Os 10 melhores álbuns portugueses de 2018 para a Comunidade Cultura e Arte
Mais um ano que chega ao fim. Nesta altura, é inescapável olhar para trás e reflectir acerca dos meses que se passaram, sobre as mais diversas matérias. Na nossa posição de divulgadores da cultura e arte, consideramos indispensável sumarizar os trabalhos que mais nos marcaram ao longo do ano.
Para a nossa classificação de álbuns portugueses, aplicámos as mesmas regras temporais que para a classificação de álbuns internacionais. Apesar de termos considerado álbuns nacionais no top internacional, pensamos ser importante destacar o que de melhor se fez no nosso país no ano passado, o que se torna algo limitado num top mundial com apenas 25 posições.
Este é o top 10 dos melhores álbuns portugueses de 2018 para a Comunidade Cultura e Arte:
10. April Marmara – New Home
Beatriz Diniz assina como April Marmara naquele que é um disco de estreia confiante e apurado, tanto em técnica como na escrita. Seguindo um registo folk etéreo, tão campestre quanto conto-de-fadas, New Home recorda-nos em simultâneo das paisagens encantadoras de Nick Drake ou das faces mais bucólicas de Angel Olsen. As músicas são honestos temas de amor, e os arranjos e instrumentação são trazidos à vida pela companhia de Teresa Castro (Calcutá), Martim Teixeira (Jasmim) e Catarina Marques. New Home é um álbum repleto de canções bonitas cujo ressoar continua bem depois de terminarem, quer guiado pela sua voz cristalina ou pelo ambiente de esperançosa melancolia que evoca. Dispensando rodeios, Beatriz Diniz produz folk ao nível das suas inspirações. – João Rosa
9. HHY & The Macumbas – Beheaded Totem
Em Beheaded Totem renovam-se os votos da música exploratória criada no nosso território; não se mascara em referências, no entanto estão lá séculos delas. Os HHY & The Macumbas habituaram-nos a orquestrações impressionantes e voltam a tocar em todos os pontos, sem perderem a sua identidade misteriosa. É uma paleta de várias tonalidades negras, carregada de nevoeiro, mas com cheiro a terra molhada, onde o tropicalismo se aproxima do voodoo. Beheaded Totem é um disco que combina execução exímia e elevação esotérica do princípio ao fim. – João Horta
8. David Bruno – O Último Tango em Mafamude
Reconhecido das suas andanças como metade de Conjunto Corona ou a solo como dB, David Bruno assume uma nova identidade em nome próprio para encabeçar um projecto que, mais que nunca, serve como carta de amor às raízes que o apaixonam. Kitsch, foleiro e pitoresco, O Último Tango em Mafamude é bem mais que uma sátira – é uma carta de amor aos pequenos detalhes da portugalidade mais corriqueira. No cruzamento da improvável junção entre o hip-hop e a música romântica, David Bruno oferece-nos uma das mais interessantes e fiéis cristalizações de um lugar e de uma época ostracizados pelo tempo e pela opinião popular, sob um olhar que não julga. – João Rosa
7. Iguanas – Lua Cheia
Lua Cheia é uma travessa de pratos tradicionais portugueses apresentados como cozinha de fusão. Este compêndio de synthpop da dupla Iguanas, composta por Lourenço Crespo e Leonardo Bindilatti, reflete um culminar de coerência estilística entre ambos os músicos; o dom da palavra de Crespo – já demonstrado no seu projecto a solo, jocoso e fracturante sobre os hábitos quotidianos nacionais – ganham uma nova energia com a produção de Bindilatti, e tornam-se viciantes. A repetição e o auto-tune são peças fundamentais nesta nova receita, e o redirecionamento para um som mais limpo e tratado fazem de Lua Cheia uma elevação artística face ao primeiro lançamento de Iguanas.- Sara Miguel Dias
6. Diabo Na Cruz – Lebre
Tendo-nos deixado, em 2014, com Diabo na Cruz, a banda, que assina com o mesmo nome, regressou com Lebre, álbum que representa o renascer dos sons tradicionais de Virou e Roque Popular. O disco reflete o longo período de pausa de Diabo na Cruz que, não descartando o rock e folk que carateriza a sua música, decidiu voltar a sonoridades passadas com uma novidade principal: a referência ao mundo tecnológico, onde “a nova geração perdida” tem “o mundo todo ao dispor numa vidraça”. Mais do que tudo, é um álbum aberto a todos aqueles que se queiram aventurar pelo universo da música tradicional ou, apenas, dançar ao som daquilo que de melhor a música portuguesa tem para oferecer. – Marta Vicente
5. Filipe Sambado e os Acompanhantes de Luxo – Filipe Sambado e os Acompanhantes de Luxo
Neste segundo álbum, o cantautor compôs e escreveu, mas deixou a banda que o acompanha nas atuações ao vivo reunir-se para os arranjos. Os Acompanhantes de Luxo e Filipe Sambado, claro, são os cinco criadores deste cocktail de indie, crítica social, melodias de guitarra, observações complexas, voz emotiva e repúdio de discriminações. Deixando os temas fáceis de lado e respondendo a algumas situações difíceis, o multi-instrumentalista brinca com as notas e arranja as palavras de um jeito inteligente. Sem papas na língua e com visão aguçada, este é um trabalho que tanto gera reflexão e discussão, como põe uma sala inteira a dançar. Este é um álbum que transparece a evolução de Filipe Sambado e o afirma, não só como impulsionador da nova geração de músicos da cena musical lisboeta, mas como um músico relevante no panorama nacional. – Sofia Matos Silva
4. Nerve – Auto-Sabotagem (EP)
Tiago Gonçalves não é um rapper como os outros. Tem um estilo e flow cada vez mais singular, detentor de poemas que se encaixam por cima de instrumentais distintos e que espelham um modo único de fazer música. Sabe o que quer e como o quer e isso é extremamente evidente em Auto-Sabotagem, EP no qual Nerve ostenta uma confiança nas suas habilidades líricas e instrumentais, e mostra algumas das canções mais bem produzidas da sua carreira até ao momento. Tem barras para os mais lidos e instrumentais cortantes para os mais sonoros, e, apesar de ser um projecto curto, deixa perfeitamente claro que Nerve “bate, e é o melhor”. – Miguel Santos
3. Dead Combo – Odeon Hotel
Dead Combo representam, pela escolha dos instrumentos e das histórias que contam, pelas influências musicais e pela sonoridade no seu todo, Portugal. Talvez por isso, seja difícil desiludir o seu público nacional. Por outro lado, o percurso da banda sempre demonstrou que os seus músicos são “do mundo” e que se preocupam com esse mesmo mundo, onde “as cenas do turismo, da gentrificação, da globalização”, como dito à revista Blitz, pautam a realidade. São, exatamente, essas preocupações e essa multiculturalidade que está espelhada em Odeon Hotel, cuja construção foi auxiliada por diversos músicos externos ao projeto que, desde o início do século, tem vindo a marcar, de forma tão positiva, o panorama musical português. – Marta Vicente
2. Linda Martini – Linda Martini
Ainda com o ano a começar e com a foto da Linda Martini na capa, a mesma banda revelou o seu novo álbum. O disco é um reflexo da sua típica energia e identidade única que, ao longo do tempo, tem cativado o público mais diverso e enchido as mais pequenas e as maiores salas do país. Com um som mais limpo, mas não perdendo, nunca, a sua sonoridade caraterística, Linda Martini demonstra o crescimento da banda e é, principalmente, fruto de um processo criativo intenso, onde, mais do que em qualquer outro trabalho anterior, a poesia ressalta em cada canção. – Marta Vicente
1. Conan Osiris – Adoro Bolos
Cabe o mundo dentro da música de Conan Osiris. É isso que a torna tão fascinante: África, o leste europeu, a Índia, Portugal – geografias que cruzam o caminho da electrónica dançável e experimental e dão origem a um novo Pokémon (dos raros). É uma estrada que nos conduz por paisagens inesperadas, simultaneamente frágeis e impetuosas. Se é verdade que as palavras nos intrigam (celulitite, um bongo, os adorados bolos), é a música que nos desarma. O clube desconstruído de Conan Osiris tem tudo para ser exportado e ouvido além fronteiras (como a cena afro house da Príncipe tem conseguido). Queira o mundo dar ouvidos ao mundo aqui reunido. – Tiago Mendes