Instituto Goethe promove debate sobre responsabilidades coloniais, legados e perspectivas

por Comunidade Cultura e Arte,    6 Novembro, 2018
Instituto Goethe promove debate sobre responsabilidades coloniais, legados e perspectivas
Andreas Eckert / Fotografia Uni Freiburg /Britt Schilling

Que questões colocam à Europa o seu legado colonial, e quais os desafios futuros a que é chamada a responder, são os pontos de partida do debate promovido pela Embaixada da Alemanha e o Goethe-Institut em Lisboa, na quinta-feira, dia 22 de novembro, pelas 19h00. A entrada é livre.

Frantz Fanon, precursor da descolonização, descreveu de modo contundente a Europa como “criadora de colónias”. De facto, as ex-colónias e a Europa estão tão intimamente interligadas que o seu desenvolvimento histórico não pode ser considerado isoladamente.

A expansão europeia mudou o mundo e, com ele, a Europa. Não apenas moldou as áreas conquistadas e colonizadas no Ultramar, mas também os próprios estados europeus. Os especialistas consideram, portanto, que o confronto social com o colonialismo é uma das questões futuras para a Europa.

Esta revisão tornou-se um tópico virulento nos últimos anos, que está a ser debatido em muitos países europeus e, pela primeira vez, também a nível político.

Na Alemanha, em particular, o debate que se arrasta sobre o projetado “Fórum Humboldt” no reconstruído Palácio da Cidade, no centro de Berlim, levou a um debate social fundamental. Questões sobre a restituição de artefactos roubados de África, da Ásia e da América Latina têm um impacto importante relativamente ao futuro dos museus etnológicos, ao manuseio do material de arquivo e aos vestígios do período colonial nas cidades europeias.

Em Portugal, por sua vez, a discussão sobre o planeado “Museu dos Descobrimentos” intensificou o debate, trazendo-o a público. Embora o conflito com o passado colonial na Alemanha e em Portugal, como em muitos países europeus, tenha sido até agora pouco intenso, parece estar a ganhar novo impulso e urgência.

Os convidados desta sessão são os especialistas em colonialismo, Andreas Eckert, do Institute for Advanced Study da Universidade de Princeton (EUA) e António Sousa Ribeiro, da Universidade de Coimbra. O evento, de entrada livre, é moderado por Elsa Peralta, da Universidade de Lisboa e o painel terá, como habitualmente, tradução simultânea em português e alemão.

O debate pretende identificar os desafios enfrentados pelas ex-potências coloniais europeias no processo de revisão do legado colonial, tomando Portugal e a Alemanha como exemplos.

O tema é deliberadamente amplo: questões relativas à forma como lidar com artefactos etnológicos e artísticos saqueados estarão em reflexão, bem como a perceção do passado colonial “próprio” e o confronto com os lugares da memória colonial. Serão igualmente abordados o estado atual da investigação científica e das questões do “como” e da “autoria” deste confronto.

Andreas Eckert é historiador e investigador em Estudos Africanos. De 2000 a 2002, fez parte dos quadros científicos do Departamento de Estudos Africanos da Universidade Humboldt, em Berlim, onde concluiu o pós-doutoramento em 2002. Foi Directeur d’Etudes da Maison Des Sciences De l’Homme, em Paris (2006). De 2002 a 2007 lecionou na Universidade de Hamburgo como Professor de História Moderna, incidindo sobre a História de África. Em 2007 foi professor convidado da Universidade de Harvard. Desde outubro de 2008 é Diretor Executivo do Instituto de Estudos Asiáticos e Africanos da Universidade Humboldt de Berlim, e leciona atualmente no Institute for Advanced Study da Universidade de Princeton (EUA).

António Sousa Ribeiro é professor catedrático do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas (Estudos Germanísticos) da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi, entre outros cargos, Presidente do Conselho Consultivo Científico da Faculdade de Letras, Presidente do Conselho Científico do Centro de Estudos Sociais e Diretor do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras. Publicou sobre Literatura Comparada, Teoria Literária, Estudos Culturais e Pós-colonialismo. Em 2016, publicou o livro Geometrias da Memória: Atitudes Pós-coloniais.

Elsa Peralta é doutorada em Antropologia e investigadora da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O seu trabalho baseia-se em perspetivas cruzadas da antropologia, estudos de memória e estudos pós-coloniais e centra-se na intersecção entre os modos privados e públicos de recordação de eventos passados, nomeadamente dos passados coloniais. As suas obras incluem vários artigos e livros, com destaque para os volumes Heritage and Identity: Engagement and Demission in Contemporary Society, Routledge, 2009 e a​ Cidade e Império: Dinâmicas coloniais e reconfigurações pós-coloniais, Edições 70, 2013.

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