Sumol Summer Fest: é importante mantermo-nos hidratados
Em primeiro lugar, antes de falar sobre concertos, é com prazer que reconhecemos a preocupação da organização do Sumol Summer Fest em aderir ao conceito de festival ecológico. Todos os copos de plástico usados eram reutilizáveis. É bom ver que os grandes eventos estão cada vez mais conscientes da emergência ambiental.
Agora sim…concertos. O segundo e último dia de Sumol Summer Fest começou “na via Grog”. A banda da linha de Sintra tem vindo a afirmar-se como um dos grandes grupos do hip hop nacional. Há 4 anos, os GROGNation pisavam o palco secundário, hoje deram ao público a energia necessária para um dia bem animado no palco principal. Apesar do claro sucesso a solo do rapper Papillon, os GROGNation não são “a banda do Papi”. Há um equilíbrio. Todos têm um papel importante, e nota-se que vivem confortáveis com a igualdade de estatutos.
O público tanto cantou em uníssono os hits “Na Via” ou “Pescoço”, como entoou cânticos, tal e qual uma claque de futebol. Várias foram as vezes em que soltaram um “Esta merda é que é boa”, seguindo o ritmo de “Seven Nation Army”, dos The White Stripes. Papillon e Harold incentivavam, acompanhando a voz do público com beat box. Harold, que recentemente lançou o single “Do fim”, até chegou a refrescar a audiência, lançando água sobre o público (literalmente). Mais tarde, a água deu lugar a t-shirts, que voaram sobre as cabeças dos festivaleiros, até encontrarem dono.
A grande cumplicidade entre os membros da banda – Harold, Nasty Factor, Neck, Papillon e Prizko – foi visível. Durante as músicas trocavam sorrisos e cumprimentos uns com os outros. Em breve vão divulgar o novo álbum, que foi produzido por Sam The Kid. Quem estava no camping da Ericeira pôde conhecer algumas das novas músicas, em primeira mão.
Seguiu-se Deejay Telio – talvez o outsider da noite, mas cumpriu. Fez a plateia saltar, dançar e… desmaiar. Infelizmente, várias foram as pessoas retiradas da primeira fila por se estarem a sentir mal, algumas perderam mesmo os sentidos. A meio da atuação, Telio quase que simulou uma aula de hidroginástica, mandando o público correr para a direita e depois para a esquerda, consecutivamente. A ele juntou-se Bispo, que ontem atuou com Sam The Kid. Voltou à Ericeira, desta vez para interpretar “Com Licença”.
Telio fez o público manter o ritmo ganho com GROGNation, e quando o “Dread que matou o Golias” se mostrou ao Sumol, o entusiasmo manteve-se. Holly Hood, diretamente vindo da “linha d’Azambuja”, foi bastante consistente na sua prestação. Trouxe membros da Superbad consigo, lançou fogo e fumo (literalmente) e socorreu o público depois dos pedidos desesperados de “ÁGUA! ÁGUAAAAA! ÁGUAAAAA!”. Atirou as águas engarrafadas que tinha e ainda pediu à produção para reabastecer. Perto da meia noite, após terminar o concerto, grande parte do público já via o objetivo mais perto: BROCKHAMPTON.
O cenário preparava-se e o público desesperava. Dois insufláveis azuis e umas quantas plataformas, que formavam uma escada até aos céus, invadiram o palco. Na primeira fila, uma rapariga comentava efusivamente com os amigos: “Faltam dois minutos. Dois!”. Um minuto depois, “Falta um minuto!”. Cinquenta segundos depois, “Está na hora! Está na hora!” O público sentia que era o momento e começou a gritar “BROCKHAMPTON” repetidamente, enquanto uma outra jovem roía as unhas com rapidez e mandava calar os anúncios que passavam no ecrã gigante.
Entra então em palco o DJ e um dos produtores da banda, Romil Hemnani. Um outro fã entra em delírio: “Romil, I love you! I fucking love you! Tá ali o Romil, meu. Em carne em osso. Vou desmaiar”. É possível que as palavras não tenham sido exatamente estas. Tornou-se complicado ouvir debaixo do barulho ensurdecedor que carregava a alta expectativa do público português. É a primeira vez que a orgulhosamente auto-intitulada boyband americana atua em Portugal, mas nota-se que o público já lhe é incrivelmente fiel. A entrada em palco é arrebatadora. Um a um entram em palco – Dom McLennon, Kevin Abstract, Bearface, Matt Champion, Joba e Merlyn Wood – com o público cada vez mais efusivo.
Sem tempo para abrandar, só quando chega “BLEACH” é que os ânimos acalmam – porque a música o exige. Mas assim que termina a música, Kevin Abstract pega no público e faz uma versão a cappela, numa das suas várias interações com os fãs. Outra delas foi para pedir o maior moshpit possível. Ao mesmo tempo, alguns membros da banda conversavam discretamente com pessoas da primeira fila, perguntando se estão bem, oferecendo águas – fechando a trilogia da hidratação – e talvez um abraço.
Abre-se o moshpit, aparentemente com Conguito a comandar as tropas, e faz-se a festa. O locutor da Megahits aproveitou o concerto como ninguém, tendo chegado a fazer crowdsurfing.
Fechou-se assim em grande o Sumol Summer Fest. Kevin Abstract e Dom McLennon chegaram mesmo a dizer nas redes socais que este foi o melhor concerto da tour europeia, até agora. Depois de um primeiro dia com vários problemas técnicos, o segundo foi mais do que suficiente para atestar a imagem do festival. O “fim-de-semana Wild” voltará certamente no próximo ano com as maiores tendências do hip hop nacional e internacional.
Texto de Gustavo Carvalho