Uma viagem ao início da história da animação portuguesa
A animação portuguesa vive um dos seus melhores momentos. São muitos os prémios atribuídos regularmente a trabalhos portugueses feitos nesta área (como o Annie Award que Regina Pessoa levou para casa no início do ano com o seu “Tio Tomás, a Contabilidade dos Dias,”), mas tudo começou há praticamente 100 anos com um pequeno sketch humorístico animado da revista Tiro ao Alvo.
A metragem original perdeu-se no tempo, mas ainda pode ser vista graças a uma reconstituição feita a partir dos desenhos originais realizada por Paulo Cambraia.
Nos anos seguintes seguiram-se algumas experiências na área, mas o grande impulso veio da indústria publicitária de onde surgiram os primeiros grandes nomes da animação nacional, como Servais Tiago e Artur Correia.
Neste vídeo viajamos até aos primórdios da animação portuguesa e acompanhar a evolução do género, desde as primeiras experiências até às primeiras séries animadas, sem esquecer a importância que mercado publicitário teve no género.
Com o aparecimento dos primeiros estúdios publicitários, como os estúdios Kapa, Cineca ou Prisma, começou uma época ascendente para a animação portuguesa. Para manter a indústria da animação viva, os realizadores costumavam produzir por iniciativa própria pequenos anúncios animados que tentavam depois vender às marcas, num sistema de produção chamado “Ghost”. Mas o mais importante era que, independentemente da aprovação das marcas, estas animações podiam concorrer a festivais o que fez com que muitos realizadores e animações portuguesas fossem premiadas internacionalmente nesta altura.
Durante cerca de 30 anos, a animação portuguesa viveu sobretudo através da publicidade, um mercado relativamente estável que permitiu que, esporadicamente, se pudessem financiar algumas animações de autor, como aconteceu em 1971 com o “Eu quero a Lua”, de Artur Correia que mais um vez foi premiado em vários festivais de animação ou “A lenda do mar tenebroso”, produzido em 1975 por Ricardo Neto que também contou com a ajuda de Artur Correia.
Fora deste meio a animação era mais rara, mas existiram alguns nomes independentes que se destacaram no cinema de animação de autor, como Vasco Branco, Matos Barbosa ou Augusto Mota.
Com o aparecimento do Instituto Português de Cinema em 1971, o estado começou a apoiar regularmente a criação de séries e filmes de animação.
Um dos primeiros projetos apoiados foi uma série de animação sobre Contos Tradicionais Portugueses, da autoria, mais uma vez, de Artur Correia em parceria com Ricardo Neto, e que foi projetada em salas de espetáculos um pouco por todo o país. Este apoio permitiu ainda que a RTP encomendasse, nos anos seguintes, várias animações e séries como o “Romance da Raposa”, uma adaptação da obra de Aquilino Ribeiro.
É no meio deste panorama positivo que em 1977, surge o Cinanima, o festival internacional de animação de Espinho que ainda hoje existe, e que ajudou a formar toda uma nova geração de realizadores de animação e é também por esta altura que Vasco Granja começou a apresentar todas as semanas, o programa Cinema de Animação da RTP, mostrando o que de melhor se fazia pelo mundo.
Mas a partir dos anos 80 tudo mudou. Portugal foi atingido por uma enorme crise financeira que abalou o mercado publicitário. A animação começava a perder o seu espaço e os estúdios foram obrigados a reinventar-se.
Mas no meio desta tempestade surgiram os nomes que viriam a redefinir para sempre a animação feita em Portugal. Mas isso fica para outra altura.