‘United States of Love’ e os estados do desamor
United States of Love apesar do nome, não se trata de um filme sobre o amor. Pelo contrário, é um filme sobre a falta dele. A falta de carinho e sentimentos que acabam por se transformar num círculo vicioso de libertação sexual que se arrasta indefinidamente.
Polónia, 1990, a queda da URSS avizinha-se e melhores tempos se aproximam, mas não para as 4 mulheres que iremos observar ao longo do filme. Presas a um mundo sem cor e introvertido, presas a si mesmas, às suas frustrações e aos seus desejos mais íntimos que atravessam seus corpos quase como se fossem corrupção, sendo apenas vontades naturais. Nesta sua terceira longa metragem, o jovem realizador Tomasz Wasilewski retrata diversos temas, como a solidão, a sexualidade, a obsessão, tudo pairando sobre uma atmosfera vazia e sem emoções.
Tudo começa durante um jantar de família, em que observamos as diferentes particularidades em redor de 4 mulheres: Agata (Julia Kijowska), Iza (Magdalena Cielecka) Renata (Dorota Kolak) e Marzena (Marta Nieradkiewicz). Agata é casada com Jacek (Lukasz Simla) e apesar da vida sexual do casal ser pouco animada, após ato consumado não existe contacto, o físico sobrepõem-se ao sentimento, isto porque Agata tem um grande desejo pelo padre, a qual não é correspondida mas que lhe ocupa os pensamentos. Passando de desejo para obsessão temos a directora de uma escola Iza, que tem um caso há 6 anos com o médico Karol (Andrzej Chyra) mas que após a morte da sua esposa perde por absoluto todo o interesse em Iza, que entra numa espiral de autodestruição que a levam a fingir insónias para ir ao hospital e poder falar com ele, até a usar a filha dele para ter a sua atenção, tudo para não o perder. Já Renata acaba de se retirar do seu trabalho como professora, e aliando a falta de compromissos e objectivos com a sua solidão levam a com que a sua atração pela sua vizinha Marzena (irmã de Iza) se torna numa obsessão, desde a espiá-la até fingir que caiu nas escadas tudo é uma oportunidade para mais uma conversa e um contacto. A mais calma de todas, mas também aquela cujo papel deixa muito a desejar é Marzena, que sonha em ser modelo profissional enquanto o seu marido trabalha na Alemanha.
A religião encontra-se presente e o conservadorismo religioso contrasta com todo a sexualidade do filme. Não há subtilezas nem tentativas de esconder o que está a acontecer, somos confrontados com tudo, seja o sexo do casal na sua cama à inesperada e puramente física ação numa casa de banho, de Iza com um antigo aluno.
O ambiente intenso criado por Oleg Mutu (que assegurou a fotografia de 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, de Cristian Mungiu, bem como de A Gente Creature, de Sergei Loznitsa, exibido em competição no recente festival Cannes) corresponde exatamente ao temperatura emotiva que o filme pretende transmitir. Uma inevitável sensação de que falta algo, uma ânsia que se prolonga através do filme que também podemos ter em atenção nas imagens isoladas e distantes que nos demonstram a solidão destas 4 mulheres.
Mas nem tudo são rosas e o filme também os seus defeitos. O facto de o filme ter 4 personagens principais leva a com que não tenham todas o mesmo foco, como Agata que aparece na primeira parte do filme e depois nem um relance dela.
O fim não só é confuso, como parece não levar a lado nenhum. Um final minimamente decente, mas que deixa a desejar uma conclusão mais efetiva para um filme que, sem dúvida, vale a pena ver.
Artigo escrito por André Pisco, publicado no nosso parceiro Insider Film