“The Plot Against America”, uma realidade alternativa bem actual
Em 2004, Phillip Roth publicava o livro The Plot Against America, onde Franklin D. Roosevelt perde as eleições de 1940 para Charles Lindbergh. Em 2020, David Simon e Ed Burns criam e adaptam para minissérie esta história alternativa lançada agora pela HBO. Tendo em conta o ano e a década em que esta série ocorre entendemos que estamos perante uma alternativa imaginada por Roth, sobre a não participação e até certo ponto sobre a conivência dos Estados Unidos da América para com a Alemanha nazi.
Infelizmente a adaptação acaba por nos mostrar que o que foi imaginado e efetivamente não ocorreu, pode muito bem vir a ocorrer. E é com esta premissa que temos presentes várias personagens em quem nos conseguimos rever e questionar sobre qual seria a nossa participação nos eventos que nos são mostrados.
A série segue uma família judaica, em Newark, New Jersey, durante a ascensão de Charles Lindbergh a presidente dos Estados Unidos da América e as políticas fascistas que, paulatinamente e de modo aparentemente inócuo, vão sendo implementadas. Elizabeth Levin interpretada por Zoe Kazan, e Herman Levin por Morgan Spector são o casal central desta história que conta também com Winona Ryder no papel de Evelyn Finkel e John Turturro como Lionel Bengelsdorf o líder religioso.
Nos seis episódios é demonstrado como possuir nacionalidade americana não é um passaporte para se pertencer a este país, e que alguns americanos o são mais que outros. Esta temática é-nos violentamente apresentada através de Herman Levin, que sente na pele o quanto as suas decisões, enquanto patriarca da família, afetarão diretamente aqueles que ama. Elizabeth Levin mostra-nos também como é possível manter o pragmatismo e cuidar dos outros quando o mundo que conhece e habita acaba ano após ano a desmoronar. Zoe Kazan é extremamente convincente e muitos dos pontos altos desta história são devido à sua prestação decisiva e de qualidade invejável, com especial destaque para a cena onde a chamada telefónica que mantêm com outra personagem captura todo o terror dos tempos que estão a viver.
A história protagonizada por Evelyn e Lionel é contudo a que certamente oferece mais lições sobre a nossa realidade atual. A vaidade e a idiotice de quem pensa controlar o tipo de movimentos políticos fascistas tão bem retratados neste adaptação. Ambas as personagens irão certamente provocar ressentimento e amargura no espectador. É com estes sentimentos que nos debatemos sobre todos os convites e oportunidades que estas personagens recebem ao longo da história. Seriam estes também aceites por nós?
The Plot Against America é sobre todas estas relações familiares e a mutação das mesmas durante os tempos políticos conturbados que tornam esta série aliciante. Apesar da temática negra e de história ficcionada filmada em tons sépia, estamos perante um óptimo produto de entretenimento. Trata-se em última análise de um somatório de diversos dramas familiares que têm que ser atendidos e resolvidos devido aos novos constrangimentos que atingem esta família. É, infelizmente, impossível não traçar um paralelismo entre esta obra de ficção e a realidade hoje em dia. Certas cenas representadas relativas às teorias da conspiração, a todos os discursos deste presidente ficcionado e o que atualmente habita na Casa Branca são apavorantes e acabam por não transparecer um paralelismo forçado por parte dos criadores.
Em The Plot Against America, enquanto seguimos as diferentes histórias desta família, bem como as diferentes personagens que as rodeiam, ficamos a entender que a política é definitivamente pessoal e tem um impacto direto nas relações e no futuro de todos e cada um nós. Por isto mesmo devemos sempre manter-nos atentos, porque o ar do tempo a isso nos parece obrigar.