Entrevista. Mundo Segundo e Sam the Kid: de Gaia a Chelas respira-se hip hop
Gaia. Chelas. Uma música, dois locais de origem de ícones do hip hop nacional, Mundo Segundo e Sam the Kid. Os artistas estrearam “Gaia/Chelas” naquele que é mais um tema do seu aguardado álbum colaborativo. Na altura de descrever numa palavra as suas “musas” neste tema não se acanham: “Para mim Gaia é sinónimo de inesquecível”, confessa Mundo. “É como está no início [da música], é o berço”, descreve sucintamente Sam. É certo que este amor transparece desde o início da sua carreira mas é a primeira vez que os vemos resolutos sobre essa paixão de forma tão assertiva e possante.
Esta canção foi a primeira do álbum que foi feita em conjunto, apesar de ter passado por várias fases antes do resultado final que agora mostram, mas não foi a primeira vez que estes artistas colaboraram: “Já tínhamos feito música juntos em finais de 2000 em casa do DJ Cruzfader”, revela Mundo. Sam desenvolve mais: “Colaborámos lado a lado na mixtape Cosa Nostra em que estávamos lá na cave do Cruzfader, os dois a escrever no momento, e o NBC fez o refrão”. Não é a primeira vez e não será a última e ambos notam que desenvolveram uma sintonia entre os seus métodos de trabalho: “Com o Mundo é mais a maneira como eu produzo, somos muito parecidos nesse aspecto”, “Posso dizer que foi uma sinergia natural uma vez que ambos temos gostos musicais muito similares e a convivência levou a que esta parceria acontecesse de forma natural!”
Este tema chega depois de “Tu Não Sabes”, “Também Faz Parte” e “Brasa”, e é uma ode aos lugares que viram crescer os dois rappers e produtores, terras que os viram transformar a paisagem sonora do hip hop português. Ambos são figuras incontornáveis no que se fez no passado e no que se faz hoje, e continuam a querer inovar, especialmente na maneira de divulgação do seu trabalho e de como têm apresentado os temas que irão compor o projecto final. Têm lançado canções anualmente mas revelam que não estão preocupados com datas de lançamento do álbum. “[Risos]. A pergunta de um milhão de dólares. Para já vamos continuar a lançar mais temas soltos e quando acharmos que faz sentido colocar o álbum inteiro cá fora assim o faremos. Não queremos ceder a pressões”, revela Mundo.
Sam partilha a mesma opinião: “Nem todos os álbuns têm de ser divulgados da mesma forma. Vejam-nos como um projecto que tem lançado singles anualmente e que há-de eventualmente culminar num álbum. Em 2019, acho que este projecto faz todo o sentido que seja assim, de forma natural, inteligente, até tem mais longevidade.” Numa altura em que a música parece ser cada vez mais efémera, dois veteranos mostram uma maneira de fazer frente à decrescente “validade” de um tema e de um projecto.“Gaia/Chelas” é uma música que nos mostra que no final do dia não existem fronteiras ou limites no que toca à arte das rimas, e que passados quase vinte anos da primeira colaboração, Sam e Mundo soam mais vivos do que nunca.