‘Waiting on a Song’: uma viagem de Dan Auerbach pelo passado, no presente

por Miguel de Almeida Santos,    19 Junho, 2017
‘Waiting on a Song’: uma viagem de Dan Auerbach pelo passado, no presente
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Dan Auerbach é um explorador musical. Munido da sua guitarra, uma bonita voz com sentimento e a sua habilidade para a criação musical, o artista norte-americano oriundo de Akron, Ohio tem desenvolvido uma carreira de luxo, como membro dos The Black Keys (vocalista e guitarrista), com o seu projecto musical The Arcs (que lançaram o seu agradável álbum de estreia Yours, Dreamily, o ano passado) ou como produtor em Ultraviolence de Lana Del Rey e Tell Me I’m Pretty, o álbum mais recente dos rockers Cage the Elephant. O output musical de Auerbach não é propriamente variado e ecléctico, e mantém-se fiel às suas raízes sem sair da sua zona de conforto. No entanto, a destreza do músico está em saber conjugar elementos do garage rock e blues de uma maneira apelativa e sem cair (muito) na repetição. Ao longo dos anos tem conseguido captar a atenção do público em todos os projectos que trabalha.

Para além dos projectos referidos, Dan Auerbach também já se aventurou numa carreira a solo; Keep It Hid lançado em 2009 foi o seu primeiro álbum, um projecto composto por um conjunto de músicas prazeroso, que deambula entre o blues e o rock com uma destreza que revela experiência e um entendimento da sonoridade e essência desses géneros musicais. No meio desta paisagem sonora, a voz de Auerbach soa inconfundível e por vezes escondida atrás de um “manto” lo-fi, a lembrar os inícios da carreira de The Black Keys e o álbum de estreia da banda, The Big Come Up. Mas em Waiting on a Song, o seu álbum a solo lançado agora, o caminho tomado é outro. Este novo álbum soa como uma ode à nostalgia, sons do passado revisitados num novo século. Parece que Dan decidiu juntar todas as influências que o fizeram apaixonar-se por música e trilharam o seu percurso num álbum acessível mas sem nada de particularmente interessante.

Logicamente há uma maturidade musical em relação a Keep It Hid, e Waiting on a Song soa mais focado, mais decisivo e menos “espalhafatoso” e lo-fi. É o culminar da aprendizagem de Auerbach ao longo dos anos, mas no decorrer do álbum não conseguimos não deixar escapar um bocejo. Há músicas que nos lembram o encanto de Auerbach: em “King of a One Horse Town”, uma das melhores do álbum, ouvimos a sua voz característica soar como sempre soou, rouca e sentida, a discutir o triste fado de um homem que teme o seu falhanço sem conseguir ultrapassar o possível erro em prol da vitória, acompanhada de violinos inspirados no trabalho de Ennio Morricone, quase a soar como um western. “Cherrybomb” mostra uma voz “desafiante” e “provocadora”, acoplada a um baixo contagiante que alimenta a música, com a guitarra deslizada a contribuir para a sonoridade rock da música.

Não há canções más neste projecto, e há uma boa incorporação de elementos “antigos”: a faixa título começa com a sonoridade jovial característica de Auerbach mas depressa revela uma música meio country e blues, e em “Livin’ in Sin” deparamo-nos com um blues descontraído em que quase que se ouve o “arranhar” do vinil que esta música tenta capturar. No entanto, há ideias que são demasiado esticadas e sem conteúdo suficiente para liderarem uma música. Temas como “Shine on Me” ou “Show Me” são exemplo disso: a primeira tem todo aquele encanto “barato” de single, parecendo que foi escrita só para ser o single do álbum, e o constrangedor verso “Now I’m like a four leaf clover/’Cause I hide from everyone” também não ajuda a música. E “Show Me” parece escrita à pressa, simples e semelhante a um suspiro pouco inspirado, um final pouco satisfatório de um álbum mediano.

Certamente que os fãs do músico e da sua discografia ficarão satisfeitos com este álbum. Tem todos os seus trunfos e todos os sons a que o músico norte-americano já nos habituou. Mas não é um dos seus projectos mais inspirados, tem uma certa aura apressada, como se as músicas precisassem de mais tempo para “respirar”. Nos seus piores momentos, a repetição alia-se à fartura numa sonoridade que não consegue cativar. Nos melhores, relembra-nos o encanto de Dan Auerbach e o conforto com que se embrenha pela sonoridade que conhece tão bem.

Músicas preferidas: “King of a One Horse Town”; “Cherrybomb”; “Undertow”

Músicas menos apelativas: “Shine on Me”; “Show Me”

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