#21 Essenciais do Cinema – La Vita è Bella (1997)
Se estás a ler isto é porque chegaste ao “Essenciais do Cinema”– uma nova rubrica da CCA para quem quer descobrir um pouco mais. Com temáticas menos generalizadas, por vezes menos actuais mas igualmente relevantes. Com tudo isto, é normal que por aqui encontres – e temos mesmo de te avisar – mais texto. Bem-vindo ao “Essenciais do Cinema”.
La Vita è Bella (1997)
Realizador: Roberto Benigni
Protagonizado por: Roberto Benigni, Nicoletta Braschi e Giorgio Cantarini
Tem uma forma mágica de impressionar e permanece na memória de qualquer pessoa que o vê. É um dos mais sinceros e sentidos filmes alguma vez produzidos e, na minha opinião, é o último filme perfeito na história do cinema, pelo menos até este momento. Claro que a expressão anterior pode ser vista como exagerada e, para muitos, como um disparate, mas se a essência do filme foi captada e se o verdadeiro objectivo compreendido, então acho que não há muitas razões para discordarmos.
É incrivelmente realizado, escrito e protagonizado por Roberto Benigni, lançado em 1997. “La Vita è Bella” é perfeito em vários sentidos: elenco, argumento, desempenho dos actores, produção, história, guarda-roupa, realização e banda sonora. É um dos poucos filmes que consegue fazer rir e chorar o espectador. Tem a estranha capacidade de crescer, ao longos dos anos, permanecendo os momentos cómicos na mente dos mais novos, e os momentos dramáticos na mente dos mais velhos. É, igualmente, um filme muito pessoal, já o devo ter visto mais de 15 vezes e, sempre que o vejo, emociona-me seja pelo lado cómico como pelo lado dramático.
O filme segue a história de Guido Orefice, um simples judeu que se apaixona pela sua “principessa,” Dora. Casam, têm um filho, Goisuè, e vivem felizes, mas são separados e levados para um campo de concentração. Apesar de vários momentos trágicos e dramáticos, o filme nunca esquece a essência cómica, mantendo uma boa onda de comédia a fluir. Por entre os momentos trágicos, vê-se alguns cómicos e isso ameniza a tragédia de uma história que, logo desde início, vai terminar mal. Até nesse aspecto, Roberto Benigni supera-se. Não é um actor fenomenal, é um bom actor cómico, mas o que não tem de actor, tem de realizador. Benigni, quase surpreendentemente, arrecada no ano dos Óscares umas incríveis duas estatuetas, como melhor actor e melhor filme estrangeiro, no entanto falha na categoria de “Melhor realizador”. O desempenho dos actores é exemplar, apesar da melhor actriz de todos ser Nicoletta Braschi, mulher de Benigni na vida real e no ecrã para este filme (e em quase todos os filmes dele, diga-se de passagem), é consensual que o desempenho de todo o elenco é de encher o olho. Benigni – que já tinha na sua filmografia a interpretação e realização de filmes mais descontraídos e leves – tem aqui a sua obra-prima, realizando e protagonizando um portento de essência trágica e emocional, com uma fenomenal parelha no âmbito da comédia. Menção honrosa para o pequeno, agora adulto, Giorgio Cantarini que derrete os corações dos espectadores com uma interpretação do filho Giosuè. Esse talento é comprovado com uma nomeação pela Associação de Actores.
Sim, concordo que não é de todo um filme consensual. Muitos admitem a qualidade do filme, mas nem todos admitem que é um dos grandes filmes da segunda metade do século XX. Admito que é um filme pessoal, pois cresci com ele, vi-o pela primeira vez aos 8 anos e não deixa de ser um filme que gosto muito de ver, sempre que possível vê-lo quando é transmitido. É romântico, dramático, trágico, divertido e surpreendente. É a epítome da nossa secção dos Essenciais e o exemplo vivo dela mesma.