Afonso Miranda: ‘O Jazz tem pouco palco e quisemos dar a possibilidade aos intérpretes de terem um espaço em Aveiro’
O festival Jazz, Sunset e Meia é a nova proposta jazzística em Aveiro. Nos dias 7 e 8 de setembro, o centro da cidade de Aveiro, recebe o festival que pretende desmistificar o jazz e apresentá-lo ao grande público. Com as iniciativas a começarem ao início da tarde, o festival concentra o fluxo de oferta no final da tarde e no início da noite. A Comunidade Cultura e Arte esteve à conversa com Afonso Miranda, promotor do festival e da empresa Aveiro Com Paixão, organizadora do certame.
Jazz, Sunset e Meia é um nome pouco vulgar… porque este nome?
Explica-se facilmente. O Jazz é um género musical que nós apreciamos, é uma língua musical que achamos ter pouco palco e portanto quisemos dar a possibilidade ao jazz e aos seus intérpretes de terem um espaço em Aveiro, onde consigam mostrar os seus trabalhos com muita gente a assistir.
E “Sunset e Meia” porque…
Em relação ao “Sunset e Meia”, queremos desmistificar, brincar e descomprometer as ideias associadas ao jazz e aos sunsets. Muitas vezes o jazz está associado a uma classe elitista, cativando apenas um nicho de público. A organização com isto do “Sunset e Meia” quer desassociar o jazz de conceitos musicais complexos e tirá-lo dos becos intelectuais onde por vezes se esconde. Mas não é só por isso, as Escadarias do Edifício Fernando Távora [local onde o festival se vai realizar] são uma localização privilegiada para ver o pôr do sol em Aveiro. Para concluir, se lermos rapidamente, percebe-se “já são sete e meia?”, que será a hora na qual os primeiros cabeças de cartaz atuam.
Qual é o conceito deste festival? Pelo que apresentam o cartaz tem um grande ênfase na música mas não se fica por aí…
É um festival para todas as faixas etárias. Para famílias. Um festival gratuito, de rua, cujo ponto principal são as escadarias do Edifício Fernando Távora, mas não só. Não nos vamos limitar a dar jazz às pessoas naquele espaço que consideramos magnífico. Para além das escadarias iremos estar com alguns artistas a atuar em pontos nevrálgicos da cidade, com os duelos ao sol. Neste conceito os artistas vão beber das famosas battles de hip-hop e vão fazê-las com instrumentos de jazz, animando alguns dos espaços característicos de Aveiro.
Existem também conversas de esplanada…
Sim… se por um lado temos os duelos ao sol por outro lado temos um momento que nos permite refletir e ouvir dos agentes e artistas do panorama musical e cultural português aquilo que pensam sobre a criatividade e sobre o mercado. No dia 7 irá debater-se “Música, Inspiração e/ou Transpiração” e, no dia 8, “Música, Arte e/ou Negócios”. Estes dois temas serão debatidos de forma inusitada e pouco comum no contexto de festival. Serão seis pessoas, três em cada dia, onde se incluem o José Pedro Leitão, dos Deolinda, o Vasco Sacramento, da Sons em Trânsito, o Miguel Araújo, que é um dos músicos mais conceituados a nível nacional, a Maria João, voz incontornável do jazz português, o Ricardo Fino, um cantor de Aveiro e que traduz a ideia de fazer música por inspiração sem pensar no negócio, e por último o José Pina, um dos melhores programadores culturais do país. Só depois das conversas passamos para as artes em si.
Há um conceito que nos intriga e gostávamos de perceber como funciona, os cocktails sonoros…
Para além de sunset é a única palavra anglo-saxónica que aplicamos neste festival. Vamos ter uma zona de cocktails servidos por um dos melhores bartenders do país, que é o André Martins. Para além disso vamos ter algumas surpresas reservadas para dia 7 e dia 8… vão ter que ir para saber quais são!
Relativamente ao cartaz musical, bons e conhecidos artistas do panorama jazzístico. É um bom cartaz para primeira edição…
É sem dúvida um cartaz de luxo para primeira edição. Queremos fazer acontecer com muita qualidade. Primeiro dia com artistas mais conceituados, com espaço já criado e trabalhado pelos próprios. No segundo dia damos oportunidade aos talentos emergentes do jazz, culminando com a magnífica da Elisa Rodrigues, que é muito reconhecida lá fora e está agora a trabalhar o seu espaço em Portugal. Portanto, a nossa ideia foi fazer um cartaz que mostre quem já singrou e quem está a trabalhar neste mercado do jazz.
É fácil falar com artistas conhecidos para uma primeira edição de um festival?
A dificuldade em contratar artistas conhecidos é ultrapassada quando o projeto apresentado tem fatores diferenciadores. A forma como apresentamos o Jazz, Sunset e Meia aos artistas e aos parceiros, modéstia à parte, foi estruturada e bem comunicada. Os artistas e os parceiros que nós queríamos acabaram por aceder ao nosso convite, ainda para mais num festival que não tem histórico. Em todo o caso, a eloquência, o projeto em si e a organização que apresentamos para convencer artistas de renome a participarem foram fulcrais. Para além disso a nossa cidade está na moda, o festival tem um enquadramento ao alcance de poucos municípios.
A organização do Jazz, Sunset e Meia é fruto de uma parceria entre a Câmara Municipal de Aveiro, o Teatro Aveirense e a marca Aveiro Com Paixão. Como surgiu esta sinergia e em que é que se concretiza?
A Aveiro Com Paixão é uma empresa que detenho. A Parir é uma das marcas da empresa e é a que está diretamente ligada à produção de eventos culturais. Qualquer evento que se realize num município, a meu ver, deve criar sinergias para envolver o número máximo de pessoas. E faz sentido, claro, criar esses elos com quem nos representa ao mais alto nível, que é a Câmara Municipal de Aveiro e o Teatro Aveirense, este último no caso da cultura. Fomos nós que lançámos o desafio e o grosso do trabalho é da Aveiro Com Paixão, com muito apoio do Município e do Teatro Aveirense. O objetivo desta co-produção é, sem dúvida nenhuma, trabalhar de uma forma alargada com os agentes principais da cidade, agregando todos aqueles que se juntem a nós. Além disso, esperamos mostrar a outros municípios a nossa capacidade de produzir eventos de grande dimensão.
Em que é que se concretiza a parceria?
O investimento é privado, com algum apoio da parte da Câmara Municipal de Aveiro, ao nível da logística, infraestruturas e de materiais, que disponibilizaram sem olhar para trás. Numa perspetiva futura, queremos alavancar este festival com mais parceiros, mantendo os mesmos, para dar uma maior dimensão a este festival nas edições futuras.
Aveiro está na moda, como disseste há pouco. Era este o momento de arriscar e investir num evento de média dimensão como o Jazz, Sunset e Meia?
Normalmente o investimento obriga a risco. Neste caso não vemos assim. O único risco aqui é um clima desfavorável e um problema técnico qualquer num espectáculo que esperamos que não suceda. Aqui o investimento é feito de uma forma grata, consciente e com muita responsabilidade social. Nós queremos replicar este conceito novamente e queremos dar mostras de que somos capazes de produzir eventos com organização e originalidade. Também queremos retribuir a rentabilidade de algumas atividades que vêm directamente da exploração da nossa região. Estamos gratos por trabalhar bem na nossa região e estamos apaixonados pelos recantos da nossa cidade. Investimos como publicidade da nossa empresa e como forma de agradecer à comunidade.
A cidade tem crescido muito a nível cultural. O aparecimento da Parir, de certa forma, também vem nesta onda. A que achas que se deve isso?
Não sei responder a essa questão com segurança. Existirão vários motivos positivos para isso. Mas acho que o principal é a força de vontade que todos os agentes locais têm demonstrado para dar mais aos aveirenses e a quem os visita. Prefiro antes sublinhar isso mesmo, parabenizar os que têm trabalhado, tentando contribuir também para esse crescimento.
Para concluir, porque motivos devem as pessoas ir ao Jazz, Sunset e Meia?
Se a quem nos lê lhes apetecer estar num espaço público com uma paisagem ímpar, desfrutar de música jazz, de uma conversa relaxada, ao sabor de uma bebida e quiçá com a companhia do sol, venham! Devem vir para fruir de uma das zonas mais bonitas da cidade de Aveiro, na companhia de uma seleção do melhor que o jazz nacional tem para oferecer.
A primeira edição do Jazz, Sunset e Meia vai ter lugar sexta-feira (dia 7) e sábado (dia 8) nas Escadarias do Edifício Fernando Távora em Aveiro. Maria João “OGRE” Trio Elétrico, Lokomotiv e Palankalama são as propostas musicais para sexta-feira. Elisa Rodrigues, João Hasselberg e Pedro Branco e Troll’s Toy são as de sábado. André Martins, um dos 12 melhores bartenders portugueses a nível mundial, vai encarregar-se dos cocktails sonoros, ao som de uma playlist escolhida por Luís Figueiredo. Ainda vão poder acompanhar as Conversas de Esplanada a partir das 15h00, nos dois dias, e se estiverem com vontade de passear por Aveiro, devem apanhar os duelos ao sol. Até Jazz!