Melhores álbuns nacionais de 2019 (até agora)
Escolhas da redacção da Comunidade Cultura e Arte.
Em Portugal, a música está viva e recomenda-se. Numa sociedade cada vez mais global, por vezes há que olhar para o nosso país, e a oferta musical de que dispomos é cada vez mais maior e melhor. Outra vantagem é que é sem dúvida muito mais fácil ver qualquer um dos fantásticos artistas portugueses ao vivo do que os ícones do mundo. Confere as escolhas da nossa redacção de cinco álbuns que provam definitivamente que o que é nacional é muito bom:
- Sallim – A Ver O Que Acontece
Sallim já tinha sido uma das mais súbitas e interessantes revelações da Cafetra Records ao editar Isula em 2016 — um conjunto de canções atmosféricas e introvertidas que viram Francisca Salema submersa em distante reverb; saboreando cada palavra suspensa sem pressa de chegar ao final e intimista ao ponto de nos transportar para um qualquer recanto singular do seu quarto. A Ver O Que Acontece não poderia ser mais diferente: com produção irrepreensível, instrumentação variada e voz enérgica e limpa, o lo-fi transforma-se em pop desenvergonhado e extrovertido, cumprindo no entanto a proeza de não perder a personalidade única que caracterizou o seu álbum de estreia. Navegando equidistante entre um improvável triângulo de Kacey Musgraves, The Ronettes e covers YouTube de Ariana Grande, Sallim pode ter saído do quarto, mas ainda o ouvimos a abraçar as suas músicas — e é esse o ingrediente indescritível que pinta a sua estética. – João Rosa
- Branko – Nosso
Ainda antes de sair, Nosso já tinha feito história. O projecto foi dos poucos álbuns portugueses – quiçá o único – com direito a estreia de single na revista Rolling Stone, um testemunho da relevância e alcance de música de João Barbosa. O artista mais conhecido como Branko apresenta neste álbum um conjunto de temas variados que bebem de géneros como zouk bass, afro house ou tarraxo, e que pintam sonicamente um resumo caloroso da evolução do músico da Enchufada. Uma referência na música portuguesa, Branko apresenta em Nosso um álbum recatado, que pede timidamente licença para nos atirar para a pista de dança. Mas em momentos como “Tudo Certo” ou “Hear from You” perde a vergonha e mostra uma ginga incontornável. Há espaço para a experimentação como na homenageante “Bleza” ou em “MPTS (Chords Version)” – sendo que nesta última partilha a mesa de produção com o “discípulo” PEDRO – mas as músicas nunca perdem a sonoridade de fazer bater o pé e abanar a anca. É o trabalho calculado de um artista no seu auge, e a prova de que por vezes para ouvir o que está a bater lá fora não precisamos de procurar além do conforto da nossa pátria. – Miguel de Almeida Santos
“É o disco que marca definitivamente a identidade musical da banda e também aquele que marca a afirmação dos membros como músicos adultos e responsáveis. Mas, por outro lado, mostra que jogam pelo seguro; optam pela fórmula que sabem ser de sucesso, sem correrem grandes riscos. À primeira audição, as músicas parecem idênticas. Só à terceira ou quarta vez que se ouve o álbum é que se começa a decifrar o assombroso trabalho instrumental por baixo da voz de Tomás.” – Sofia Matos Silva
“O Sol Voltou é mais uma prova de que Luís Severo não deve aos outros o seu talento nem se contenta em replicar a mesma fórmula. No seu primeiro disco de labor solitário, a flor de estufa pode ter virado bicho do mato, mas aquilo em que resultou foi o passo certo na discografia de um músico que está cá para ficar. Somos nós quem o espera.” – Miguel Fernandes Duarte
“Numa altura em que não sabemos se queremos voltar ao passado confortável, mas retrógrado, ou avançar em direcção ao futuro progressista, mas assustador, os Sensible Soccers lançam um disco que nos dá o melhor dos dois mundos. Cristaliza o melhor do passado numa sensibilidade de composição progressiva e experimental, que nos leva sempre para a frente. Se em Março o disco já nos parece tão bem, nem imaginamos como irá soar no pico do Verão, durante aquelas viagens em que o tempo parece não passar, mas que também não queremos que passe.” – Bernardo Crastes