Uma viagem pela Route 66 de Marinho

por João Miguel Fernandes,    7 Novembro, 2019
Uma viagem pela Route 66 de Marinho
Capa do álbum. Fotografia de Filipa Marinho

Estávamos algures em 2009 e Filipa Marinho era vocalista da banda de indie rock Iconoclasts, banda essa que fez algum sucesso dentro do circuito e que se caracterizava pela sua energia contagiante em palco. Dez anos depois, Filipa Marinho é agora apenas Marinho, nome artístico que adoptou por razões óbvias, e o seu primeiro álbum já pode ser escutado um pouco por toda a parte.

Com um passado, presente e, certamente, futuro na comunicação e rádio, Filipa Marinho pegou num grupo de super músicos e decidiu dar voz ao que lhe vai na alma através de um belo trabalho. ~ é um registo indie folk, com um misto de alegria e melancolia, com claras influências do folk americano.

Numa era onde tudo parece influenciado pela cultura americana, é interessante ver que o folk tem muito pouca expressão em Portugal, esse género musical tão forte na cultura dos EUA. Sim, é verdade que existem vários exemplos, desde Golden Slumbers a Tio Rex, mas grande parte dos exemplos adicionam música electrónica à mistura. Marinho mergulha nessa cultura e cria uma nova identidade, baseado nas suas experiências, na sua voz e no seu jeito único. As letras são, obviamente, um dos pontos fortes, algo que Filipa consegue construir e estruturar com mestria, tendo em conta a sua experiência em comunicação, mas principalmente a sua inteligência para a escrita.

Marinho. Fotografia de Marta Olive

“Freckles” é possivelmente a música mais original de todo o álbum, ou aquela que mistura mais elementos, remetendo-nos por vezes para um rock americano típico dos anos 90, década de grande influência para a artista. É fácil ficarmos presos a “Ghost Notes” e “Joni”, duas músicas robustas, cheias de qualidade e potencial de single, mas “Not You”, com a artista portuguesa Monday, é uma lufada de ar fresco no meio do folk puro e duro, quebrando de forma positiva o tom do álbum. “Window Pain” remete-nos para as paisagens americanas típicas da Route 66 ou do filme “Thelma & Louise”.

O ponto mais fraco do álbum é possivelmente a sua limitação a um género, o que o torna por vezes algo maçador, mas sem nunca entrar completamente na rotina, existem sempre momentos bons que nos fazem voltar às músicas. Embora não se peça algo realmente inovador, sente-se por vezes essa necessidade, ou uma necessidade de algo com mais identidade.

(ou til), é um álbum bastante sólido e sem dúvida uma excelente adição ao universo da música nacional, embora nos dias de hoje não exista nenhuma necessidade de catalogar música como pertencendo seja onde for. O que interessa é que Marinho tem aqui um bom lançamento e sem dúvida hipóteses de continuar a crescer, seja no universo folk ou num outro qualquer que queira.

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