“The Great Hack”: uma visão sobre o escândalo da Cambridge Analytica
The Great Hack, ou de título português Nada é Privado: O Escândalo da Cambridge Analytica é actualmente um dos grandes documentários e propostas que a Netflix tem no seu menu. Trata-se de um documentário essencial, não só por focar um dos acontecimentos históricos mais recentes, o escândalo que rodeou a Cambridge Analytica e a sua acção durante a campanha de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos da América, mas também pela análise ao que era, de facto, o seu “trabalho” neste processo.
A Cambridge Analytica ficou conhecida por usar e empilhar os dados de milhões de pessoas, criando autênticos “dossiers”, para fins de marketing estratégico em campanhas políticas. Obtidos primeiramente através do Facebook (Mark Zuckerberg é figura de proa no documentário), os dados eram posteriormente objecto de análise e determinariam fortemente a política de comunicação que era feita pelos agentes políticos para a captação de votantes, pertencessem eles a um eleitorado novo, apático, ou que, dentro de uma tendência de voto, não é fixo.
É ténue a linha que separa a consequente utilização desses dados da própria Democracia. Numa perspectiva facilitista há até, se quisermos, uma aproximação das pessoas ao acto democrático que é o voto. Existe em todo este processo obscuro, uma focalização da mensagem política para que esta chegue de forma clara e direccionada aos eleitores (previamente identificados ou não).
Se temos uma opinião sobre um assunto e há um político que, conhecendo essa questão, foca o seu discurso, isso será em teoria benéfico para nós, correcto? O que nos preocupa é abordado. Saberemos quem defenderá aquilo com que concordamos. Mas é somente isto?
O problema coloca-se quando se dá um fim errado, nomeadamente o fabrico dessa própria opinião através de conteúdo falso, seja através de imagens ou vídeos. Há portanto uma deturpação daquilo que a priori poderíamos acreditar. Aquilo que agora é a nossa opinião foi forjado, falsificado e construído por mentiras. Fomos corrompidos através dos nossos sentidos.
The Great Hack mostra-nos depoimentos de alguns dos principais rostos deste escândalo, como por exemplo Brittany Kaiser, ex-diretora de negócios da Cambridge Analytica e peça fundamental em todo o processo. Às tantas, Brittany refere que “a razão pela qual a Google e o Facebook são as empresas mais poderosas do mundo é porque, agora, os dados valem mais do que petróleo. É o ativo mais valioso na Terra.” Chega para assustar. Lidamos com o desconhecido e embrenhamo-nos nele todos os dias, repetidamente.
Um documentário urgente e obrigatório, da autoria de Karim Amer e Jehane Noujaim, dupla já anteriormente nomeada aos Óscares por The Square.