10 anos de “El Camino”, dos The Black Keys
Estávamos quase a fechar portas a 2011 quando a célebre dupla de Akron, cidade no estado de Ohio, composta pelo guitarrista e vocalista Dan Auerbach e pelo baterista Patrick Carney, lançava o sétimo álbum de estúdio: El Camino, de seu nome. Após o sucesso tremendo de Brothers, lançado em 2010, os The Black Keys elevam a fasquia quando as expectativas em relação a um novo trabalho musical passado apenas um ano eram bem altas. El Camino, viria a ser um álbum que viria a dar uma maior pujança ao rock dos The Black Keys, que se mostrava mais maduro e vivo do que nunca. Ainda hoje, aqueles que apreciam o reportório do duo norte-americano fazem questão de ouvir El Camino como se tivesse sido lançado ontem. E a verdade, é que o ontem foi há precisamente dez anos.
Cada álbum dos The Black Keys faz por trazer uma nova vertente musical, permitindo ao duo elevar ainda mais o seu reportório. El Camino traz-nos um garage rock intenso com fortes predominâncias do blues, algo que já era comum na dupla, e também com fortes influências da soul music, surf rock, e até do próprio rock n’ roll mais clássico, que viriam a tornar este num trabalho notório. Os coros de fundo, bem como os teclados enérgicos do produtor Danger Mouse, acabam também por tomar conta das canções deste álbum, algo que consegue também diferir um pouco em relação aos trabalhos anteriores. A capa, que exibe uma Plymouth Voyager, a carinha que o grupo utilizou nas suas primeiras tours, trata-se de uma inside joke. El Camino é também o nome de um modelo da Chevrolet, que fora também um dos mais conceituados carros nos Estado Unidos.
Com isto, o duo quis atribuir o nome El Camino ao caminho de que o álbum é feito, não olhando ao veículo utilizado na sua viagem, fazendo uma espécie de brincadeira com o modelo de carro que era suposto aparecer na capa. Até porque El Camino trata-se de um álbum perfeito para se ouvir pela estrada fora. Gravado entre Março e Julho de 2011 pela editora Nonesuch Records, o álbum viria a ser lançado a 6 de Dezembro do mesmo ano. Contudo, algumas das canções foram dadas a conhecer anteriormente no formato single, o que alimentava também as expectativas quanto a este novo trabalho dos The Black Keys.
O álbum inicia-se com a história de um rapaz solitário com uma canção fizera um grande sucesso quando fora dada a conhecer no formato single em Outubro desse mesmo ano. Lonely Boy, é hoje reconhecida com uma das mais emblemáticas canções do duo norte-americano, e que conta com uma matriz forte do rock bem como uma letra divertida sobre um rapaz solitário que procura o seu amor. O videoclipe, lançado no youtube, consiste numa dança engraçada interpretada por Derrick T. Tuggle num plano simples e algo amador, e que contou com perto de meio milhão de visualizações no dia em que fora lançado. Lonely Boy fazia assim prever que o novo trabalho dos The Black Keys teria tudo para ter sucesso.
Segue-se Dead and Gone, que apresenta um rock efusivo e uma letra que mostra o cansaço de alguém, numa canção que conta com a forte percussão de Patrick Carney bem como a qualidade dos riffs de guitarra já bem conhecida de Dan Auerbach. Diante do caminho desta aventura musical, deparamo-nos ainda com ouro num tecto que aparece na canção Gold on The Ceiling. Os riffs de Dan Auerbach acabam por dominar a melodia tornando-a numa canção bem viva que consegue animar ainda mais o álbum.
Em tom de balada, iniciando-se com o dedilhar de uma guitarra acústica surge Little Black Submarines, sendo esta considerada ainda hoje uma das canções mais belas dos The Black Keys. A letra e o modo como a canção é interpretada conseguem formar uma agradável simbiose. A meio da melodia, Dan Auerbach troca a guitarra acústica pela eléctrica numa explosão musical que conta com a bateria incansável de Patrick Carney, tornando esta numa canção bastante notória dentro deste álbum. Run right back volta a trazer o rock alegre, vivo e acelerado dos The Black Keys tal como Money Maker e Sister, que se apresentam num compasso mais lento do que a canção anterior.
Hell of a Season, conta novamente com uma explosão do rock dos The Black Keys numa canção ao seu estilo com a frase “In This Hell of Season give me more one reason to be with you” a marcar o refrão. Já Stop Stop, engloba uma vertente mais soul onde os instrumentos se encontram mais comedidos, dando uma maior fluidez à melodia em si. Nova Baby, traz uma vertente alegre numa canção vivaça onde teclados são altamente predominantes, mostrando assim novas nuances neste álbum. Por fim, o álbum termina com Mind Eraser, canção com uma vertente um pouco mais dramática do que as restantes, remete para uma pessoa que se pretende esquecer de outra tornando-se assim num apagador de memórias.
El Camino continua hoje, uma década após o seu lançamento, a ser reconhecido como um álbum que projectou ainda mais os The Black Keys no universo musical. Dez anos depois, notamos que o tempo passa a correr quando ainda ontem testemunhávamos o lançamento deste álbum que viria a atingir picos de vendas, e que valeria ao duo norte-americano um importante marco na sua carreira. Dez anos depois, os The Black Keys continuam a envergar por novos trabalhos, procurando sempre adicionar uma vertente nova que permita também uma reinvenção constante do seu próprio rock. Dez anos depois, estamos mais velhos e a idade é uma coisa que vai pesando aos poucos. Contudo, as bandas e os intérpretes que nos acompanham e que tornam as suas canções quase inalteráveis com o passar dos anos, fazem com que a idade seja uma coisa praticamente inócua. E os The Black Keys são certamente uma dessas bandas que têm a proeza em nos fazer sentir assim, eternamente jovens, por mais anos que passem.