‘Whack World’: o hip hop audiovisual de Tierra Whack
É porteira num complexo residencial de Philadelphia e até há um mês tinha pouco mais de 20 mil seguidores no Instagram. Mas Tierra Whack veio para agitar o mundo do hip hop, e o seu álbum-conceito Whack World pode valer-lhe um passo largo no caminho do estrelato.
Whack World é muito mais do que um álbum. Tem 15 faixas, cada uma com apenas 60 segundos de duração. A música – uma mistura de hip hop e Rn’B com tons de soul, jazz e gospel pelo meio – é acompanhada por uma curta-metragem de 15 minutos. 15 cuts com cenários e histórias diferentes. 15 teasers de um minuto – perfeitamente ajustados ao formato Instagram – que nos fazem querer ver e ouvir mais.
Logo à entrada, em “Black Nails”, os acordes de um wurlitzer definem o tom do álbum – meio soulish e muito melódico, convocando uma sonoridade não distante de Noname, Tyler, The Creator ou Chance the Rapper, por exemplo. Mas, logo ao fim do primeiro minuto, percebemos que este filme dá muitas voltas.
Passando por temas dispersos – como o papel das mulheres afroamericanas na sociedade moderna, em “Bugs Life”, a ditadura da imagem e do estilo de vida fit, em “Fruit Salad”, ou a morte de animais de estimação em “Pet Cemetery” – e numa sonoridade multifacetada, que vai desde o Rn’B de “Cable Guy”, ao country de “Silly Slam”, mas sempre com o hip hop na mira, somos conduzidos por uma narrativa de imagens e sons que nos leva por caminhos inesperados e que tanto nos transporta de volta à infância, como nos dá uma perspetiva crítica do presente e do futuro.
É certo que, pela sua natureza, este trabalho pode parecer demasiado experimental ou mesmo inacabado, ficando aquém do que tipicamente esperamos de um disco. Muitas das músicas acabam abruptamente, sem fades nem resoluções. Sinal dos tempos, é um álbum muito “fast and easy”, pronto a consumir nas redes. Mas – precisamente por isso, talvez – não deixa de ser uma proposta válida e, no geral, um esforço de inovação bem conseguido, que nos deixa mais curiosos do que desiludidos.
Tierra Whack é, por isso, uma aposta no futuro do hip hop. Um “breath of fresh air” pronto para nos mostrar que ainda é possível inovar e surpreender. Goste-se ou não do género, Whack World convida-nos a entrar numa viagem audiovisual diferente e divertida. Quem não quer pegar nas malas e partir?
Crítica da autoria de Inês Magalhães Correia