#34 Essenciais do Cinema – ‘Le Trou’
Se estás a ler isto é porque chegaste ao “Essenciais do Cinema”– uma nova rubrica da CCA para quem quer descobrir um pouco mais. Com temáticas menos generalizadas, por vezes menos actuais mas igualmente relevantes. Com tudo isto, é normal que por aqui encontres – e temos mesmo de te avisar – mais texto. Bem-vindo ao “Essenciais do Cinema”.
Le Trou (1960)
Realizador: Jacques Becker
Protagonizado por: André Bervil, Jean Keraudy e Michel Constantin
É um dos filmes mais surpreendentes de sempre, pela sua criatividade, originalidade e pelo seu papel em criar uma nova base para a realização de filmes, conseguindo mostrar um argumento atrevido e intrigante até ao fim, e sendo um dos pioneiros nos filmes sobre prisões e obrigatório para os fãs de cinema. Jacques Becker morreu semanas após o fim da filmagem deste filme. Um dos seus maiores golpes de génio, no filme, foi a utilização de pessoas que não eram actores, em alguns papéis. Por exemplo, o homem que interpreta a personagem principal, Jean Keraudy, esteve, de facto, envolvido na fuga de uma prisão, em 1947. A utilização de amadores ou de pessoas que nem sequer estão no meio cinematográfico dá aos filmes uma certa autenticidade, que muitas vezes não é conseguida por actores profissionais, a não ser que tenham uma qualidade acima da média. Tal acontece quando a personagem principal é uma criança ou um jovem, algo frequente no cinema italiano, por exemplo.
A história é simples: quatro prisioneiros querem escapar de uma prisão e decidem escavar um túnel que começou com um buraco feito, por eles próprios, na cela em que estão encarcerados. O problema – e futura causa para uma reviravolta na história – é o aparecimento de Gaspard, um novo preso. Geo, Roland, Manu e Monseigneur decidem aceitá-lo no grupo de fuga. O genial neste filme é que o espectador vê o buraco a ser feito, em tempo real, dando-lhe um maior sentimento de realismo, apesar de, na realidade, ser muito difícil escavar aquele buraco com apenas uma ferramenta. O final é surpreendente e irónico, deixando o espectador, agradavelmente, surpreso… Pelo menos a mim deixou, quando o vi, pela primeira vez.
Na minha opinião, “Le Trou” consegue ser o segundo melhor filme do cinema francês, atrás de “Les 400 Coups” – que também já foi incluído nesta lista de Essenciais. O grau de autenticidade e a própria crítica à sociedade, bem como a cuidada descrição do sistema prisional francês, são os grandes factores que fazem deste filme uma verdadeira obra-prima do cinema. O enredo é muito bem concebido, a fuga é realista e acontece a “tempo real”, deixando o espectador preso ao ecrã.