‘Volcano’, dos Temples, é a erupção que não chega a acontecer

por Miguel de Almeida Santos,    14 Março, 2017
‘Volcano’, dos Temples, é a erupção que não chega a acontecer
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Os Temples não são só mais uma banda de homenagem a outros tempos. O seu som alude ao glorioso acid rock e psicadelismo da década de 60, mas é erróneo assumir que é preciso absorver uma catadupa de conhecimento musical só para poder apreciar o quarteto britânico. O primeiro álbum do grupo lançado em 2014, Sun Structures, espelha uma ambição de deixar a sua marca. “Shelter Song” introduz e resume o álbum bastante bem: o riff da música lembra The Beatles, a voz assegura-nos que é algo diferente. É composto por músicas bem produzidas pelo frontman James Bagshaw e as melodias instrumentais denotam um som característico, um certo “classicismo” de tom (evidenciado em músicas como “The Golden Throne”, “Mesmerise” ou “Colours to Life”), com riffs que ficam na cabeça acoplados à voz encharcada em reverb de James.

Há claras semelhanças entre Sun Structures e Innerspeaker, o álbum de estreia dos Tame Impala. Ambos os grupos partilham uma paixão pela estética psicadélica de outros tempos, ambos cantam numa voz aguda que se disfarça no meio de sintetizadores e guitarradas. Sun Structures foi uma boa estreia de Temples e fez surgir um novo grupo empenhado em ressuscitar e reviver o psicadelismo musical pelo qual são claramente apaixonados. Mas depois de um bom primeiro álbum, chega-nos uma sequela pouco entusiasmante. Volcano aposta em alguns dos trunfos do álbum anterior, mas não inova especialmente. Há riffs que merecem ser cantados (o “classicismo” de Temples transparece em “Certainty”, “I Wanna Be Your Mirror” ou “Mystery of Pop”), mas, de forma geral, as composições são medianas, escondendo-se sob o manto do psicadélico para nos distrair da banalidade.

Este novo CD é parte MGMT parte Tame Impala, dois universos musicais que se cruzam com uma abordagem pessoal de Temples. As guitarras aguerridas deixam de ter a mesma preponderância que tinham no álbum anterior, há um ênfase no uso de sintetizadores espaciais e uma sonoridade mais atmosférica, à semelhança de Currents dos Tame Impala. Mas ao contrário desse projecto, em que se sentem guitarras um pouco por toda a sua duração, as músicas de Volcano encharcam as músicas em teclados, deixando pouco espaço para outros instrumentos. A preocupação em fazer melodias apelativas transparece, mas músicas nem tanto. O alcance vocal de James Bagshaw também não contribui para a distinção: ao contrário de Sun Structures, em que era uma clara uma diferença de música para música, aqui a voz limita-se a imitar um ou outro riff de guitarra ou teclado que se faz ouvir, fazendo com que músicas como “All Join In” ou “Celebration” se misturem uma com a outra e sejam difíceis de distinguir.

Os Temples já provaram que conseguem fazer música de qualidade inspirados no que em tempos se fez, mas com a sua maneira característica de o fazer. Há um feeling, algo inerente ao seu modo de criação musical, mas que não é suficientemente explorado em Volcano, ao contrário de Sun Structures. Depois de se ouvir o álbum, há poucos aspectos que saltem à vista: há uma apatia emocional em relação a grande parte dos sons que escutámos. Ainda assim, alguns temas relembram o trabalho anterior e asseguram-nos de que, apesar de não estarem em forma, os Temples ainda não esqueceram como transpor o estado psicadélico para uma composição musical.

Músicas preferidas: “Certainty”, “(I Wanna Be Your) Mirror”, “Roman God-Like Man” e “Strange or Be Forgotten”
Músicas menos apelativas: “All Join In”, “How Would You Like to Go?”, “Open Air” e “Celebration”

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