Uma sessão de “O Retrato da Rapariga em Chamas” no Cinema Trindade, com Céline Sciamma

por Alexandre Pinto,    1 Outubro, 2022
Uma sessão de “O Retrato da Rapariga em Chamas” no Cinema Trindade, com Céline Sciamma
“O Retrato da Rapariga em Chamas”, filme de Céline Sciamma
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Deu-se, no passado sábado de 24 de Setembro, a primeira das sessões organizadas entre a Fundação Calouste Gulbenkian e a Escola das Artes da Universidade Católica, em parceria com o Cinema Trindade no Porto, a propósito do Curso de Formação Avançada em Realização em Cinema e Televisão. Estas sessões unem a projecção de um filme e uma posterior conversa com o autor. Na (esgotada!) primeira data recordámos Portrait de la jeune fille en feu (Retrato da Rapariga em Chamas, 2019) com a companhia de Céline Sciamma.

Sciamma já era reconhecida por Naissance des pieuvres, de 2007 — com a mesma Adèle Haenel no papel principal — e entretanto também apareceu Petite Maman (2021). Mas Portrait teve, na sua altura, uma reacção diferente: todos pareciam sensibilizados pela obra e a generalizada crítica culminou em Cannes, que lhe atribuíu a Palma Queer e o Prémio de Melhor Argumento. Talvez por cá a nossa impressão fosse mais forte, calhasse a data de estreia do filme ter sido longe de 12 de Março de 2020.

Céline Sciamma / Fotografia de Claire Mathon

No final da projecção, Daniel Ribas, mediando público e realizadora, gizou alguns pontos de partida para a conversa; Céline respondia num delicado inglês, calcorreando três ou quatro ideias até chegar a uma impressão de ter abordado a pergunta. Rapidamente estabeleceu algumas expressões recorrentes: love dialogues, por exemplo, e o love for cinema, e repetidamente aludiu à intenção política de dialogar quer na(s) história(s) de pintoras mulheres, quer nas representações de relações queer e lésbicas.

Ao longo de cerca de uma hora orientou-nos na percepção da simplicidade nos elementos de Portrait de la jeune fille en feu: os diálogos são poéticos e românticos, e são entretecidos de silêncios onde comunicam os olhos das protagonistas. A música é usada apenas em três momentos, e nos enquadramentos há normalmente apenas dois ou três corpos, em praias, falésias, searas, interiores de um palacete iluminado pelo Sol e pelas velas. Céline responde descomplexadamente às várias questões e não tem pudor em ser clara: o amor pelo cinema está presente em vários aspectos do filme, e as emoções são importantes; a cena final, que recupera a música de Vivaldi a materializar-se de uma forma que raramente experienciamos actualmente, pretende provocar alguma coisa em nós.

O aplauso final foi generoso. A próxima sessão deste mesmo programa decorre no dia 16 de Outubro, um Domingo, com hora ainda a determinar, e terá Lucrecia Martel como convidada.

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