22 anos depois, novo mergulho em Slowdive
22 anos depois os Slowdive reuniram-se e, com o lançamento do álbum homónimo, o movimento shoegazing volta a estar na ordem do dia. Com letras que se querem impercetíveis, guitarras, baixos, e teclas que se confundem, o álbum homónimo da banda inglesa é um dos maiores contributos da década de 00 para o género dreampop.
O grupo não é de hoje. Constituído por cinco elementos, Neil Halstead Rachel Goswell ambos na voz e guitarra, Simon Scott na bateria, Nick Chaplin no baixo e Christian Savill na guitarra foi formado inicialmente em 1989 no Reino Unido. As quase três décadas que nos separam do primeiro álbum foram atribuladas tanto na relação com a crítica como nos espetáculos ao vivo e os problemas em os publicitar. É fácil assumir que grupos que se separam e, depois de longos hiatos, lançam material novo se estão a aproveitar da nostalgia de antigos seguidores e o trabalho pode vir a ser descurado.
Não é o que acontece com este projeto. Slowdive é definição de dreampop. Tendo passado longos anos desde “the scene that celebrates itself”, o grupo tornou-se adulto. Assim não foram só capazes de providenciarem as oito músicas do álbum, mas de oferecerem perto de quarenta e seis minutos há muito desejados por um movimento que se encontrava em declínio.
Temos um álbum diversificado que espanta. O single “Sugar for the Pill” tem a bateria de Simon Scott a marcar o ritmo e o falsetto de Rachel Goswell em metade da faixa. Um ótimo prenúncio para o restante álbum. A atmosfera pintada ao longo do trabalho entranha-se e revela que é essa a intenção. Estamos embrenhados num sem fim de guitarras, de baterias e vozes, que formam texturas ímpares. Especial destaque para “Don’t Know Why”, com a guitarra pop e a voz acelerada de Goswell no início da música, para depois a bateria entrar e marcar ritmo a meio, retornando ao início sem sequer nos apercebermos disso.
Difícil é não destacar a faixa Falling Ashes, com o loop instrumental do piano e o dueto magistral entre Rachel Goswell e Neil Halstead, que nos transporta para outro lugar. Também não parece ser inocente esta ser a música com que o álbum finaliza. Talvez a continuação de um projeto que só peca por não ter conseguido mais cedo um álbum tão robusto.
M83, Mogwai e Beach House seriam em muito diferentes se Slowdive não tivesse aberto o caminho e solidificado este espaço musical primeiro. O último trabalho homónimo só substancia o que, apesar dos percalços, já se julgava saber – os Slowdive têm lugar cativo na história da música. Dada a robustez desta adição ao repertório da banda, e uma nova geração de novos ouvintes, tudo leva a crer que não será necessário esperar outros dezassete anos por um novo trabalho.