Wild Beasts: Um caminho forjado pela lascívia

por Bernardo Crastes,    21 Outubro, 2016
Wild Beasts: Um caminho forjado pela lascívia
capa do disco
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Para quem não conhece, os Wild Beasts são um quarteto vindo do Reino Unido. É complicado descrever o género de música que fazem, pois estão constantemente a mudar a sua sonoridade. Se for realmente necessário inseri-los numa caixinha, poderemos inseri-los no indie rock, termo que hoje em dia não tem significado algum. Nem é isso que interessa aos Wild Beasts. O que lhes interessa é ver mulheres bonitas e fazer músicas sobre moralidade, beleza, amor e sexo. Um percurso resumido da banda segue-se nos próximos parágrafos, antes de chegarmos ao ano de 2016.

Começaram em 2008, com o álbum Limbo, Panto e músicas que misturavam o art rock com a cultura vaudeville e músicas de cabaret, resultando numa mistura sónica invulgar. Sendo então bastante jovens, nota-se-lhes um certo impulso imberbe, com hormonas aos saltos, mas apresentam já bastante rigor nas canções e uma cultura acima do normal. Um excelente exemplo é a primeira canção que deram a conhecer ao mundo, Brave Bulging Buoyant Clairvoyants. De início poderá ser estranho ouvir as vozes peculiares dos dois vocalistas, Hayden Thorpe e Tom Fleming, com o falsetto operático do primeiro e o barítono do segundo, mas não há como negar que são incríveis.

Apenas um ano depois, apresentam Two Dancers, o álbum que os catapultou para as bocas do mundo da música alternativa, figurando em listas dos melhores álbuns de 2009. Com as hormonas mais contidas, as canções apresentam melodias deliciosas, com uma sensualidade subliminar que faz as pernas estremecerem. As vozes também estão mais domadas e amadurecidas, adequando-se ao novo estilo mais suave e texturizado que arranjaram, que roça o dream pop.

Em 2011, lançaram Smother, a verdadeira refinação do som que haviam atingido no álbum prévio. Adicionando toques mais clássicos e um som mais minimalista, com uma maior envolvência de sintetizadores, fizeram aquele que é possivelmente o seu melhor álbum. Quiçá mais complicado de penetrar, mas a claridade e produção imaculada fazem com que as melodias e letras sinuosas se insiram no nosso cérebro. Um exemplo ideal será Bed of Nails, que apresenta um refrão absolutamente lindíssimo; uma ode ao amor.

Após o hiato mais prolongado da banda, chega a  maior surpresa, o primeiro single de Present Tense de 2014. Chama-se Wanderlust e é uma canção conduzida maioritariamente por sintetizadores e uma batida forte, que primeiro se estranhou após o minimalismo das canções anteriores. No entanto, essa canção e o álbum revelaram-se autênticas pérolas, um álbum surpreendentemente rico em texturas diferentes do que haviam feito antes, mas sem elementos a mais, que arruinariam a estranha pureza das letras intrincadas, que no fundo são tudo menos puras.

Eis que chegamos então a 2016. Este realmente foi um ponto de viragem. Um rock sujo, electrónico, quase robótico, com influências industriais, povoa Boy King. Continua a soar a Wild Beasts pela produção certeira, em que tudo está exactamente onde deve estar. No entanto, é um álbum divisivo para os fãs da banda. Se por um lado mantém a base da sonoridade da banda, parece que os aproximou de músicas mais lineares e indistinguíveis de outros artistas.

As suas canções sobre sexo e desejo soam agora menos ornadas com letras dignas de poemas, tornando-se mais básicas. É um álbum carregado de uma masculinidade opressiva que, por vezes, até os faz parecer homens em plena crise de meia-idade. Continuam com ideias interessantes, mas pouco exploradas, como se estivessem mais interessados em definir um estilo musical funk à la Wild Beasts. As letras demasiado ornadas soariam talvez pretensiosas com uma base sónica como a do álbum, pois o que é certo é que o álbum soa a tudo menos pretensioso.

Todas estas inferências vêm dos primeiros contactos com o álbum. Algumas mantêm-se, mas outras dissipam-se com audições subsequentes, pois não há como negar que os Wild Beasts sabem construir canções. O álbum é inegavelmente sexy, povoado de baixos sedutores e batidas aveludadas.

Tendo em conta o percurso que a banda tem feito, quem sabe o que trarão para a mesa nos próximos álbuns? Já esperamos um pouco de tudo. O que sabemos é que devemos esperar sempre um certo nível de qualidade, assim como intensas performances ao vivo.

Os Wild Beasts estarão esta segunda-feira, dia 24 de Outubro, no MusicBox num concerto inserido no Jameson Urban Routes e há muito esgotado.

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