#14 Essenciais do Cinema – Tokyo Story (1953)
Tôkyô monogatari (1953)
Realizador: Yasujirô Ozu
Protagonizado por: Chishû Ryû, Chieko Higashiyama e Sô Yamamura
Pessoalmente, sempre gostei de interpretar os filmes de Ozu como uma descrição da sociedade do pós-guerra japonesa, com uma crescente indústria e economia. A vida apressada e cheia de coisas para fazer, em que o trabalho domina e a família tem um papel pouco relevante, é caracterizada por Ozu de uma forma quase chocante, mas ao mesmo tempo discreta. A obra-prima utiliza uma família japonesa como condutor da descrição de uma típica família japonesa da classe média. Tôkyô monogatari é a continuação da trilogia de Noriko, cuja personagem principal é o centro dos problemas familiares de um Japão em crescimento e cada vez mais atarefada e que, neste filme, interpreta o papel de nora dos pais. Noriko interpreta a personagem do senso comum e do bem. Ela é a pacificadora de uma família que parece, por vezes, desligada de si própria.
Conta a história de uma família que vive em Tóquio, já na altura uma das mais movimentadas cidades do mundo. A família recebe a visita dos pais, no entanto ela não parece ter muito tempo para eles, principalmente devido a razões profissionais. Igualmente, a falta de vontade ou até interesse podem ser argumentos válidos para a tal falta de tempo. Apesar de sempre ter apresentado os seus filmes de forma ligeira – pegando em temas difíceis e transpondo-os para o ecrã de forma subtil e leve – Ozu decide neste filme apresentar uma face um pouco mais crua, demonstrando de forma mais emocional e dramática o problema enfrentado por esta família. É um dos filmes mais violentos, emocionalmente, e mais dramáticos da filmografia de Ozu. Exemplo disso é a última meia-hora do filme, com o conhecimento da grave doença da mãe, e com a respectiva reacção de cada um dos familiares, inclusive a reacção de Noriko que tem a resposta mais esperada de todos os familiares, mesmo não tendo ligação legal com os sogros, após a morte do marido.
Tôkyô monogatari foi considerado o melhor filme de todos os tempos, em 2012, batendo a quase invencibilidade de Citizen Kane e Vertigo. É um dos mais impressionantes e chocantes registos do cinema e um membro obrigatório da nossa lista de Essenciais do Cinema.