseguira licenciar os primeiros discos da sua Question Of Time. O primeiro, em 1995, foi um máxi com as faixas The Way, da sua autoria, e Juice, de A. Paul, à conhecida editora italiana UMM – Underground Music Movement, à belga Yeti e à inglesa Bush – esta apenas com o seu tema; o segundo, … To Eden, em 1996, saiu pela editora alemã Urban com um remix de DJ Quicksilver e que alcançara o 1.º lugar duma chart espanhola.

https://www.youtube.com/watch?v=nsMRGfsQIL8

A dance scene portuguesa começou a sair do underground para se tornar num movimento de massas. Esse fenómeno é notório quando se observa que todos os fins de semanas aconteciam festas e os vários DJs tocavam duas ou três vezes na mesma noite em diferentes locais. Em pouco tempo, de raves quase amadoras, com pouco mais de um milhar de pessoas, passou-se a eventos de considerável envergadura técnica com a adesão de 14.000 noctívagos, como foi aquele organizado pelo X-Club nos estaleiros da Figueira da Foz, em 1996, com Carl Cox, DJ Skull e Eric Powell. O X-Club teve o mérito de expandir o movimento. As festas no castelo de Monsaraz, em 1996, ou no Convento do Beato, em 1997, a 3D, que trouxe a Portugal Dave Clark, Darren Price e Dave Angel, são um indicador desse processo.

Festa do X-Club nos estaleiros da Figueira da Foz, 1996. DR.

Refira-se, igualmente, os ingleses nómadas da Total Resistance, um grupo de tendência anarquista que organizava raves de hard techno e Drum’n’Bass pela Europa, no espírito DIY, perceberam que Portugal já era um terreno fértil para os seus intentos. Andavam acompanhados com as famílias, crianças inclusive, em caravanas de camiões com cabine de DJ e fotocopiadoras para imprimir flyers, e tinham os seus próprios engenheiros, mecânicos e químicos, que produziam as substâncias que se consumiam nas suas festas. Entre 1996-97, fizeram um períplo raver pelo país em fábricas abandonadas, zonas florestais, praias, entre outros locais.[55]    

Foi, contudo, em 1997 que aconteceu o clímax desse crescendo. A convite da Expo’98, que queria um marco diferenciador e moderno de preparação à exposição, Nuno Carvalho, do X-Club, desenhou o primeiro festival de música de dança em Portugal, o Neptunus. Albufeira foi a cidade escolhida, devido à actividade turística, ainda para mais no verão, altura em que decorreu o festival, 2 e 3 de Agosto. Dedicado ao tema dos oceanos, a mascote foi um druida aquático com um tridente, cujo significado estava relacionado com a reunião das tribos electrónicas, techno, trance e house. O festival, com 4 tendas, cada uma com nome de oceano (Pacífico, Índico, Atlântico e Ártico), nas quais actuaram cerca de quatro dezenas de DJs (incluindo live acts), deu um prejuízo de 80.000 contos e a Expo’98 acabou por não estar envolvida na organização. Para o piso do terreno onde decorreu o festival, estava programado um relvado, mas tal não aconteceu. A organização, em coerência com a temática assumida, decidiu colocar areia – cerca de oito a nove dezenas de camiões carregados –, o que acartou elevados custos.[56]

Festival Neptunus, Albufeira, 1997. DR.

A ambição e as expectativas acabaram por resvalar na realidade. Portugal, afinal, não estava ainda preparado para o grande salto, como poucos anos mais tarde se veio a concluir. Apesar de acontecer uma abertura da dance scene a um público mais alargado, esse processo trouxe consigo insuficiências que se revelaram fundamentais na progressiva decadência que ocorrera a partir de 1997, fosse por falta de capacidade e experiência na organização de eventos, fosse pelos efeitos perversos dessa abertura. E isso sentiu-se muito mais na cena techno do que no house. Começaram a ser frequentes os relatos de assaltos, agressões, violações, entre outros acontecimentos que lançavam mau ambiente às festas, como afirma Eduardo Martins.[57] O aumento do consumo de drogas também acompanhou esse processo, sobretudo o ecstasy, chegando ao ponto de algumas discotecas terem de cortar a água das casas de banho, ainda que, inicialmente, não houvesse a consciência de que se estava a mexer com a saúde. A novidade acabou por se tornar em vulgaridade. Mas nem tudo foi negativo.

Em 1997, novos estilos e correntes estéticas, como o drum’n’bass, o jungle, o trip hop, o techno minimal, o Goa-trance ou o house de fusão, começaram a despontar. Consequentemente, novos artistas, espaços, eventos e editoras apareceram a promovê-los. Cite-se produtores como Alex Fx, Cool Train Crew, Cool Hipnoise, Pedro Passos ou Zé MigL; casas como A Companhia da Música (onde fora o Climacz, de vocação hard jungle e de existência efémera) e o Johnny Guitar, em Lisboa, ou o Aniki-Bóbó e a Meia Cave, no Porto; festivais, como o Boom Festival, então na Herdade do Zambujal; e editoras como a Kami Khazz ou a Lupeca. Era o início de uma nova fase na história da música de dança electrónica portuguesa.


[1] Ouvir as entrevistas já citadas a Rui Vargas, Dj Vibe e Luís Leite.

[2] https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-32-by-josé-acid-w-zé-pedro-moura-lux-frágil-pop-dellarte-020818/.

[3] Jungle Wonz era o nome do projecto de Marshall Jefferson com o vocalista Harry Dennis. Cf. Wonz, Jungle – The Jungle [registo sonoro]. Chicago: Trax Records, 1986. 1 vinyl 12”.

[4] JEFFERSON, Marshall (pres.); TRUTH – Open Our Eyes [registo sonoro]. Nova Iorque: Big Beat, 1988. 1 vinyl 12”.

[5] https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-4-by-josé-acid-w-rui-vargas-180216/.

[6] https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-5-by-josé-acid-photonz-violet-mariavapordagua-w-dj-luis-leite-170316/.

[7] https://ionline.sapo.pt/artigo/586968/dj-vibe-nunca-sai-a-noite-nao-sei-estar-a-noite.

[8] https://www.youtube.com/watch?v=16Q-lezwJnU.

[9] Blitz, n.º 271, 9 de Janeiro de 1990, p. 21.

[10] Ibidem.

[11] Blitz, n.º 270, 2 de Janeiro de 1990, p. 23.

[12] Blitz, n.º 290, 22 de Maio de 1990, p. 5.

[13] Blitz, n.º 236, 9 de Abril 1991, p. 3. E ainda cf. https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-19-by-josé-acid-photonz-violet-w-rui-da-silva-130417/.

[14] https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-35-by-josé-acid-w-mário-roque-201218/.

[15] https://www.youtube.com/watch?v=inZnQyUJVMA&feature=emb_title.

[16] Diário de Notícias, n. º45644, 12 de Março de 1994, suplemento Estilos.

[17] Blitz, n.º 319, 11 de Dezembro de 1990, p. 3.

[18] Blitz, n.º 328, 12 de Fevereiro de 1991, p. 3.

[19] Blitz, n.º 350, 16 de Julho de 1991, p. 3.

[20] Blitz, n.º 361, 1 de Outubro de 1991, p. 4.

[21] Blitz, n.º 300, 31 de Julho de 1990, p. 3.

[22] Blitz, n.º 291, 29 de Maio de 1990, p. 10.

[23] Blitz, n.º 329, 19 de Fevereiro de 1991, p. 18.

[24] Blitz, n.º 331, 5 de Março de 1991, p. 4.

[25] https://www.mixcloud.com/quanticaonline/tarde-para%C3%ADso-conversa-c-rui-vargas-yen-sung-luis-leite-e-miguel-marangas-111216/. https://www.mixcloud.com/quanticaonline/para%C3%ADso-4-by-jos%C3%A9-acid-w-rui-vargas-180216/.

[26] http://bravadanca.blogspot.com/2007/03/festa-xamnica-em-1992.html

[27] http://guedelhudos.blogspot.com/2011/07/lx-90.html. Blitz, n.º 346, 18 de Junho de 1991, p. 6. Blitz, n.º 370, 3 de Dezembro de 1991, pp. 14-15.

[28] Blitz, n.º 303, 21 de Agosto de 1991, p. 13.

[29] Blitz, n.º 458, 10 de Agosto de 1993, p. 25.

[30] https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-6-by-josé-acid-photonz-violet-mariavapordagua-w-dj-vibe-140416/.

[31] Recorde de A Capital, 22 de Junho de 1992. Cf. em https://fragil.luxfragil.com/#/story/5?pubdate=2014-11-19&anchor=.

[32] https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-19-by-josé-acid-photonz-violet-w-rui-da-silva-130417/.

[33] Blitz, n.º 393, 12 de Maio de 1992, p. 14.

[34] Blitz, n.º 418, 3 de Novembro de 1992, p. 26.

[35] Blitz, n.º 458, 10 de Agosto de 1993, p. 24.

[36] https://arquivos.rtp.pt/conteudos/rave-party/.

[37] https://www.facebook.com/watch/live/?v=4107945095912839&ref=watch_permalink.

[38] Cf. Blitz, n.º 453, 6 de Julho de 1993, p. 33 e “Rave On! Convento de São Francisco. Coimbra”, 1993, flyer.

[39] Blitz, n.º 460, 24 de Agosto de 1993, pp. 24-25.

[40] Blitz, n.º 428, 12 de Janeiro de 1993, p. 25.

[41] Blitz, n.º 440, 6 de Abril de 1993, p. 30.

[42] Blitz, n.º 456, 27 de Julho de 1993, p. 21.

[43] https://www.youtube.com/watch?v=XROPm5ElT0c.

[44] Blitz, n.º 443, 27 de Abril de 1993, p. 21.

[45] Blitz, n.º 459, 17 de Agosto de 1993, p. 20.

[46] PISTA!, n.º 00, 2018, “Entrevistas – Parte II”, p. 4.

[47] https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-19-by-josé-acid-photonz-violet-w-rui-da-silva-130417/.

[48] Ibidem. E ainda cf. https://en.wikipedia.org/wiki/So_Get_Up.

[49] Vide https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-6-by-josé-acid-photonz-violet-mariavapordagua-w-dj-vibe-140416/; https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-19-by-josé-acid-photonz-violet-w-rui-da-silva-130417/https://fb.watch/2TrD3BC15o/; e PISTA!, n.º 00, 2018, “Entrevistas – Parte I”, p. 26.

[50] PISTA!, n.º 00, 2018, “Entrevistas – Parte I”, p. 27.

[51] Ibidem.

[52] Muzik, n.º 1, Junho de 1995, p. 32-34

[53] Recorte do suplemento “Compacto”, Diário de Notícias, 23 de Agosto de 1994. E ainda https://www.officialcharts.com/artist/35639/underground-sound-of-lisbon/.

[54] https://fb.watch/2TrD3BC15o/; e PISTA!, n.º 00, 2018, “Entrevistas – Parte I”, p. 29.

[55] https://se_faz_calor____.blogs.sapo.pt/30921.html.

[56] https://www.mixcloud.com/quanticaonline/paraíso-28-by-josé-acid-photonz-amor-w-nuno-carvalho-x-club-150318/.

[57] https://www.ruadebaixo.com/dancing-the-90s-away-parte-2.html.

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