Um sentido para a vida
A ínfima parte da conversa de uma vida continua neste pequeno texto. O prefácio remonta ao aparecimento do Homem e o fim acontece quando o último perecer. Até lá, o debate não cessa. Para além do óbito, a certeza adelgaça a impossibilidade de obter qualquer conclusão acerca do sentido da vida. A consciência perante avanços ou recuos, conclusões extraídas ou dúvidas dissipadas é nula. A expressão é conhecida por todos, mas não será ambígua? Tudo me leva a crer que o é pela subjetividade interpretativa das partículas “como” e “porquê”.
“Ao Destino ninguém escapa”. Aqui jaz, implicitamente, um ceticismo radical e, nesse prisma, tudo é um breu. Proferir, agir, pensar e sentir são movimentos pardacentos que culminarão em nada. Sob a alçada desta filosofia, sobrevive-se sob a chefia de um conformismo supremo e de uma comodidade absoluta ao sentido unidirecional do tempo. O vazio que se assemelha a um espremedor de laranjas, esmiuçando até à derradeira gota de sumo o amor pela vida e o clamor pela felicidade. A frase é axiomática, evidentemente; porém, recitá-la de modo constante e exaustivo, é contraproducente, é tempo perdido, é uma lamúria disfarçada de clichê que sentencia diálogos sobre as mais variadas temáticas.
Defender a unicidade do termo é absurdo porque os Monty Python descortinaram o seu (The Meaning of Life) em 1983. Urge aos habitantes do globo desvelar também os seus próprios trilhos. A vida é uma música e o mortal comum é responsável pela sua composição, adornando-a com a poesia que demanda e com a melodia, sinfónica ou não, suave ou não, que pretende dela retirar. O rumo implode e só, posteriormente, detona. Rogos à primavera que buscamos, ao florescer dos sonhos e das meditações pessoais, semeando o mundo dos objetivos num pomar repleto de árvores enraizadas em novas aventuras e experiências que revestem a estátua de pele e osso que somos. E, quando a invernia nos visitar, poderá orquestrar o rapto, com conivência total porque “ao Destino ninguém escapa”.
Um génio escreveu, um dia, que há uma luz que nunca se apaga. Não quero invocar a religião com este mote, embora ela também componha o sentido pessoal ou até profissional. A análise recai sobre a vontade de viver, de pertencermos à transformação do mundo e à multiplicidade experimental que ele nos oferece, de sinalizarmos as pegadas nos mais extensos solos. O borbulhar da energia e a chama da vivacidade, empregando a intensidade característica impingida pelo momento vivido. Ah, as responsabilidades não são entrave a rigorosamente, os obstáculos surgem só e apenas como muros psicológicos e barreiras que a nossa sagacidade não é capaz de derrubar. Deixar fluir o decurso normal do rio, matar a sede quando a água surgir cristalina e despoluí-la sempre que turva se verifique.
A reflexão não aniquilou incertezas. Digamos que estiveram sob a companhia de uma filosofia de vida, morta por ser exteriorizada, e debatida. Porque o sentido de vida é pessoal e intransmissível e ao “Destino ninguém escapa”.