‘Westworld’: Condenação à Realidade vs Utopia
Por vezes recordo-me do propósito das minhas ações. Uma busca contínua de fuga à realidade. Sempre vivi mais tempo na minha imaginação do que na minha realidade. Escrevo para fugir à condenação que é tudo aquilo que me rodeia, fora do meu ser. São raras as vezes em que me sinto feliz com a visão da realidade e mesmo quando feliz com tal visão, ainda assim procuro desaparecer, ser invisível ao real.
É quando estou a cair no inconsciente, naquele abismo tão meu, que mais sentido consigo fazer de tudo, e é aí que vejo o eu com mais clareza, liberto das correntes da escravidão da realidade.
A minha realidade é ébria de inconsciência onde a linha é tão ténue e ao mesmo tempo tão clara e é nesta dicotomia que procuro mundos utópicos não reais numa fuga à condenação da realidade.
Recentemente estreou uma série peculiar, Westworld. Uma criação de Jonathan Nolan, Lisa Joy e J. J. Abrams baseada no filme homónimo de ficção científica, de 1973, escrito e realizado por Michael Crichton, o autor dos livros que deram origem a Jurassic Park.
Em Westworld, e sem querer levantar muito o véu, há um mundo onde a fuga à realidade é possível. Onde é possível explorar uma outra realidade, não nossa, um mundo alheio e desconhecido excluído da exaustão do nosso quotidiano.
Westworld delinea aquilo que a nossa imaginação tem vindo a contemplar desde há vários séculos. Um mundo onde a alteridade do ser seja possível, onde a fuga à nossa realidade, a invisibilidade ao nosso real não mais seja uma ilusão. Evidentemente que, como visitantes deste mundo alheio a nós, temos noção de que nada do que vemos é real, nada pertence à nossa realidade, mas temos também total perceção de que ali quebramos a condenação à nossa realidade, aventurando-nos numa utopia.
Numa outra série, também da autoria de J. J. Abrams, LOST, foi referido que algures na ilha haveria uma caixa mágica e dentro dessa caixa estaria precisamente aquilo que imaginássemos. A nossa imaginação é nesta nossa realidade a caixa mágica e os mundos utópicos a explorar são aquilo que a caixa esconde dentro de si. Para abrir a caixa falta-nos somente que o mundo utópico deixe de ser produto do inconsciente e seja essência do consciente.
Texto de Joana Sousa