A ovação de pé a Cass McCombs no Misty Fest
Cass McCombs pisou o palco do Cinema São Jorge no passado dia 3 de novembro, no âmbito do Misty Fest. Foi mais que a apresentação do seu mais recente (e excelente) Mangy Love, lançado este ano. Com oito álbuns de originais na bagagem, teria de haver espaço para revisitar músicas mais antigas, como se comprovou.
As hordes foram abertas com a lindíssima “Opposite House”, primeiro single de Mangy Love, à qual apenas faltou a contribuição angelical de Angel Olsen. Deste logo se pode aferir que a sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge se revelou como o ambiente ideal à música de McCombs, uma mistura saudável entre intimismo e raunchiness americana, apesar de terem havido alguns problemas com uma vibração desagradável de fundo, resolvida pouco depois de o espectáculo começar.
Da primeira metade do concerto, menos entusiasmante e com uma recepção mais tímida do público, destacam-se alguns momentos, nomeadamente a belíssima “Medusa’s Outhouse”, à qual Cass McCombs atribuiu umas vestes ainda mais sublimes que na versão de estúdio. Foi um momento que convidou a fechar os olhos e deixar a música fluir. A partir dessa canção, juntou-se à banda Helena Espvall, que, com os sons processados do seu violoncelo, conferiu uma atmosfera mística, mas que por vezes não se destacava o suficiente no meio do ruído.
Depois de percorrer algumas canções do mais recente álbum e do álbum duplo Big Wheel and Others, de 2013, Cass presenteou o público com uma visita àquele que é o seu álbum mais refinado, Wit’s End, através da canção “Buried Alive”. Adaptada à sonoridade actual do músico, soou muito bem, mas não foi o suficiente para arrancar mais que uns aplausos comedidos no final da canção.
Garantidamente, McCombs não fez muito para puxar pelo público ao entrar num prolongamento de uma das suas canções mais clássicas “Dreams-Come-True-Girl” que soou desconexo e demasiado experimental, mesmo revelando uma boa simbiose com a sua banda extremamente competente.
Foi chamado ainda ao palco Pedro Sousa, um dos novos talentos do jazz português, para muscular a canção “Joe Murder” com o seu saxofone portentoso. Foi o momento mais sujo e visceral do concerto, pontuado com iluminação vermelha que lembrava sangue.
Entretanto, Helena Espvall saiu, mas Pedro Sousa ficou para mais uma canção, “The Burning of the Temple, 2012”, para a qual contribuiu de forma incrível, colaborando com a melodia da canção e ainda acrescentando o seu próprio toque de experimentalismo. Foi o ponto de viragem do concerto, que a partir daí foi verdadeiramente fantástico!
Apresentando mais um par de canções de Mangy Love, McCombs mostrou-se mais solto que nunca, quase cantando num registo de rap. Nunca tínhamos ouvido tanto a sua voz, e gostamos de o ver assim. Até “Big Wheel”, uma canção mais linear, foi apresentada com uma rockalhada poderosa que decerto faria frente aos The Kills (que tocavam no Coliseu de Lisboa na mesma altura).
Antes de regressar para o encore (e sem querer desvalorizar “Low Flyin’ Bird”, a canção escolhida para o mesmo), McCombs tocou o seu magnum opus, a sua pièce de résistance, a fantástica “County Line”. Na opinião humilde deste que vos escreve, é uma das mais bonitas canções alguma vez criadas, e a entrega ao vivo não desiludiu. Foi genuinamente sublime. O delicado solo com que McCombs prolongou a canção fez-nos desejar que aquele momento não acabasse e relembrou-nos de que ele é um exímio cantautor, facto esse reconhecido pelo público, que o aclamou com uma ovação de pé. Nada que ele não merecesse.
Alinhamento:
Opposite House
Bum Bum Bum
Morning Star
Medusa’s Outhouse
Brighter!
Buried Alive
Dreams-Come-True-Girl
Joe Murder
The Burning of the Temple, 2012
Cry
Big Wheel
Run Sister Run
County Line
Encore:
Low Flyin’ Bird