“Working Woman”, de Michal Aviad: movimento Me Too israelita

por Bruno Victorino,    19 Setembro, 2019
“Working Woman”, de Michal Aviad: movimento Me Too israelita
“Working Woman”, de Michal Aviad
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No âmbito da abertura do 12.° Dias do Cinema Israelita, que decorre de 19 a 22 e Setembro no Cinema City Alvalade, foi apresentado o filme “Working Woman” de Michal Aviad. Habitualmente associada à realização de documentários, a cineasta israelita envereda agora pela ficção, numa obra vincadamente ligada ao movimento Me Too, contra o assédio e a agressão sexual.

Orna (Liron Ben-Shlush) é contratada como assistente no ramo imobiliário. Com 3 filhos em casa e o marido com dificuldades em estabelecer o seu novo restaurante, a protagonista vivencia uma ascensão meteórica no trabalho, derivada da sua competência, reconhecida peremptoriamente pelo seu chefe, Benny (Menashe Noy). No entanto, as intenções do empregador revelam-se perversas, deixando Orna – e o espectador – desconfortável, com os seus atos progressivamente ameaçadores e invasivos. 

“Working Woman”, de Michal Aviad

Aviad e o seu Diretor de Fotografia (Daniel Miller), seguem a protagonista em planos longos com câmera na mão, numa tentativa de melhor mimetizar a realidade, tendência que poderá resultar das origens da realizadora enquanto documentarista. Esta instabilidade da imagem encontra paralelo com a instabilidade psicológica de Orna, no seu progressivo confronto com situações de enorme ambiguidade moral, criando uma experiência intimista para o público. A representação de Liron Ben-Shlush constitui-se como a grande âncora do filme, expressando o seu tumulto interior com nuance e moderação, não caindo em overacting e sentimentalismo exagerado.

“Working Woman”, de Michal Aviad

A abordagem, em linguagem cinematográfica, de temas tão delicados como o assédio sexual, comporta sempre uma dimensão ética na forma como as imagens são projetadas ao espectador. A cineasta israelita tenta abster-se ao máximo do sensacionalismo, não deixando, no entanto, de tropeçar em alguns clichês. A ambiguidade, presente na narrativa até ao fatídico momento da agressão (um plano ininterrupto, difícil de suportar), acaba por se dissipar, tingindo as personagens e situações em tons demasiado preto e branco. As reações de Benny (confrontado com o pedido de demissão) e do marido, Ofer (ao tomar conhecimento do assédio), resvalam em lugares-comuns. O próprio final do filme oferece uma catarse demasiado frágil, considerando o trauma inerente ao arco narrativo de Orna.

No final sobra um sabor agridoce, um filme que retrata um tema fundamental e incontornável da atualidade, fundado numa boa atuação de Ben-Shlush, mas cujos caminhos traçados – fundamentalmente no 3° ato – o impedem de se afastar declaradamente do cinema de moda de festival, que explora os temas mais em voga a dado momento, mas com efémera resistência ao tempo.

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