‘Yours Conditionally’, dos Tennis, comprova que afinal os anos 70 não acabaram
Ninguém pensou que os Tennis durassem tanto tempo. Um casal que fez um álbum para documentar a sua expedição náutica, encetada ao longo de oito meses, e que parecia não ter muito mais para dizer. No entanto, aqui andam eles, a lançar álbuns e EPs regularmente desde 2010, nos quais figura o mais recente Yours Conditionally. Curiosamente, este último surge após mais um período passado a velejar, quiçá com a ideia de buscar inspiração.
Yours Conditionally é composto por 10 canções que são o sumo daquilo que a banda tem vindo a fazer; a refinação do seu som twee pop, com claras homenagens às décadas de 60 e 70. A produção está mais limpa, algo que assenta bem no som solarengo e cristalino.
“Modern Woman” é o momento mais bem conseguido do álbum. A melodia lindíssima e calmamente dedilhada desemboca num refrão tão lo-fi que a canção quase não consegue conter a emoção por si conjurada, escondendo a frágil voz de Alaina Moore de uma forma que não a reduz, mas que a torna ainda mais emotiva. Juntemos à música o vídeo fenomenal e evocativo (aqueles caracóis!) e temos, provavelmente, o melhor daquilo que os Tennis produziram até hoje. Por essa altura, estamos quase no fim do álbum, altura em que a belíssima e tropical “Island Music” leva a ideia da música de Verão (em que praticamente todo o catálogo da banda se encontra) a todo um outro nível.
“Matrimony” e “My Emotions Are Blinding” são mais exemplos de melodias bem utilizadas em refrões infecciosos, daquelas que ficam no ouvido após ouvir o álbum, mesmo que não saibamos exactamente de onde elas vêm. Isto é porque, com alguma desatenção, as canções podem misturar-se umas com as outras, nomeadamente as mais indistinguíveis.
As letras são simples e normalmente pintam um mundo em que tudo é cor-de-rosa (como a tonalidade da capa), sem olhar muito para fora das limitações que a alegria e tristeza comedida desse mundo impõem. No entanto, têm alguns toques de mestria métrica e o subvertimento sarcástico de “Ladies Don’t Play Guitar”, em que Moore canta sobre não tocar guitarra e viver para acompanhar o marido na sua demanda musical, o que claramente não corresponde à realidade e demonstra um humor mordaz da sua parte.
Olhando para trás, podemos traçar o percurso dos Tennis como uma exponencial crescente. Não que este Yours Conditonally seja uma obra-prima, nem que os álbuns anteriores sejam para descartar. A carreira da banda tem sido extremamente consistente em termos de fazer música prazerosa e descomprometida, mas realmente nota-se uma progressão natural que vai culminando a cada lançamento, sinal do desenvolvimento artístico e pessoal do casal, apesar do seu som se manter essencialmente na destilação das suas influências musicais, sem pioneirismos. Para já, Alaina Moore e Patrick Riley encontram-se satisfeitos a criar assim.
Essencialmente, este é um álbum que não existe para nos desafiar, nem para desafiar as barreiras da música, e sabe isso. Coloca-se numa posição confortável de uma forma inocente, uma que dificilmente fará com que alguém desgoste do mesmo. Sem ser transcendente, é um muito bonito testemunho. Encare-se a sua audição como ir velejar: faz-nos felizes, mas, quando em demasia, também pode enjoar. Sabe bem tirar o barco da marina de vez em quando.