Conan Osiris no Coliseu dos Recreios: o espelho de um artista inigualável
Se ainda existiam dúvidas sobre o fenómeno Conan Osiris, foram afastadas com a sua estreia no Coliseu dos Recreios. A música de Tiago Miranda, aquela que encanta gregos e enfurece troianos, acompanhada por um quarteto de cordas e o flautista Sunil Pariyar, foi o comburente para um espectáculo visual explosivo em formato arena, proporcionado por João Moreira, o fiel companheiro de Miranda nas actuações ao vivo, e pela equipa de dançarinos Team Bolo de Arroz. Entre mudanças de visual e coreografias extenuantes, Conan Osiris consagrou-se perante os seus “bebés” numa experiência completa e memorável, ao seu jeito e ao seu estilo.
Ao longo de todo o espectáculo, esteve presente uma teatralidade que mostrou esse jeito e esse seu estilo. Vimo-lo na maneira engenhosa como misturou a alta costura com a streetwear, ou o tradicional com as novas tendências musicais: a seguir a “Titanique”, observou-se um grupo de Pauliteiros de Miranda numa dança coreografada com direito a gaita-de-foles e bombo. Mas essa característica esteve especialmente óbvia na maneira como Conan Osiris aproveitou o espaço do Coliseu. Em “Avé Lágrima” vimo-lo no camarote principal a observar a luta dançada de João Moreira e a Team Bolo de Arroz, e em “Nada Nada Nada Nada” os dançarinos distribuíram-se pelos camarotes, iluminados de forma solitária, a sua dança a enaltecer a melodia entoada pelo cantor no centro da sala.
Houve espaço para algumas surpresas nas músicas do costume até e para algo nunca antes tocado. “Telemóveis” juntou a voz de Tiago Miranda a um belíssimo e inédito acompanhamento de cordas que trouxe ainda mais sofrimento para a música que o levou ao festival da Eurovisão. Já o artista trouxe Ana Moura e Branko para “20 20”, um novo tema que mostrou que o seu futuro musical continuará a prosperar. Mas o seu presente teve o merecido foco principal, com Adoro Bolos em grande destaque. A faixa título teve direito à primeira estrondosa ovação da noite e “Celulitite” a segunda, música que culminou num entusiasmado refrão a cappella cantado em sintonia com o público.
A terceira e última ovação surgiu no terno momento que terminou o espectáculo, com “Amália” recebida carinhosamente por todos os presentes na sala. Um curto e tímido “obrigado” seguido de vénias honrosas num ritual circular, foi assim de forma humilde e visivelmente tocado por todo o apoio que sentiu que Conan Osiris terminou o espectáculo . O encore foi de espera curta e alta intensidade, com “Telemóveis” de volta, desta vez a ribombar na sua versão original. “Tudo com o cu levantado!”, ordenou o autor, mas era escusado: os lugares sentados há muito que já tinham sido esquecidos, foi um concerto que se viu e se sentiu de pé.
No final, a fila era grande para o meet and greet prometido, e não faltaram rosas, selfies, autógrafos, beijinhos e abraços para todos os fãs. Para uns, Conan Osiris é semelhante ao deus que ostenta no nome, para outros exactamente o oposto. Às vezes parecemos não ver um meio-termo, e o mesmo acontece com a atitude de Conan: all in, sempre resiliente e altivo. E a performance daquela noite espelhou fielmente essa personalidade curiosa de um dos mais inventivos artistas da música portuguesa actual.