“The Brian Jonestown Massacre”: o homónimo atrasado
É recorrente ver álbuns homónimos no início de uma discografia, porém, os The Brian Jonestown Massacre não seguem esse modelo — só 24 anos depois do primeiro álbum decidem lançar o disco com o mesmo nome do que a banda. Não só por ser homónimo, mas também pelo que representa no percurso sonoro do grupo, este podia perfeitamente ser o primeiro lançamento. The Brian Jonestown Massacre não arrisca, não tenta chegar a lado nenhum, é só mais um número da discografia. Mesmo assim, há que apreciar o que há de melhor.
A listagem começa com “Drained”, faixa de abertura sobre aquele típico amor tóxico que descamba — e que serve bem como entrada. Não arrisca muito, mas tem um bom impacto inicial. Segue-se “Tombes Oubliées”, que na letra descreve o ciclo da vida virado do avesso e tem uma sonoridade mais clássica com vozes a cantar em francês por cima de uma guitarra reverberada. É uma faixa única no álbum e era bom se fosse este o tema que estabelecesse a base para todo o álbum. É uma música sóbria e que dá espaço na lista. Cresce em valor quantas mais vezes se ouve o álbum. Depois vem “My Mind Is Filled With Stuff”, uma faixa instrumental com percussão de sabor desgastado após a música anterior. A maneira como o som está misturado parece deixar a desejar. À medida que o tema progride, os motivos musicais começam a ficar claros e o gosto que deixa ao terminar ganha valor com isso. Mas não é memorável e aguentar o hi-hat escondido lá ao fundo é algo penoso.
“Cannot Be Saved” faz que as três anteriores soem a falsa partida — é uma voz ecoada sobre cordas determinadas que completam perfeitamente a percussão cheia de personalidade. A distorção típica do garage rock alia-se à pandeireta característica da banda de forma estupenda. “A Word” constrói-se por partes no início e, prometendo muito, perde-se na estagnação psicadélica a meio e não chega a lado nenhum até que se absorva o instrumental. “We Never Had a Chance” apresenta mais uma letra derrotista típica do género, mas com uma interpretação bem conseguida apoiada por um instrumental mais relaxado que torna esta faixa numa das mais sonantes do disco e, como “Tombes Oubliées”, é outra faixa única. De seguida, em “To Sad To Tell You”, continua-se o ímpeto do tema anterior: Newcombe volta à interpretação de qualidade numa música de destaque já embrenhada no espírito do álbum. É o ponto alto, é aqui que é suposto sentirmo-nos dentro do álbum e, de facto, há tudo para isso, naquela que é possivelmente a melhor música do disco.
Na saída, temos primeiro “Remember Me This”, que surge quando o álbum ainda estava a ganhar interesse e parece que o já querem acabar. Limita-se a desfazer a progressão estabelecida com as faixas anteriores e volta ao início, sobretudo na percussão. As guitarras podem ser chamativas e a bateria contagiante, mas quando a música acaba não resta nada. Depois temos “What Can I Say“, a última faixa, demasiado reminiscente de trabalhos anteriores da banda, no pior sentido possível. A interpretação menos ortodoxa nos vocais perde-se no instrumental clichê, atormentado pela pandeireta usada em várias faixas anteriores e que nos faz desejar o regresso de “Cannot Be Saved“, pois era por lá que mais valia ter ficado.
Indo buscar o ADN às origens da banda e não o conseguindo evoluir, o homónimo é algo monocromático e saturado sobre si mesmo, The Brian Jonestown Massacre varia o registo com demasiada segurança. Enquanto que há faixas dignas do historial da banda, poucas são as que impressionam realmente. Apesar de tudo, este é um lançamento com a capacidade de agradar aos fãs mais fiéis da longa discografia da banda. As letras não são nada de extraordinário mas este nunca foi o ponto forte do grupo. No final de contas, o coração do álbum encontra-se no meio, o início não cola e o fim não passa de dois retalhos do passado dos quais se retira pouca substância. Ficam “Tombes Oubliées” com a sua unicidade, “Cannot Be Saved” com o fulgor das suas guitarras, “We Never Had a Chance” com a interpretação refrescante e, no destaque, “To Sad To Tell You”, a estrela da listagem com a sua percussão climática e cordas variadas e harmoniosas.
À semelhança do álbum do ano transato, Something Else, quando posto ao lado do disco de há dois anos, Don’t Get Lost, este álbum em nome próprio sabe a pouco. Já com Something Else havia a sensação de saturação — parece que há um loop na criatividade da banda que está a ser, infortunadamente, consagrado a cada lançamento. Preso no tempo, The Brian Jonestown Massacre só vem assentar a ideia de que se vai afastando a marca que a banda deixou com Thank God for Mental Illness e o impacto de músicas como “Anemone”, “Malela” ou “(David Bowie I Love You) Since I was Six”.