Vê bem o que te vou dizer
Com o começo do Verão, acontece, não só o Mundial de Futebol, mas também a época dos festivais de Verão. Aquele momento que todos aguardamos desde que saiu o primeiro nome de um cartaz que se adivinha grande. Todos os anos é sempre melhor que o anterior, exceto quando usam a mesma fórmula para atrair quem só pensa em ir para colecionar pulseiras. Quem não coleciona as dos festivais, acaba por recorrer às discotecas sazonais algarvias para saciar a fome por objetos têxteis coloridos que possuem nomes sonantes da noite.
E todos os anos nós queremos estar nos mais variados festivais, mas, não conseguimos. Ora por dinheiro ou por indisponibilidade, há sempre um ou outro que nos falha. E nessas situações o que podemos fazer? Chorar a um canto e regar uma praga para que todos os artistas apanhem uma maleita? Claro que não, ficamos no conforto do nosso lar a ouvir a rádio. Porque ainda há quem faça uma boa cobertura dos mais variados eventos. Mas é qualquer um que faz isso? Não. E é aí que eu quero mostrar alguma dúvida e curiosidade.
Nos últimos anos o domínio da imagem tem sido cada vez mais avassalador, o melhor exemplo disso foi tornar o segredo da rádio público. É inevitável a presença da imagem nas grandes rádios nacionais e isso passou do estúdio para quem trabalha lá. A cada ano uma nova cara assegura a delícia de quem ainda escuta este meio muy belo. Tornou-se relevante encontrar uma cara conhecida para assegurar a presença da rádio nas camadas mais jovens. Existe algum impacto mais relevante do que aquele que está à vista de todos?
Eu cresci com uma certa mística da rádio, onde imaginava a cara das pessoas que davam a sua voz e quando descobri certas caras, nunca pensei nem associei. O caso mais relevante foi o programa “Portugalex” do Manuel Marques e do António Machado na Antena 1. Durante anos ouvi este programa como companhia nas viagens com o meu pai e o dia que eu descobri qual era o seu aspeto nunca mais consegui esquecer as suas caras. Não só por serem figuras conhecidas portuguesas, mas porque era algo que fazia parte de mim, onde algo foi aberto.
Atualmente todos nós sabemos quem são as vozes da rádio, mas também sabemos quando uma figura conhecida se junta à equipa de uma rádio para também ele fazer o que sabe melhor: entreter. Mas porquê?
Não estou a dizer que acho mal, mas tenho uma certa curiosidade em saber o porquê de ser assim. Se o leitor pensar irá ver como atualmente sabemos tudo o que acontece do outro lado dos microfones, conhecemos quem lá está e existe uma obrigatoriedade em haver alguém que é conhecido.
Qual foi o momento em que se mudou o paradigma da rádio? Em que a voz é essencial e a imagem obrigatória? O que trouxe esta mudança? No fundo é curioso pensar sobre isto e isso não é mau.
Crónica de Alexandre Venceslau Santos