Opinião. Tratem as pessoas com respeito
Ao longo das nossas vidas, vamos tentando fazer o melhor para nós e para os nossos entes queridos. Acordamos cedo, trabalhamos arduamente, chegamos já quando a lua vai iluminando o céu, sem que a devida atenção seja muitas vezes dada aos nossos filhos e restantes familiares.
O nosso período neste planeta é muito disto. Aos poucos, com o dinheiro que vamos amealhando, vamos fazendo pequenas conquistas. Compramos um carro, uma casa e, entretanto, vamos conseguindo melhorar as nossas condições de vida, com muito suor à mistura. Tudo aquilo que alcançamos tem imenso valor, porque foi algo por nós conquistado.
Esta é a vida que muitas das pessoas que vivem nas aldeias ribeirinhas do Baixo Mondego levam. Nada lhes foi dado. Vivem da agricultura e do emprego nas fábricas. Muitas habitam ali desde criança e por lá construíram a sua vida. Sem auxílio dos senhores que decidem o que fazer lá longe em Lisboa.
Recentemente, as depressões Elsa e Fabien, que assolaram o país, levaram às cheias naquela zona, onde várias casas foram ameaçadas após a subida das águas do rio. Numa autêntica tempestade, a população lutou como pode contra a força inquestionável da Natureza. Para auxiliar, veio da capital o ministro do Ambiente João Pedro Matos Fernandes. A sua deslocação é de salutar, mas as palavras por si proferidas foram tudo menos realistas. Afirmou o ministro que as pessoas destas aldeias deviam pensar em mudar de zona de habitação por estarem numa localização de risco. Dito assim. Sem rir.
Posto isto, venho alertar todos os habitantes de Lisboa para que façam imediatamente as malas e abandonem a cidade o mais rapidamente possível. É que a capital do nosso país corre risco de, a qualquer momento, acolher um terramoto, como o de 1755. Não é novidade para ninguém que mais tarde ou mais cedo irá acontecer, pelo que lanço o repto para que, aos poucos, vão encontrando alternativas. Mas não se preocupem. Pelo modo leviano como o ministro fala, não deve ser difícil.
As palavras do ministro do Ambiente são preocupantes, na medida em que é um claro exemplo da incapacidade das pessoas do Governo em descer ao Portugal real, das aldeias e das pessoas com poucos rendimentos, a quem ganhar a vida custa imenso. É por declarações como esta que a população se vai cada vez mais afastando e olhando de lado para quem governa, muitas vezes com desdém.
Só peço que tratem as pessoas com respeito. Pedir às pessoas para abandonar as suas casas sem apresentar soluções ou mecanismos chega a ser ridículo. Cheguei inclusive a ver na televisão um senhor a oferecer a chave de sua casa. Infelizmente, há pessoas que, quando estão num pedestal, não conseguem descer e conviver com a realidade. Não brinquem com aqueles para quem todos os dias são uma luta. Portugal não é só Lisboa.