Quarentena. A Irmandade dos Isolados

por Rui Cruz,    18 Março, 2020
Quarentena. A Irmandade dos Isolados

Rui Cruz é humorista, stand up comedian e um génio (palavras dele). Escreve coisas que vê e sente e tenta com isso cultivar o pedantismo intelectual que é tão bem visto na comunidade artística.

Então cá estamos de novo, não é? Isto já nem parece uma quarentena, parece um Groundhog Day sem um Bill Murray a fazer macacadas. Mas nem tudo é mau. Por exemplo, hoje ainda não vesti calças e conheci 3 sites novos de porno. É preciso é pensar no copo meio cheio. Pensando bem, esta frase é capaz de não soar muito bem depois daquilo do porno…

Bom, o que é certo é que continuamos fechados em casa, isto se não forem americanos. Lá parece que a malta anda mais relaxada. Inclusivamente, ontem houve uma corrida às armas lá nos EUA. E é por isso que eu não percebo esta histeria com uma vacina quando afinal, pelos vistos, dá para matar o vírus à cartuxada. Não percebo nem isso, nem como é que as pessoas ainda se espantam com o Trump ter ganho as eleições naquela CERCI em forma de país.

Pelo menos cá as coisas estão mais controladas. E surrealistas. Acordar com a notícia que Ovar está fechado é daquelas coisas que nos fazem pensar que estamos num filme do Buñuel, mas escrito em parceria com o Guilherme Leite. Ovar?! É que nem no meio de uma pandemia conseguimos ter um bocadinho de classe. O que é que vem aí a seguir, cura encontrada em Moscavide? E se era para fechar Ovar, não podíamos ter começado um mês antes? Sempre nos poupava aquele desconforto que é ver portuguesas sem ritmo natural a tentarem sambar na rua com as estrias à mostra e em pré hipotermia.

Mas agora parece que a coisa já não vai ficar por Ovar. Pois é, o país vai entrar em estado de emergência porque o casos aumentaram e já estão um pouco por todo o lado. Porquê? Porque o pessoal de Leshboah e Puortú decidiu que fazer quarentena em casa era giro, mas aproveitar as “férias” para irem todos para a terrinha dos pais e dos avós era bem mais giro, porque lá há hortaliças e bezerros. E nem sequer estou a falar dos filhos.

Agora é ver como vai correr isto do estado de emergência. Há quem esteja com medo, há quem esteja relaxado e depois há gajos como eu, que seguem as indicações todas, lavam as mãos, desinfectam com álcool, usam máscara e tudo e tudo… e quando decidem tirar 3 minutos para vir fumar ao jardim, começam a sentir coisas a caírem-lhe na cabeça, olham para cima e veem que é o vizinho de cima a cortar as unhas dos pés à janela. E é por isso que ter esperança é muito complicado.

Bom, e como isto parece que está para durar, aqui ficam mais algumas sugestões para passar o dia:

Comédia:

Vasco Duarte e Rui Cruz – Matrix FM

Música:

Djo – Twenty Twenty

Cinema:

Win Wenders – Der Himmler über Berlin

Literatura:

Raymond Carver – Catedral

 

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